sexta-feira, 31 de agosto de 2018

MEMÓRIAS DE UM PROFETA - CAPÍTULOS 14, 15, 16 E 17

CAPÍTULO QUATORZE
Os estudos esotéricos de Gibran seguiam por diversos rumos, sem limitações ou preconceitos. Teosofia, taoismo, budismo e, agora, xamanismo. Nada conseguia surpreender Gibran, ele absorvia os novos conhecimentos com absoluta naturalidade.
Gibran ficou encantado com o fato de que os xamãs acreditam que todos podem se comunicar com os Espíritos das coisas ou pessoas. Ele aprendeu que é possível ser ouvido pelo vento, pela chuva, pela luz e pelo calor.
Essas estranhas verdades eram confirmadas em livros escritos por cientistas que repetiam os mesmos conceitos. Num livro sobre anjos, Gibran soube que os devas revelaram isso para uma mulher que conseguia se comunicar com eles.
O xamã usa a imaginação para exercer o seu poder, e o faz com plena convicção de que o fato pensado ou a imagem visualizada é a verdade inquestionável. Não se trata de promover uma ilusão ou criar uma fantasia, mas de aceitar como uma realidade física a vontade projetada pela mente.
Os primeiros passos sobre o poder da visualização criativa estavam sendo experimentados, e dando os primeiros bons resultados. No tratamento de doenças psíquicas, área de sua especialização, ele já ouvira falar de curas. Mas, em tratamentos de doenças no corpo físico, já se ousava imitar os rituais xamânicos.
Gibran se aprofundou nas práticas xamânicas, e se impressionou com os conceitos que ele mesmo defendera na faculdade, que a doença, psíquica ou física, é um desvio do que seria a saúde natural de todos nós. Tratá-las com drogas seria uma anomalia e uma agressão ao corpo físico. O correto seria o uso da força da mente e dos rituais mágicos.
A reconquista da saúde exige mudança de hábitos e novas posturas mentais. A saúde é o efeito perfeito de hábitos saudáveis na forma de se alimentar e de pensar. A cura de todos os males está dentro da mente de cada um de nós. Os xamãs creem nisto, e Gibran caiu em si que ele também acreditava nessa realidade.
Enquanto refletia sobre o que lia, Gibran adormeceu, ou julgou que o fez. Quando despertou, viu que havia escrito uma saudação que tinha sido dirigida a ele, e fora assinada como de autoria do Grande Chefe Xamã.
Ele esfregou os olhos, num ato típico de quem acabou de acordar, e pôs-se a ler.
Respeita o teu Criador, Irmão, entendendo ser Ele o criador de todas as coisas. Ama o ar que tu respiras com o respeito que deves ter por tudo que representa vida. E nada é mais simbólico do que o ar, quando se deseja mostrar um sinal do que é a vida. Ama o solo onde pisas, lembrando-te que nele habita a força que rege o alimento que te mantém vivo. Ama a água que brota pura do interior da terra. Ama o fogo que aquece as tuas noites e que cozinha o teu alimento, tornando-o sagrado para o teu corpo. Ama o teu irmão, o bom e o mau, o feio e o bonito, o sábio e o estulto, o rico e o pobre. Ama o teu Deus e com Ele estarás comungando com tudo o mais que te cerca. Ou, se preferires, ama a Natureza, e com ela estarás amando os teus irmãos de todos os reinos, e o teu Criador que é a síntese de tudo. Os dias são cristais que nascem no interior do coração do Grande Senhor do Mistério da Vida. As noites são os mantos que cobrem a luz, para que os Mestres da Sabedoria meditem em paz sobre o dia que passou e sobre aquele que está chegando. Entrega os teus pensamentos ao sabor do vento que traz a mensagem do Grande Chefe Espiritual. Sente o perfume do ar, pois é ele o sinal das boas novas trazidas por teu irmão, o Vento. Ouve os pássaros que cantam as suaves canções que descem das Altas Esferas para despertar os sentimentos adormecidos nos corações da humanidade. As sete cores no céu são como um arco pronto para disparar a flecha sagrada que há de atingir os sentimentos mais profundos da humana criatura. Depois deste ritual, desperta os teus sentidos e olha em volta de ti, e reconhece entre os que vivem ao teu redor as energias sagradas que se desprendem de teus irmãos, filhos da Natureza. Somos todos irmãos, e nada existe entre o céu e a terra, e além dos limites da tua imaginação que não tenha sido criado pelo Grande Senhor da Criação, o Grande Chefe de todos os Universos. Reconhece a tua divindade, e a fraternidade que deves a todos os que te cercam, pois são teus irmãos. Ora em silêncio para ti mesmo, porque tu és o centro das consolações das tuas dores. Pede ao teu Mestre que te alce ao infinito das alturas para que possas admirar o espetáculo da Terra, irmanada em amor após a tua oração, e a tua energia estendendo-se até os limites das terras deste planeta. Tu és o Deus tão sonhado por tantos fiéis. Tu és o bem e o mal. Tu és o feio e o bonito. Tu és o início e o fim desta raça. Porque tu és um deus. És parte do Todo e, por isto, és o Todo. A Mãe Natureza está em ti. A Mãe-Terra está em ti. Os filhos da Terra estão em ti. Tudo está em ti. Porque tu és abençoado, o Deus está em ti. Assim, eu te digo, ama a tudo, e todos te amarão.
Gibran suspirou fundo, e buscou Helga, no fundo do quintal, para recitar o texto em voz alta, e fazê-la envolver-se também em toda aquela magia. Helga ouviu-o calada, balançou a cabeça, como que aprovando o que ouvira, e voltou ao seu trabalho na terra. Gibran retornou ao seu gabinete de leitura, e prosseguiu nos seus estudos. A mensagem fora absorvida pelo casal, cada qual em sua área de trabalho.


CAPÍTULO QUINZE
O tempo passava, Gibran estudava e Helga cuidava da terra. A magia de Gibran estava na mente e de Helga nas mãos. Ele celebrava rituais no astral, ela no físico. Ambos entravam em êxtase a cada celebração, entusiasmados com seus progressos espirituais.
Os anos se passaram sem que eles percebessem muito bem o que estava acontecendo no mundo lá fora. A cada ano que se aproximava da época prevista pelo Mestre para o início de uma grande guerra, o mundo fervilhava com conflitos e alianças. Países se uniam contra outros, alianças eram feitas e desfeitas, ao sabor de interesses desta ou daquela nação.
As anotações de Gibran formavam pilhas de folhas manuscritas, umas assinadas por ele, outras pelo Mestre. Nas dele, Gibran anotava o que lia e fazia seus apontamentos sobre os ensinamentos do Mestre. Nas que recebiam a assinatura do Mestre, apareciam orientações, conselhos e previsões de fatos a ocorrer naquela vida e na próxima vida do casal.
De uns tempos em diante, as mensagens do Mestre passaram a se voltar para a preparação dos dois, para a próxima encarnação. O Mestre dava detalhes e oferecia explicações sobre como Gibran e Helga deveriam agir quando se dessem conta que haviam reencarnado no Brasil.
O ano seria de 1944, um nasceria no início e outro no fim. Seriam educados sob os mesmos princípios de ética, moral e religião, por pais de origem portuguesa. O Mestre justificava cada previsão, e pedia a Gibran que passasse os esclarecimentos para Helga.
Antes da futura reencarnação, havia os fatos que iam ocupar seus últimos anos na Alemanha. Juntos e felizes, eles não seriam afetados pela guerra, mas sofreriam os medos e angústias dos habitantes do planeta.
Os seus filhos não participariam da guerra, pois seus karmas não os comprometiam com as causas que envolveriam as nações em luta. Apesar da garantia do Mestre, Gibran e Helga não ficavam muito à vontade, quando sentiam a aproximação do momento previsto pelo Mestre para o início das hostilidades.
Corria o ano de 1912, quando as mensagens do Mestre se tornaram mais constantes, intensas e tensas. Gibran passava o dia inteiro, desde manhã até, às vezes, pela madrugada, escrevendo sem descanso.
O Mestre passou a lhe contar o que estava programado para o futuro da humanidade. O Mestre avisou-lhe que esses relatos ficariam adormecidos no seu inconsciente, e que seriam recordados aos poucos. A nossa alma, disse-lhe o Mestre, guarda tudo que a personalidade vê, ouve ou sente, mas a lembrança não fica no nível do consciente, nas vidas seguintes. Mas, são ativadas, à medida que ocorre a expansão do nível de consciência.
Dia após dia, durante mais de um ano, Gibran anotou tudo que lhe chegava à mente, e que recebia a assinatura do Mestre Saint Germain. As revelações não se referiam somente à futura encarnação do casal, mas, também, aos fatos que viriam a ocorrer antes e durante esses tempos futuros.
Gibran recebeu todas as explicações sobre as causas e os efeitos da guerra que se aproximava, e que ia provocar muitas mortes e destruições em diversas nações. A Alemanha estaria diretamente envolvida na luta, mas os sinais da guerra não seriam percebidos em Stuttgart, na região onde eles moravam.
De 1914 a 1919, o mundo conheceria os dramáticos efeitos do que seria conhecida como a primeira guerra mundial. O mundo estaria, pela primeira vez, envolvido com uma guerra que afetaria não uma região ou alguns poucos povos e nações, mas o mundo inteiro.
O Mestre passou-lhe algumas recomendações, que não deveriam ser comentadas com ninguém, nem mesmo com Helga. Esse tipo de recomendação passou a acontecer, a partir daí, por diversas vezes. Gibran tomava cuidados especiais, marcando com uma tarja vermelha os escritos que continham tais recomendações. E os guardava separados dos outros, para não correr o risco de comentá-los com Helga, quando conversavam à noite sobre as misteriosas mensagens.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Helga começou a desconfiar que Gibran recebera revelações mais importantes, sem que ele as contasse para ela. O seu sentido feminino dizia que se tratava de fatos assustadores, e que ele queria poupá-la. Em parte, ela tinha razão, mas não completamente.
O Mestre era o responsável pelos segredos. Ele não queria pôr a vida de Gibran em risco. Se soubessem que ele tinha o dom de profetizar o que viria a acontecer no futuro, logo seria assediado e teria a sua vida ameaçada.
Gibran percebeu as desconfianças de Helga, e tratou de tranquilizá-la. Explicou-lhe as razões do Mestre, e pediu-lhe paciência, enquanto ele processava as informações. Prometeu-lhe revelar o suficiente para que entendesse o que viria a acontecer num futuro próximo. Mas, principalmente, comprometeu-se a deixá-la a par de tudo que tivesse a ver com a vida deles na próxima encarnação.
Os detalhes da guerra ficaram sob o selo secreto, e nada foi comentado. Helga também não se interessou pelo assunto. Ela preferia não se inteirar de fatos que provocariam tantas desgraças e sofrimentos. A única informação dada foi sobre o período em que o mundo viveria a conturbação do conflito. Em 1914, as batalhas teriam início, e em 1919, tudo teria terminado.
Helga queria saber apenas o que seria deles e dos filhos. Ele tranquilizou-a, informando que o Mestre afirmara que eles desconheceriam os pavores da guerra. Como isso ia acontecer, o Mestre não revelara, mas, pediu-lhe que confiasse em suas palavras. E foi o mesmo que Gibran pediu a Helga. Ela confiou no marido, tanto quanto ele confiara no Mestre.
Os tempos de guerra se prenunciavam para os alemães, mas a vida do casal seguia a mesma rotina, com estudos espirituais e trabalhos na terra. Gibran lia muito, e não menos escrevia. Helga cuidava da casa e da terra, fazendo de ambas as tarefas uma motivação para a sua fé. Gibran era um místico, e sua fé se voltava para os mundos ocultos. Helga, uma naturalista convicta, e que via na Natureza a presença divina na matéria.
Depois da guerra, o fato mais marcante seria a grande depressão econômica que abalaria a sociedade mundial. Ricos ficariam na pobreza da noite para o dia. Impérios e fortunas desapareceriam num piscar de olhos. As riquezas conquistadas sem trabalho e através de especulações e explorações desapareceriam. A miséria tomaria conta do mundo.
Helga ficou muito assustada com o relato sobre a depressão econômica, e quase a antecipou para si, não economicamente, mas psicologicamente. Gibran consolou-a com as palavras do Mestre: “são papéis que serão queimados, para obrigar a humanidade a valorizar o trabalho”.
Helga acalmou-se, quando entendeu que aqueles que retiravam seus sustentos do trabalho, e não da exploração da cobiça alheia, seriam preservados. Eles não viviam de investimentos ou especulação financeira, mas de plantar e colher seus alimentos. A vida deles era simples, e podiam viver da terra e no campo. E, a vida continuou, sem mudanças. Os dias passavam, e eles trabalhavam. A guerra chegaria e a guerra acabaria. Os filhos ficariam bem, como o Mestre havia antecipado.
A depressão econômica seria para bem mais tarde, dez anos após o fim da guerra. Nesse meio-tempo, Gibran escreveria sem parar, preenchendo calhamaços de folhas de papel. Helga ganharia calos nas mãos de tanto mexer na terra. Ambos eram muito felizes.
O tempo passava. Gibran e Helga passavam com o tempo.


CAPÍTULO DEZESSETE
Gibran se reunia com os poucos amigos que se interessavam pelos mesmos mistérios que tomavam grande parte do seu dia. Às noites de segunda e sexta, ele e mais seis se encontravam para falar de suas experiências.
Uns descreviam trechos de livros que tinham lido após a última reunião. Outros descreviam sonhos misteriosos, em que símbolos e vozes se misturavam para revelar fatos futuros ou, simplesmente, ofertar conhecimentos. O centro das atenções, porém, era Gibran, que mostrava as anotações feitas, em suas conversas com o Mestre.
As reuniões entravam pela noite, e quase sempre acabavam na primeira hora da madrugada. Helga já dormia, quando, esgotado física e mentalmente, Gibran deitava-se ao seu lado, e mal tinha tempo de abraçá-la, antes de pegar no sono.
As mensagens do Mestre tornavam-se, a cada dia, mais intensas e profundas, abordando os fatos presentes, mas, dando mais ênfase ao tempo futuro, quando Gibran reencarnaria no Brasil. A justificativa era que, Gibran deveria reencarnar sabendo de tudo que viria a acontecer, ainda que sem a consciência perfeita da lembrança e sem saber explicar as origens dessas recordações.
No sábado seguinte à última reunião, o Mestre falou-lhe da segunda grande guerra que ia começar antes de Gibran reencarnar, terminando cerca de um ano depois de renascer. Seria um conflito terrível que envolveria muitas nações, a maioria delas lutando contra a Alemanha e a Itália.
Gibran recebia essa mensagem com indignação, à medida que ia escrevendo e tomando conhecimento de um confronto sangrento, bem pior do que seria o primeiro. A revolta dele vinha do fato de que partiria da Alemanha a agressão aos países vizinhos e, a seguir, a invasão de nações mais distantes. Adolf Hitler seria o líder do povo alemão que levaria a nação para uma desastrosa aventura, que tinha como meta dominar o mundo.
Gibran foi informado de todas as razões alegadas por Hitler para convencer a nação alemã a deflagrar essas agressões a povos despreparados para reagir às invasões. As alegações contra a raça judia foi explicada detalhadamente pelo Mestre, que abordou suas origens, muitas delas desconhecidas do mundo, e que jamais seriam reveladas.
O Mestre falou dos estudos místicos de Hitler, e que havia muito mais mistério por trás das suas incursões de guerra do que se poderia imaginar. Hitler detinha conhecimentos sobre o uso de poderes de magia e pretendia expandir o seu domínio sobre os mundos ocultos, apossando-se de regiões e recantos da Terra que irradiavam energias alimentadoras desses poderes.
A ira de Hitler contra o povo judeu não tinha suas causas relacionadas a uma sua possível origem judia, como alguns imaginam. Ele sabia que o povo judeu era uma raça cósmica que, assim como os maias, se transportavam de um mundo para outro, cada qual com suas razões próprias.
Enquanto os maias surgiam num planeta com a missão de preparar a raça para futuros processos de evolução, os judeus tinham propósitos evolutivos voltados para si mesmos, sem a mistura genética, que caracterizara a proposta dos kumaras venusianos e sem as revelações projetadas pelos maias.
Mestre Saint Germain detalhou para Gibran as existências de povos desse tipo, que visitam os planetas, de tempos em tempos, e depois vão embora, deixando resíduos e sinais de suas passagens. Comparou-os aos ciganos, que são conhecidos como precursores de novos tempos ou de sérias mudanças numa região da Terra. Eles anunciaram o nascimento de um novo Cristo, quando Jesus nasceu. Três reis ciganos foram levar presentes ao novo Cristo, e reverenciá-lo em nome de toda a nação cigana.
Gibran escrevia sem parar, e tentava acompanhar os segredos revelados com a mente aberta para o infinito, sem filtragens ou censuras. Se tentasse racionalizar, sua mente não suportaria a pressão, se procurasse entender com os seus parcos conhecimentos psicológicos ou científicos, seria incapaz de prosseguir.
Voltando à guerra, que teria início em 1939, e que perduraria até 1945, o Mestre revelou as verdadeiras razões para que o povo alemão viesse a entregar o poder nas mãos de Hitler, e do ditador ter perseguido com tamanho ódio o povo judeu.
Hitler era um homem medíocre, porém um espírito ambicioso. Por trás da mediocridade humana, existia uma poderosa grandeza espiritual, sobrecarregada de karmas passados e ressentimentos presentes.
Ele sabia toda a verdade sobre os riscos representados pelos judeus à nação alemã. A economia alemã se submeteria ao jugo dos interesses judeus, ficaria atrelada para sempre ao seu domínio, como viria a ocorrer com a sociedade norte-americana.
Muitas das revelações eram veladas, e não puderam ser expostas nas reuniões de Gibran, e nem poderão ser anunciadas aqui, pois, os mistérios são para ser desvendados, no entanto, os segredos não são para ser contados.
Com o final da segunda guerra, o povo alemão seria humilhado pelas nações vencedoras, que repartiriam o seu território, distribuindo uma fatia para cada um. Irmãos seriam separados por um aviltante muro, que os fariam prisioneiros de sua vergonha. Um povo, que já havia sido tão poderoso e respeitado, se tornaria um aglomerado de derrotados, aprisionados em suas próprias casas.
Hitler, contrariando a história oficial, foi assassinado por seus oficiais mais próximos, encarregados da sua defesa. Morto o ditador, seus guarda-costas se despojaram de suas vestes militares, e se misturaram com o povo, à espera da chegada das tropas aliadas.
O mistério da morte de Hitler tornou-se a segurança de sobrevivência desses oficiais quase desconhecidos, por exercerem funções secretas, desconhecidas até mesmo dos principais comandantes nazistas.
Gibran, esgotado e com dificuldade de processar todas essas revelações, pediu uma trégua ao Mestre, que o atendeu de pronto, interrompendo o circuito que os unia. Gibran dedicou aquela tarde a uma longa caminhada ao lado de Helga, tratando de se entregar à bela natureza à sua volta, que admirou como nunca antes o fizera, provocando comentários elogiosos de Helga.
A mente dele precisava de chão, de terra e de matéria física, para que pudesse se sentir vivo e no tempo certo em que estava encarnado. Helga olhava-o admirada, sem saber o que se passava na mente dele. De repente, ele se voltou para ela: “Em que ano nós estamos?” Helga arregalou os olhos, e respondeu: “A sua pergunta me assusta, eu acho que é 1913, mas já nem tenho tanta certeza”.
Gibran suspirou um suspiro cansado, e disse-lhe: “Eu precisava ouvir isto, pois não conseguia me livrar dos campos de batalha e dos campos de concentração, que me prendiam a uma trágica época que só vai terminar depois que eu houver renascido.” Helga não entendeu muito bem, mas abraçou-o, e desviou a conversa para um bosque em flor, que refletia o amarelo das flores aguçado pelo dourado do sol de fim de tarde.
E, era o fim de mais um dia.


8 comentários:

  1. Memórias de um Profeta tem sido bastante interessante, porque nos reporta a dois mundos distintos. Neste balanço entre passado e futuro ou presente e passado, vamos nos embriagando nas nuances e sutilezas dessa história que envolve personagens e números.
    Quero hoje apenas comentar um assunto, que particularmente me toca, surgido logo de início no capítulo XIV, quando Gilbran estava envolvido na possibilidade de tratar doenças psíquicas ou físicas de uma maneira diferente da tradicional, ao entender que o tratamento com drogas seria uma anomalia pela agressão ao corpo físico, produzido pelos medicamentos. O uso da força mental e de rituais mágicos seria mais adequado. A reconquista da saúde exigiria uma mudança não somente de hábitos como também de posturas mentais. É uma proposta que faz sentido.
    Eu que passei grande parte de minha vida combatendo as doenças, mas de maneira tradicional, usando medicações bastante agressivas, pois se tratavam de doenças agressivas, estou tentando me desconstruir de um saber para poder absorver um outro completamente novo.
    O conceito da gênese das doenças estar ligado aos maus hábitos alimentação ou de viver não poderiam estar relacionados àqueles que eu tratava por conta da faixa etária, mas certamente outros não comentados e possivelmente explicados através de heranças genéticas ou kármicas.
    Também do ponto de vista pessoal tenho de reaprender o meu próprio cuidar, ver minhas mazelas sob um outro olhar. É bem provável que não tenha tempo suficiente para me recondicionar, mas não deixaremos de tentar.
    Não é fácil, mas é um aprendizado desafiador. O conhecimento da Numerologia nos ajudará, como sempre enfatiza o Mestre, a conhecer a nós mesmos e certamente nos tornarmos pessoas melhores.

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  2. Gostaria de ressaltar esta parte do texto onde o autor parece estar falando diretamente conosco :

    "Respeita o teu Criador, Irmão, entendendo ser Ele o criador de todas as coisas. Ama o ar que tu respiras com o respeito que deves ter por tudo que representa vida. E nada é mais simbólico do que o ar, quando se deseja mostrar um sinal do que é a vida. Ama o solo onde pisas, lembrando-te que nele habita a força que rege o alimento que te mantém vivo. Ama a água que brota pura do interior da terra. Ama o fogo que aquece as tuas noites e que cozinha o teu alimento, tornando-o sagrado para o teu corpo. Ama o teu irmão, o bom e o mau, o feio e o bonito, o sábio e o estulto, o rico e o pobre. Ama o teu Deus e com Ele estarás comungando com tudo o mais que te cerca. Ou, se preferires, ama a Natureza, e com ela estarás amando os teus irmãos de todos os reinos, e o teu Criador que é a síntese de tudo."

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  3. Meus queridos amigos, Avelino e João Sérgio:
    As considerações dos dois me mostram o valor e a extensão da Numerologia, quando buscamos um sentido na vida e em nossa presença como parte desta vida.
    Ao Avelino, um agradecimento por suas sábias palavras que revelam como a inteligência e a sabedoria podem se tornar uma única verdade.
    Ao João Sérgio, por destacar uma saudação e ao mesmo tempo uma oração, que me foi inspirada e quase que ditada para que eu a copiasse.
    A história não é fictícia e nem real, é algo que me surgiu num certo momento da minha vida, como uma revelação do oculto para o físico.
    Que cada um extraia o melhor da revelação.
    Abraços.
    Gilberto.

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  4. Olá Mestre, destaco desses capítulos que o que mais me chamou atenção e me fez pesquisar foi sobre o xamanismo. Sempre extraímos mais conhecimento lendo seu blog, e dessa vez através de Memórias de Um Profeta que nos faz refletir, emocionar, aprender e desfrutar de singularidades tão bonitas para nós iniciados. A parte que João Sérgio destacou mais uma vez me emocionou, senti profundamente como se fosse encaminhada e ditada por um ser superior que vigia e nos guarda, orgulhoso por valorizarmos as pequenas coisas da vida e nos preocuparmos com o mundo que é nossa casa nessa encarnação. Os caminhos se cruzam e nos envolvem numa narrativa distinta e mágica...
    Abraços!

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  5. Meu querido Mestre,

    a história (as várias histórias) se vai (se vão) desenrolando e notamos o cumprimento da missão e o caminho que levará a uma próxima vida e a um caminho de origem que se iniciará no Brasil.

    Me emocionei em vários pontos do texto: a oração do Grande Chefe Xamã me fez evocar Chefe Seattle, mas também o meu querido São Francisco de Assis e a sua maravilhosa oração das criaturas.

    Acho esta história também um diálogo muito bonito entre o céu e a terra, uma espécie de axis mundi entre o mundo das plantas (Helga) e o mundo de Gibran (o céu).

    Muitos abraços amorosos para todos
    Jorge

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  6. Minha querida, Caroline, como eu já disse para a turma de aprendizes, esta obra é uma extensão da aula.
    Aqui, existem muitos mistérios e revelações, e que, em nenhuma outra leitura, são encontrados com esta clareza e simplicidade.
    Leia e releia cada capítulo, e vá percebendo o mistério que se revela pouco a pouco.
    Abraço.
    Gilberto.

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  7. Querido amigo, Jorge Vicente, a sua percepção é muito sensível, e capta as mensagens ocultas em cada palavra.
    A oração do Grande Chefe Xamã foi inteiramente recebida, com muito pouca interferência minha.
    A semelhança com algumas passagens da carta do Seattle, talvez, tenha algo de minha autoria.
    Esta história foi escrita em verdadeiro transe e sagrada inspiração.
    Agradeço suas visitas e sábias palavras.
    Abraço.
    Gilberto.

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  8. Boa noite! Que linda essa saudação xamânica! Me tocou profundamente e encheu meus olhos d’agua; palavras que nos lembram que somos maiores do que o que vivemos, mas que aí memso tempo estamos aqui, e isto é um privilégio!

    Gratidão!

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