Meus
caros leitores:
Quem
pensou que eu havia desistido de comparecer, a cada dia 7, com um
texto em defesa da natureza, enganou-se. Acontece que, eu, como a
natureza, precisamos de um tempo de trégua, para sobreviver a esse
ataque permanente do homem contra o planeta. Por isto, no 7 de abril,
eu fui espairecer em Tiradentes, onde a história está viva nas
ruas, e o verbo preservar é conjugado a todo instante.
Ao
retornar com o que me deparo? Como
se dizia na época de guerra “sem novidades no fronte”. Nada que
tem surgido, nem mesmo o recente e repetitivo compromisso das nações
para reduzir a destruição ambiental pode ser motivo de comemoração.
Essas reuniões se sucedem de tempos em tempos, quando muitas
previsões fazem parte do documento final, umas antecipando tragédias
e outras prometendo mudanças.
As
tragédias continuam acontecendo, mas as mudanças, quando ocorrem,
são mínimas transformações estratégicas ou simples jogo de
palavras, que ficam no papel e não sensibilizam a alma humana. O
dinheiro é o fator prioritário das ações e decisões dos países
ricos. Enquanto isto, os países pobres não fogem à regra
geral,
e, na alegação de
que
precisam crescer, embarcam nas mesmas ações predatórias dos ricos.
O
resultado a cada ano é o surgimento de novas catástrofes
ambientais, anunciadas, umas, e confirmadas, outras. Querem um
exemplo prático? O vazamento da barragem da Samarco, em Mariana,
aqui pertinho da minha querida, São Lourenço. E dentro de uma área
de preservação histórica, que inclui a vizinha Ouro Preto, um
patrimônio da humanidade.
O
que faz a humanidade jogar com a saúde da natureza e a vida humana,
sem o menor escrúpulo de usar como defesa de seus atos predatórios,
o progresso econômico da região! Que progresso poderemos esperar,
agora, daquela região, após o despejo de uma lama envenenada no rio
Doce, e do sufocamento
da terra, em que, talvez, nunca mais possa crescer nada que sirva
para alimentar os lavradores da região.
A
punição para o crime é a multa. Estabeleceu-se uma vultosa multa,
que, segundo o histórico jurídico, não será paga. Os recursos se
sucederão, as instâncias serão percorridas, até que, no
esquecimento do fato e nos meandros da lei, sob a manipulação de
escritórios de advocacia especializados em forjar mentiras, tudo
ficará para trás.
O
rio, pouco a pouco, no passar das águas e do tempo, voltará a
clarear, as novas gerações não se lembrarão das águas turvas de
um passado, que serão contadas como lendas de uma época em que uma
tragédia imprevisível destruiu muitos sonhos e esperanças, mas
que, não impediu o progresso econômico de uma região rica em
minério.
A
existência de riqueza mineral no subsolo de uma região pode
transformar a celebração do achado na desertificação lamentada
num distante amanhã. O dinheiro é
que
regula a vida do povo que habita a região, e nem a justiça e nem os
governos são capazes de garantir a segurança e os direitos de
propriedade dos cidadãos.
A
riqueza é o céu das grandes mineradoras, que esburacam os solos e
acumulam seus detritos em barreiras intransponíveis, até o dia em
que uma ocorrência imprevista, repete as mesmas antigas tragédias.
Acontece que, nessas horas, percebe-se que para o ganancioso e
criminoso, o céu não é o limite, mas, apenas, um degrau para
seguir adiante em busca do lucro infinito.
As
mortes são choradas e consoladas com flores e sepulturas para
esconder os corpos. As perdas materiais das grandes empresas são
recuperadas, em curto espaço de tempo, menos as da população
atingida que, na justiça, precisa entrar na fila e pacientemente
aguardar a esmola que vai indenizar as perdas materiais, já que as
humanas são debitadas a fundo perdido.
A
humanidade não cansa de esperar dias melhores. A natureza, porém, é
implacável com os crimes ambientais, e cansa muito facilmente. O
dinheiro compra quase tudo, mas não pode comprar a água, quando
todas as reservas potáveis estiverem poluídas ou, simplesmente,
desaparecerem. E sem a água não há vida.
Nunca
é demais relembrar a famosa carta do cacique Seattle, e que se
tornou um ícone da defesa ambiental. A terra não pertence ao homem,
é o homem que pertence à terra. Continua a poluir a terra, e, um
dia, despertarás debaixo dos teus próprios dejetos.
Será
que alguém ainda acredita que essas sejam meras palavras de efeito?
A marcha do tempo é inexorável, e, quando se trata de crimes contra
a natureza, o tempo acelera e, de repente, não há mais nada a
fazer.
Continuem
assinando tratados, imaginando que estão enganando a todos! Mas, tolos
são os que julgam enganar a força da natureza. Dias virão em que
não serão palavras no papel que mudarão a conduta humana, mas a
proximidade do fim, chegando na soleira de nossas portas.
A
solução é mudar ou mudar. Se ficar como está, pouco, ou quase
nada, vai restar. E, quando esse tempo chegar, nenhum golpe poderá
dar o poder a quem não merece, a Natureza não admite impeachment.
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