Muito
se fala, meu caro leitor, das águas e da falta que elas nos fazem. A
humanidade vive aterrorizada por uma possível escassez mundial de
água, que, aliás, já existe, e que só tende a piorar. Alguns
pensam que isto é coisa nova, e que vai passar, como tudo é
passageiro na vida. Será?
Em
1998, precisamente na edição do Jornal Nossa Folha, no período de
10 a 25 de abril, eu escrevi uma crônica sobre as águas. Profecia,
vidência ou mero bom senso? Vou extrair alguns trechos do texto, e
deixo-os a julgamento dos leitores.
Inspirado
pela canção de Guilherme Arantes, Planeta Água, eu escrevi: “Água
que nasce na fonte serena do mundo e que abre um profundo grotão,
faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão”.
Ela
brota do seio da terra, pura e cristalina, e se dá, sem fechos, nem
preços, para a vida de todos nós. Mas, o homem com a esperteza e
mania de civilização, tratou logo de inventar as bicas e criar as
taxas para o seu controle e exploração.
Lá
pelos idos de 1855, o sábio cacique Seattle enviou uma carta ao
presidente dos Estados Unidos, que desejava comprar a terra dos
índios, onde dizia ser-lhe muito estranho comprar ou vender terras,
já que não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água.
E,
continuemos cantando a bela canção Planeta Água. “Águas escuras
dos rios que levam a fertilidade ao serão. Águas que banham
aldeias, que matam a sede da população”. O lirismo da música
acaba escondendo a trágica realidade que, a certa altura, já
poluída pelos esgotos, pelo lixo e por substâncias tóxicas, a água
que mata a sede também pode matar o sedento beberrão. Quem sabe a
tecnologia moderna não acaba inventando uma forma de se viver sem
beber e sem respirar!
Continuando
a nossa cantoria: “Águas que caem das pedras no véu das cascatas,
ronco de trovão, e que depois dormem tranquilas no leito dos lagos”.
Para os índios, a água dos rios simbolizava o sangue dos
ancestrais, e os reflexos nas águas límpidas dos lagos contavam
toda a história do seu povo. Os simbolismos modernos continuam os
mesmos, daí porque tantos cara-pálidas têm sangue ruim nas veias e
uma história de vida tão feia para contar.
E
a melodia nos encanta: “Águas dos igarapés, onde Yara mãe-d'água
é misteriosa canção. Água que o sol evapora, pro céu vai embora,
vira nuvens de algodão. Gotas de água da chuva, alegre arco-íris
sobra a plantação. Gotas de água da chuva são tristes, são
lágrimas na inundação. Águas que movem moinhos são as mesmas
águas que encharcam o chão e sempre voltam humildes pro fundo da
terra”.
Enquanto
a água volta pro fundo da terra, eu me meto num buraco pra me
esconder, não dos homens, porque a eles nada devo, mas esconder-me
dos filhos dos nossos filhos, das gerações que herdarão este
planeta Terra. As nossas florestas vivem em chamas. Os mananciais da
Bacia Amazônica estão ameaçados. Mas, os governantes e os
governados vivem preocupados com desempregos e assentamentos dos
sem-terra. Mais emprego significa mais indústrias e poluição.
Assentamentos trazem mais matas devastadas e mais incêndios nos
campos.
Inconsequente,
o homem não enxerga nada além do seu próprio umbigo. Os
governantes intimidados pelas pressões políticas e sociais agem
contra a natureza. O povo incentivado pelos poderosos faz o jogo dos
ricos, pensando que assim, todos poderão, um dia, se tornar ricos
também.
Ainda
há tempo para mudar a história. Não se pode deixar as águas
rolarem. Sem água não há vida. E nenhum dinheiro do mundo pode
comprar a água que já não mais exista. Os governantes estão
escondendo a verdade. Os gestores da água estão mentindo. O povo
está tendo a sua atenção voltada para outros temas que importam
muito para os ricos, mas bem pouco para os mais pobres. O petróleo
não é mais valioso que a água. O petróleo gera dinheiro e a água
sustenta a vida. Vamos dar prioridade ao que merece mais a nossa
atenção. Os valores expostos há quase 20 anos continuam os mesmos.
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