Confesso-vos que, na minha cadeira de observador, lidando com um público espiritualizado acima da média, não compartilho de nenhuma das duas opiniões. Eu sou forçado a reconhecer que vivemos uma imensa movimentação religiosa, mas que não me parece resultar num aumento de religiosos, mas numa redistribuição de fiéis pelas várias religiões.
Os movimentos religiosos se sucedem, procurando atrair novos fiéis para os seus antigos templos, ou, quem sabe, antigos fiéis para seus novos templos. As religiões utilizam de toda forma de marketing para convencer os tementes a Deus que a sua, e não a outra, é a garantia maior de se obter um lugar no céu. Elas promovem uma espécie de dança das cadeiras, atraindo para a sua igreja, o freqüentador da outra. Mas, não se ouve quase falar de ateus que se converteram a esta ou aquela religião.
Na Numerologia da Alma, as religiões são reconhecidas como uma prática devocional, da qual é o número 6 o ícone que as identificam e reconhecem numa análise numerológica. O mais interessante é que pelo mesmo número 6 chega-se a outras práticas tradicionais como o casamento, a família, a maternidade e a educação escolar. A religião estaria no mesmo patamar dessas práticas conservadoras e presas a tradições sociais.
Numa outra perspectiva e num patamar diferente, simbolizada pelo número 9, encontraríamos a espiritualidade, destituída do sectarismo religioso e sustentada pela fé num Ser Superior ou Divino, que a maioria denomina Deus. Entre uma tendência e outra, identificam-se muitas crenças em comum, mas uma tendência básica é suficiente para afastá-las uma das outras – a autoridade eclesiástica.
As igrejas precisam da autoridade que estabeleça as regras da fé e as convenções a ser seguidas, para determinar o virtuoso ou o pecador, a consagração ou a punição, as datas festivas e as celebrações ritualísticas.
A espiritualidade é um ato espontâneo de cada espiritualista, que segue uma jornada pessoal, tal qual um peregrino, em busca da iluminação. Ela não está inserida em instituições ou regulamentos, ela é um ato de fé numa presença indefinida e divina que se manifesta em tudo e em todos.
Não, meu caro leitor, o Espiritismo não deve ser confundido com esta espiritualidade de que falo. O Budismo e o Taoísmo também não. E, naturalmente, nenhuma das religiões judaico-cristãs. Todas essas manifestações de fé que, nas suas origens, tiveram um ideal de livre expressão da espiritualidade humana, um dia se tornaram religiões, e passaram a ter um comando superior. E, se possuem um chefe, não é mais o que denomino Espiritualismo.
O Espiritualismo é como um despertar da alma humana, atendendo um chamado do Alto, como se a Divindade dispensasse os intermediários e se dirigisse diretamente aos que são capazes de acolher a mensagem, sem precisar da versão ou tradução de um líder ou guia espiritual.
Os devotos alegam que a humanidade precisa do pastor para guiar o rebanho. Os pastores ensinam que, somente quem é capaz de interpretar a linguagem sagrada dos livros religiosos poderá transmitir a verdadeira palavra dos profetas. As diversas religiões brigam entre si para impor suas verdades, que, na maioria das vezes, nem são as dos seus profetas, e longe estão de traduzir o que disseram os grandes Seres que as inspiraram.
Na igreja católica, os padres lutam com todos os argumentos seculares, para sustentar hábitos e tradições que são rejeitados, por grande parte dos seus seguidores. Nos templos evangélicos, pastores esbravejam aos berros, a maioria deles mal preparados para a função, tentando convencer pela altura da voz e não pela lucidez dos seus argumentos.
Nas religiões orientais, a situação não diverge muito das religiões judaico-cristãs, por insistirem em práticas que estabelecem verdades de cima para baixo, ou melhor, de fora para dentro. Os religiosos ainda não despertaram para o fato de que o diálogo Criador-criatura não mais exige tradução, e que os tradutores estão dispensados.
A leitura dos textos sagrados sugere que, um dia, isso viria a acontecer, e que Deus falaria à humanidade de um modo natural, sem véu e sem mistérios. Mas, as autoridades religiosas nunca aceitarão reconhecer que esse dia já chegou, e teimam em manter o poder e o controle sobre a sua comunidade de fiéis.
Todos, meus nobres leitores, todos os líderes religiosos resistem em entregar o poder sacerdotal aos seus fiéis liderados, considerando-os incapazes de falar com Deus. O mesmo argumento é utilizado pelos ditadores, quando não permitem o voto direto do povo, sob a alegação de que o povo não sabe escolher.
O povo não poderá jamais saber, se não praticar. Seja o ato de votar, de rezar, de governar. Se eu nunca ouvi a música suave e melodiosa, não poderei preferi-la a esses sons desconexos e patéticos. Se tu ainda não leste um escritor clássico, irás preferir ler o pasquim ou essas revistas semanais pretensamente sérias. Se não treinares os teus ouvidos espirituais para ouvir a palavra divina, não entenderás nada, e terás de recorrer a um intérprete que entendendo tanto quanto tu, e presumindo uma sabedoria que não tem criará uma interpretação bisonha e viciada em crendices descabidas.
O Espiritualismo está se irradiando por todo o mundo e despertando a verdadeira religiosidade na humanidade. O movimento é lento, porém inexorável, não pode ser interrompido, nem acelerado. A voz divina soa nos ouvidos espirituais dos seres despertos, que não buscam fora de si verdades que estão presentes no fundo de suas almas, onde sempre estiveram desde o início dos tempos.
Meditação, reflexão, estudo, leitura, atenção, silêncio e outras atitudes simples e espontâneas abrem os portais dos templos para a Iniciação. Aquele que prefere continuar recorrendo ao intérprete ou tradutor deverá seguir o que a sua consciência mandar. Mas, os que já não aceitam mais a coleira no pescoço devem confiar no seu Deus Interior ou seu Cristo Interno e sair em peregrinação a buscar a Iluminação, liberando os pastores para os rebanhos que permanecem nas pastagens.
Os Grandes Mestres não criaram religiões, foram seus seguidores que instituíram as igrejas. As doutrinas dos Mestres foram perfeitas, as versões dos seus seguidores tão imperfeitas como os seres que as redigiram, traduziram e as modificaram ao seu bel prazer ou interesse.
Eu te entendo, estás habituado às rotinas da tua fé, e tens medo de não seres capaz de lidar com a liberdade de falar com Deus. Mas, eu antevejo alguns que silenciosos se puseram a imaginar uma nova conduta, que responda melhor às suas dúvidas e incertezas.
Agora, meu atento leitor, tu podes escolher, ou a coleira na pastagem ou a estrada livre do peregrino.
Muito bem!Observo que as igrejas evangélicas,
ResponderExcluirsão de uma variedade de nomes,percebo como uma insatisfação.Como sou escorpiana, a essência é o que conta.Parabéns,"uma espécie de de dança da cadeira"foi ótimo.ANDRÉA
Grato, Andréa, pelos comentários.
ResponderExcluirA dança das cadeiras configura a busca sem fim por um Deus que está dentro de cada um de nós.
As pessoas procuram encontrar numa e noutra religião o que só poderão obter dentro de si mesmas.
Um abraço.
Gilberto.
muito bom o texto mestre, gostei muito mesmo, sem comentários, só elogios.
ResponderExcluirabraços.. fabricio
Grato pelos elogios, meu caro Fabrício.
ResponderExcluirUm abraço.
Gilberto.
Adorei o texto!
ResponderExcluirMuito bom encontrar peregrinos como eu!
Com carinho,
Claudia
Minha leitora Cláudia:
ResponderExcluirExistem muitos peregrinos, mas eles são mais silenciosos que as ovelhas.
Às vezes, pensamos que somos peregrinos solitários, em nossas jornadas silenciosas. Mas, de repente, temos a surpresa de cruzar com muitos outros, todos calados e conscientes dos seus nobres ideais na vida.
Prossiga na sua peregrinação.
Um abraço.
Gilberto.