Hoje, vou usar trechos do livro de
Fritjof Capra, O Ponto de Mutação, para tentar esclarecer as
permanentes crises por que passa a humanidade. Recuso-me a explicar
as crises por envolver causas múltiplas e sem padrões definidos. Os
esclarecimentos visam, muito mais, dar aos leitores uma
conscientização de que tudo se repete, as crises são sempre as
mesmas, mas com facetas diferenciadas.
Diz o autor do livro, logo no 1º
capítulo que, desde a metade do último século, vem ocorrendo, mais
do que em tempos passados, um estado de profunda crise mundial.
Trata-se de uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas
afetam todos os aspectos de nossa vida – a saúde e o modo de vida,
a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia,
tecnologia e política.
Ele alega que, desta feita, a crise é
de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala
e efeitos sem precedentes em toda a história da humanidade. De
repente, nos vimos forçados a nos defrontar com a real ameaça de
extinção da raça humana e de toda a vida no planeta.
Pouco depois da virada da metade do
século XX, na década de 50, líderes mundiais decidiram usar os
chamados “átomos para a paz” e apresentaram a energia nuclear
como a fonte energética do futuro, confiável, limpa e barata. Hoje,
estamos conscientes que, a energia nuclear não é segura, nem limpa
e nem barata.
Os reatores nucleares liberam
elementos radioativos exatamente iguais os que caem sobre a Terra,
após a explosão das bombas atômicas. Milhares de toneladas desse
material tóxico já foram descarregados no meio ambiente, em
consequência das explosões nucleares e de vazamentos de reatores.
E continuam se acumulando no ar que
respiramos, nos alimentos que comemos e na água que bebemos,
aumentando o risco de se contrair câncer e doenças que afetam a
nossa imunidade, por atingirem o nosso sistema imunológico.
Mesmo pondo de lado a ameaça de
catástrofe nuclear, o ecossistema global e a futura evolução da
vida na Terra estão correndo sério perigo e podem resultar num
desastre ecológico em grande escala. A superpopulação e a
tecnologia industrial têm contribuído de várias maneiras para uma
grave deterioração do meio ambiente natural, do qual temos total
dependência.
Além da poluição atmosférica,
nossa saúde também é ameaçada pela água e pelos alimentos,
contaminados por uma enorme variedade de produtos químicos tóxicos,
empregados como aditivos alimentares sintéticos, pesticidas,
agrotóxicos e em produtos plásticos.
Enquanto as doenças de subnutrição
e infecciosas são as maiores responsáveis pela morte no Terceiro
Mundo, os países industrializados são flagelados pelas doenças
crônicas e degenerativas, chamadas “doenças da civilização”,
dentre as quais, enfermidades cardíacas, câncer e derrame.
Quanto ao aspecto psicológico,
enfrentamos depressões graves, esquizofrenia e outros distúrbios
comportamentais, que têm suas origens numa deterioração paralela
de nosso meio ambiente social. O aumento de crimes violentos e de
suicídio de pessoas jovens é tão elevado que já é considerado
como epidemia.
A
par dessas patologias sociais, segundo a visão de Capra, tem-se
presenciado anomalias econômicas que parecem confundir nossos
principais economistas e políticos. Inflação, desemprego e uma
distribuição grosseiramente desigual de renda e de riquezas
passaram a ser características estruturais da maioria das economias.
Discute-se o que se deve atacar em
primeiro lugar – a crise energética ou a inflação? Não se
percebe que ambos os problemas, como os demais são apenas facetas de
uma mesma crise. Quer falemos de câncer, criminalidade, poluição,
energia nuclear, inflação ou escassez de energia a causa é a
mesma, ainda que os efeitos pareçam não ter relações.
Os economistas são incapazes de
entender como conciliar o progresso e o controle da inflação, os
oncologistas estão totalmente confusos acerca das causas do câncer,
os psiquiatras são mistificados pela esquizofrenia, a polícia vê-se
impotente em face da crescente criminalidade, e a lista vai por aí
afora.
Segundo concluiu em seus estudos,
Capra declara que esses problemas são sistêmicos, o que significa
que estão intimamente interligados e são interdependentes. Não
podendo, por isso, serem entendidos por uma metodologia fragmentada,
que é característica de nossas disciplinas acadêmicas e de nossos
organismos governamentais.
Diante dessas conclusões, não
podemos fugir de admitir que a maioria dos nossos principais
pensadores usa modelos conceituais obsoletos e variáveis
irrelevantes. E uma afirmativa que polemiza ainda mais essas
conclusões é a que atribui esse impasse conceitual à quase
totalidade dos mais eminentes intelectuais ser constituída por
homens.
Rigidez, tipicamente masculina, pouca
sensibilidade para efetuar mudanças, emprego da imposição de
verdades, pela força ou pelo uso do poder, são as consequências
naturais desse predomínio quase absoluto da presença de homens à
frente das experiências e conclusões.
A conclusão a que se pode chegar é
que, perante regras e conceitos inovadores, enfrenta-se uma
resistência à mudança de métodos e posturas para tratar dos
velhos problemas. E assim
caminha a humanidade, entre conflitos e crises, numa histórica
repetição. Os velhos efeitos se repetem, mesmo diante de novas
causas.
Como dizia Quincas Borba, na
excelente obra de Machado de Assis – é sempre Humanitas lutando
contra Humanitas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário