segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Deus

Deus é fiel. Deus me livre. Deus me proteja. Creio em Deus-Pai Todo Poderoso.
Mas, de que deus estamos falando ?
Decidi embarcar num estudo mais profundo sobre o conteúdo desse Poder Superior que inspira todas as crenças religiosas da humanidade.
De nada me adiantaria buscar respostas nas religiões tradicionais, que são sectárias e não admitem tergiversações aos seus dogmas.

O leitor que me visita tem a sua crença, e sabe onde foi buscá-la. Mas, será que essa crença já se defrontou com a dúvida de como a sua fé interage com a Divindade? E como resolveu esse impasse ? Ou acabou acostumando-se a conviver com ele ?
A esses que mais valorizam as dúvidas do que as certez
as, dedico essas minhas divagações por um reino místico e, às vezes, secreto, onde as verdades se escondem e repousam através dos tempos.
Numa história muito hermética, publicada em q
uadrinhos, e intitulada Monstro do Pântano, os dois irmãos arquetipais bíblicos, Caim e Abel, se confrontam, e, mais uma vez, Caim mata Abel.
Questionado pela única testemunha, quanto aos motivos do crime, C
aim explica que, na condição de salvaguardadores da história, ele e o irmão não podem revelar os Segredos do Mundo.
Diz ele : "Os Mistérios são para serem compartilhados e os Segredos devem ser guardados".
O irmão havia acabado de revelar um desses Segredos, e teria de ser punido.

Acreditando que por trás dessa afirmativa resida uma verdade bem maior do que uma simples HQ possa pretender contar, darei os meus passos seguintes com o devido cuidado para não vir a provocar a ira de um Caim que queira punir as
minhas inconfidências.

Com esses cuidados, começo explorando os ensinamentos da maior medium de todos os tempos Helena Petrovna Blavatsky, que, em suas obras, A Doutrina Secreta, Isis sem véu e a Chave da Teosofia, repeliu qualquer idéia de um Deus pessoal ou extracósmico e antropomórfico, que seria tão somente a sombra gigantesca do homem, e nem sequer do melhor.
Blavatsky dizia que o Deus da Teologia é um conjunto de contradições e uma impossibilidade lógica.

"Nossa Deidade não se encontra nem num paraíso, nem numa árvore especial, casa ou montanha, está em todas as partes, em cada átomo do Cosmos, tanto visível como invisível, no interior, acima e ao redor de cada átomo invisível e molécula divisível, porque Ela é aquele misterioso poder da evolução e involução, a potencialidade criadora, onipresente, o onipotente e onisciente..."
Qualquer semelhança com a afirmação de Jesus, o Cristo, aos seus apóstolos, de que "o reino de Deus está no meio de vós" (Lc 17, 21) não seria uma simples coincidência, senão uma verdade universal.
A questão está na distorção das palavras, por parte dos ensinamentos religiosos, para justificar seus dogmas. Não existe um reino de Deus dissociado da própria Divindade, logo o reino de Deus seria um "anti-eufemismo" religioso, trocando-se o aspecto mais sagrado de Deus, o Todo, pelo seu reino, uma particularidade . E a afirmação "está no meio de vós" poderia ser perfeitamente entendida por "está dentro de cada um de vós".

Este mesmo princípio crístico era defendido por Lao-Tsé o inspirador do taoísmo, cuja tese fundamental se baseava na existência de um princípio supremo - o tao - que rege o curso do Universo. De acordo com o taoísmo, todas as coisas têm origem no tao, obedecem ao tao e finalmente retornam ao tao, que pode ser descrito como o absoluto, a ordem do mundo e a natureza moral do homem bom. O tao está em tudo, porque tudo existe em função do tao, e nada pode ser considerado afastado ou divergente dos ideais sagrados do tao. Is
to, em tese, não difere da doutrina budista, que cultua uma Energia Divina, em lugar de um Deus.
Deus, Brahman, Yahveh, Tao, uma única verdade com muitos nomes diferentes ? Ou uma busca de conceituar um poder superior que foge à compreensão do homem ?
Para muitos, Deus é uma espécie de ditador celeste, uma pessoa que v
igia os homens de longe e registra os seus créditos e débitos, premiando-os ou castigando-os depois da morte, mandando os bons para um céu e os maus para um inferno eterno.
Essa visão terrorista domina as teologias cristãs por cerca de dois mil anos e, embora haja grandes variantes dessa concepção de Deus, no fundo essa é idéia antropomorfa que tem prevalecido.
Em seu livro, Mein Wetbild, o grande cientista Albert Einstein descreve três tipos de concepção de Deus :
1. o conceito do Deus-máquina, entre os povos mais primitivos;
2. o conceito de Deus-pessoa, entre os hebreus do Antigo Testamento, em g
eral, e entre os cristãos de todos os tempos e países;
3. o conceito do Deus-cósmico, professado por uns poucos místicos, os quais ultrapassam igrejas e teologias, e encontram-se misturados em todos os povos e religiões.
O mais surpreendente, nessa incursão da ciência no campo espiritual, está
no fato de Einstein incluir nesse 3º grupo, como 3 irmãos na mesma fé, um pagão, Demócrito, um cristão, Francisco de Assis e um hebreu, Spinoza. Lao-Tsé se enquadraria certamente nessa irmanação criada e batizada pelo gênio científico de Einstein.
O taoísmo se inclui entre os mais avançados princípios da cultura espiritual dos povos orientais, ao professar a idéia de um Deus-cósmico. Essas crenças espirituais não são politeístas, panteístas ou monoteístas, e sim monistas cósmicas.
O monoteísta reconhece um só Deus-pessoa, residente no céu. Os hebreus, desde o tempo de Moisés, nunca chegaram a um Deus único para o mundo inteiro, se
apegando à idéia de um Deus único para Israel, o Deus dos Exércitos.
O monoteísmo nunca conseguiu incorporar o verdadeiro monismo, que é a concepção sistêmica do Espírito e da Matéria, numa existência interdependente que não pode ser dissociada uma da outra. O monoteísta acaba se tornando um dualista, ao admitir a existência de um Deus-pessoa, distante e transcendente à Matéria, com o qual o homem espera encontrar-se depois da morte.
Esse encontro, somente pós-morte, com Deus é comum às religiões monoteístas, que se tornam dualistas ao afastarem dos nossos corpos físicos a presença divina. Elas negam o próprio princípio crístico, de que Deus não está aqui ou ali, mas dentro de cada um de nós. E, s
e dentro, fazendo parte de nossas vidas, isso nos torna deuses também, ainda que inconscientes desses nobres e sagrados poderes.
A visão do monista, presente nas tradicionais religiões orien
tais, é que Deus está em tudo e tudo está em Deus - mas tudo não é Deus, nem Deus é tudo. As criaturas e tudo o mais que exista na natureza não estão separados de Deus, porque nada que exista pode estar dissociado da presença divina, mas também não são idênticos a Deus.
E aqui, volto a recorrer à Bíblia dos cristãos, que ensina esse princípio monista, mas que passa ao largo do entendimento da maioria dos seguidores religiosos dessas doutrinas cristãs.
É da palavra do Cristo que vem a afirmativa : "Eu e o Pai somos um" "...o Pai está em mim e eu no Pai". Mas, o Cristo se preocupa em fazer a distinção entre o Filho e o Pai. Ele nunca disse "eu sou o Pai", mas sustenta a sua argumentação na tese monista de que a Divindade estava sendo manifestada através dele, num pleno estado de consciência.
E aí estaria o grande diferencial entre o homem comum e um Cristo, o Espírito Divino age de forma consciente na vida do Cristo, enquanto permanece adormecido e inconsciente na quase totalidade das almas humanas.
Os verdadeiros gênios da História da Humanidade sempre pensaram e sentiram em termos de um monismo cósmico, como Jesus, o Cristo. E, da mesma forma, Pitágoras, Krishna, Lao-Tsé, Sidarta Gautama e, mais recentemente, Gandhi.

Todas as afirmativas contidas nos livros de Blavatsky nos conduzem a uma nítida realidade de que, a Doutrina Secreta foi a religião universalmente difundida no mundo antigo e anterior aos relatos históricos. Essas comprovações, no entanto, encontram-se veladas para os não-iniciados nas criptas secretas das bibliotecas pertencentes à Fraternidade Oculta.
Os ocultistas sabem da existência dessas provas sagradas, mas, enquanto segredos, não poderão ser revelados. Já os mistérios mexem com o nosso imaginário, e provocam pesquisas, estudos e, até e principalmente, falsas afirmações e delirantes fantasias.
Mas, tempos virão em que esses segredos serão revelados, e alguns dos muitos e sutis desses segredos serão transformados em mistérios. E mistérios, como até um jovem que gosta de HQ e lê o Monstro do Pântano sabe muito bem, são para ser compartilhados.

Por enquanto, como nos diz Blavatsky, ainda teremos de nos contentar com o lento despertar da consciência humana, e ir aturando com a devida paciência os fragmentos das verdades divinas, difundidas pelas religiões, cada qual pretendendo promover a Verdade Absoluta, e não fazendo mais do que arranhar muito de leve, a profunda, mística e eterna Essência Divina.
Os fiéis dessas religiões espalhadas pelo mundo inteiro nem se dão cont
a dos Mistérios Ocultos, que constituem a tradição esotérica dos seus rituais religiosos. Poucos têm acesso aos Grandes Mistérios, que são protegidos pelos Grãos-Mestres, os responsáveis pela guarda das revelações secretas, enquanto os homens ainda não estiverem preparados a acessar seus conhecimentos.
A religião dada ao consumo das massas é a doutrina exotérica, um alimento facilmente digerível para o corpo de emoções daqueles que ainda crêem num Deus distante, habitando num céu inatingível, e que zela por nós ou aplica castigos quando cometemos pecado
s.
Uma Deidade taoísta, presente em nossa alma e integrada ao nosso corpo físico, parece ainda ser uma realidade improvável para o consumo das massas.
Promessas e milagres são mais fáceis de serem aceitos do que com
promissos e responsabilidades espirituais. Transferir para um Deus lá no céu os deveres e obrigações daqui da Terra, parece mais cômodo e menos trabalhoso.
Oh, meu Deus, até quando, até quando ! Mas, afinal, de que Deus estou falando ?

Bibliografia consultada : A Doutrina Teosófica de H.P. Blavatsky; Tao Te Ching - O Livro que revela Deus de Lao-Tsé; Bíblia Sagrada, Monstro do Pântano de Alan Moore e Sabedoria Incomum de Fritjof Capra.

6 comentários:

  1. Eu acredito no conceito de Deus ser uma energia, como a Petrovna disse acho que o reino de Deus está em toda parte e a prórpia bíblia confirma como vc mostrou, mas é muito mais simples apenas pensar em Deus como um ser lá de cima que molda nossa realidade ao seu bel prazer, isso nos deixa inocentes de quaisquer coisa, é meio como a comunhão e a confissão, você perde completamente a responsabilidade pelos seus atos visto que a culpa lhe foi retirada... acho que essa visão de Deus no céu e nós na terra é uma "boa" forma de anular a consciencia espirutual que acho que todos nós somos dotados, mas infelizmente apenas poucos fazem uso.

    adorei o seu texto meu amigo!! delicioso viajar em suas palavras e ir aos poucos dando cor e formas a idéias expressas...
    tem um selo para vc em meu blog, com muito carinho viu??

    xeru

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  2. Oi, Esther :
    Perfeitas as suas reflexões !
    Já se deu conta de que é uma jovem com espírito velho ? Não de velho, no sentido da idade física, mas sob o aspecto da experiência da alma.
    O seu jeito moderninho de ser deve funcionar como uma máscara, a fim de disfarçar a idade que traz na alma.
    Agradeço o selo, e o recebo também com muito carinho e respeito, por vir de uma jovem que poderia ser minha neta.
    Um abraço.
    Gilberto.

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  3. É mais fácil para nós humanos, materializarmos nossas crenças....visto por relatos bíblicos do antigo testamento, qundo Moisés foi para o monte receber as ordens de Deus para o povo de Israele e estes, se embiragaram e fundiram um bezerro para adorar..pois não tinham um Deus palpável, materializado para dirigir suas petições, suas angístias, suas transferências. Pontuando que nós ocidentais, temos como princípio norteador o externo, torna-se muito difícil encontrar um religar interno que esteja em conexão com o Todo...Acreditar no monísmo cósmico, parte do princípio da descoberta do si-mesmo e a partir disso, a compreensão desta totalidade...e chegas a tal ponto....requem muitas renúncias e dores. Poucos estão dispostos a desanuviarem seus olhos e mentes...

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  4. Seja bem vinda ao Alma Mater, Érica.
    Agradeço os seus comentários, que trazem um sentido bem profundo sobre a realidade humana.
    As maiores dificuldades da humanidade podem ser resumidas nessa relutância de assumir seus erros e de tomar para si suas responsabilidades.
    Enquanto se insistir em transferir culpas para os pais, para o marido ou a esposa ou para os governantes, vamos continuar sofrendo com a fragilidade de nossas convições.
    Crenças não são nada, sem atitudes. A prática religiosa é um caminho para a evolução esiritual, mas não é a evolução espiritual.
    A espiritualidade está acima de religiões, de crenças dogmáticas ou sectárias. Mas, pode apoiar-se nelas, quando há bom senso e caridade. Isto, porém, está difícil de se encontrar, por isso, a rivalidade, a guerra e a violência urbana.
    A divindade está em nós, e só a nós cabe revelar o divino.

    Volte sempre.
    Abraços.
    Gilberto.

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  5. Olá Mestre , Li o Texto até os meus 5 á 14 anos eu acreditava nesse Deus(cristianismo) que está em cima de nós a todo momento nos vigiando e de que nós temos que fazer coisas boas para com recompensa encontra-lo , mas depois de pesquisar mais e refletir sobre o assunto cheguei a conclusão de que Deus é energia(Ponto cósmico) onde tudo foi feito e criado e que cada um de nós temos uma parte dele(religiões orientais) , só queria acessar os arquivos akáshicos , mas sinto que eu ainda não estou preparado para este grande feito por enquanto só estudando.

    Abraços . .
    José Fabricio . .

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  6. Meu caro, José Fabrício:
    Acessar os registros akáshicos não é o mesmo que saber ler os números kármicos.
    O acesso ao Akasha é por mérito de outras vidas e absoluta confiança por parte dos Senhores do Karma, que são os Grandes Mestres do Akasha.
    Se a sua alma tiver esses méritos, o acesso se dará no momento certo. Caso contrário, poderá talvez conquistá-los nesta vida, mas neste caso terá de aguardar por muitos anos, até que venha aprender as verdades ocultas que regem a vida no universo.
    Como pode perceber, mais uma vez terá que ter paciência.
    Um abraço.
    Gilberto.

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