Hoje, começo a publicar, em capítulos, o meu livro Memórias de um Profeta.
A trama se desenrola na Alemanha, começando no final do século XVIII.
Neste primeiro momento, publico 3 capítulos, para colocar, com maior rapidez, o leitor dentro da trama, facilitando a absorção do conteúdo do que vem mais adiante.
E, por fim, resta-me esclarecer que a história tem muito a ver com minha última vida na Alemanha, ainda que não possa ser considerada uma narrativa fidedigna dos fatos passados.
Espero que gostem, e que passem a acompanhar os futuros capítulos, todas as sextas-feiras.
Quem quiser comentar, fique à vontade.
Abraços.
Gilberto.
MEMÓRIAS
DE UM PROFETA
CAPÍTULO
UM
Berlim.
1860. Gibran e Helga.
Estamos na Escola de Psicologia, onde os dois personagens centrais
da nossa história se conheceram e nunca mais se separaram. O profeta
é Gibran, um homem comum que desconhecia seus dons, até que seu
Mestre o convocou para servir a Hierarquia.
Neste ano de 1860, os dois estudavam psicologia. Ele, pretendendo
seguir o mestrado, e se incorporar ao corpo docente da Escola. Ela,
mais interessada em clinicar, ambicionando ter o seu próprio
consultório.
Gibran era de família árabe que imigrara para a França. Seus
pais, assim que casaram, escolheram viver na Alemanha, e foram morar
em Stuttgart, numa região de florestas e vinhedos.
Gibran teve uma infância livre e saudável. Amava o campo e a
vida ao ar livre. Estudante exemplar, ele obtinha as melhores notas
da classe. Seu sonho era tornar-se professor. Escolheu a psicologia e
foi estudar em Berlim.
No primeiro ano de estudo encontrou Helga, uma jovem idealista e
ambiciosa. Helga sonhava ser famosa e se tornar reconhecida
mundialmente. A afinidade nasceu de conversas após as aulas, que se
estendiam até a noite. Estudavam juntos e divergiam dos conceitos
dos livros, em causas e efeitos.
Ele, mais conservador, ela, ativista à frente de movimentos
estudantis de vanguarda. Ele a admirava, mas preferia ficar de fora
de suas atividades, muito agitadas para seu temperamento reservado.
A passagem deles pela Escola foi brilhante, e dois meses após a
formatura, casaram-se sem ritos e sem ditos. Não contaram para os
amigos, que, aliás, eram bem poucos. Aos parentes, um lacônico
comunicado.
Gibran tornou-se o mais admirado mestre da Escola. Helga abriu um
consultório numa área nobre, atendendo a uma clientela de renome
político e social. Ganharam dinheiro, mas, não tanto quanto amor e
carinho.
Felizes, viveram em Berlim por cerca de 30 anos. A vida parecia
perfeita, com dois filhos, uma bela casa e carreiras de sucesso. Até
que, sem um motivo aparente, ele expressou o desejo de mudar para
Stuttgart, a sua querida cidade natal, da qual tinha belas
recordações da infância e juventude. Helga não se entusiasmou com
a ideia.
Gibran sugeriu umas férias, para que ela conhecesse Stuttgart.
Ela, então, foi incisiva, se não gostasse, não sairiam de Berlim.
Dois meses depois da viagem de férias, estavam de malas prontas,
despedindo-se dos alunos, amigos e clientes, e embarcando para sua
nova morada em Stuttgart. Levavam na bagagem muitos sonhos, ele mais
do que ela. Os filhos já crescidos não seguiram os pais. A filha
foi desenvolver seus dons de magia na Índia. Ela era uma bruxinha
que vivia mais no plano astral do que no físico. O filho estudava
pintura na França, e lá permaneceu, prometendo visitar os pais,
durante as próximas férias.
Era o início de 1890, quando eles abandonaram suas carreiras
profissionais e foram viver numa pequena fazenda, na área rural de
Stuttgart, com hortas e pomares espalhados por suaves encostas
cercadas de bosques e à margem de um regato de águas transparentes.
Ele, 52 anos, ela, 50, ambos mais joviais do que quando se
conheceram, rejuvenescidos pela magia da expectativa da nova vida.
CAPÍTULO DOIS
A nova casa era de madeira, brilhante pelo verniz e cercada pelo
verde. Uma ampla varanda se debruçava sobre o bosque e permitia
avistar ao longe o centro da cidade. Erguida num morrete, no meio de
um bosque, a trilha até o sítio era de terra e muito sinuosa.
Extasiados pelo encanto da vida no campo, o casal resolveu levar
uma vida simples, dispensando as antigas ambições de quem mora num
centro urbano. A mudança foi maior para Helga, que tinha lá suas
sofisticações, mas preferiu deixá-las em Berlim. Gibran vivia em
êxtase nos seus primeiros dias de vida no campo.
A chegada deles a Stuttgart aconteceu no fim do inverno, mas ainda
fazia muito frio pela manhã, e Gibran acordava cedo para respirar o
ar gelado, enquanto mexia com a terra, firmava os mourões das cercas
e cercava de pedras os futuros jardins. Helga acordava mais tarde, e,
mal levantava da cama, ia direto para o quintal, onde conferia o
progresso da construção dos seus canteiros.
Depois, sentados, à espera dos primeiros raios de sol, faziam o
desjejum e se alimentavam mais de sonhos do que de pães, bolos ou
vinho. A região era próspera de pomares, e as frutas frescas e
saborosas eram presenças obrigatórias na primeira refeição do
dia.
A manhã era dedicada a mexer com a terra, e a tarde era a vez da
casa. Havia muito que fazer, tanto do lado de fora como no interior
da casa. E eram os dois que se encarregavam de todos os afazeres.
Nada de empregados ou serviçais, as tarefas eram assumidas pelos
dois, e por ninguém mais.
No fim do dia, cansados e cheios de projetos para o dia seguinte,
caiam no sono e sonhavam com um tempo futuro, cada qual com suas
expectativas pessoais. Helga via o seu recanto florido e perfumado.
Gibran ouvia conselhos e ensinamentos, como se à madrugada visitasse
uma sala de aula, e de lá só saía com o canto do galo.
Parecia uma segunda lua de mel, que era, de fato, a primeira,
pois, o casamento fora festejado num ambiente íntimo, sem viagens e
nem passeios. O dia seguinte ao casamento encontrou-os saindo cedo
para o trabalho, e passaram-se alguns anos, antes que pudessem viajar
de férias. Filhos cobrando atenção e regendo a programação
diária não permitiam que se pensasse em lua de mel. E assim passou
o tempo, encontrando-os celebrando o casamento, quase 30 anos depois.
CAPÍTULO TRÊS
Gibran e Helga abandonaram os antigos hábitos, alguns herdados da
família e outros criados a dois. Rotinas, horários e rigores foram
trocados por libertações e inovações. Os rituais foram renovados
tanto os físicos como os espirituais.
Gibran passou a se interessar por estudos de teosofia. Ele vinha
recebendo mensagens nos sonhos, que ganharam formas no bico de pena,
e passou a registrá-los num diário. A parte da tarde começou a ser
ocupada pelos escritos e leituras.
Helga continuava entregue às plantas e flores, transformando
espaços em jardins. A sua criatividade produzia obras de arte,
combinando cores e flores. Os jardins ocupavam os espaços vagos
entre a casa e o córrego que atravessava a propriedade e que levava
águas cristalinas pela encosta abaixo.
O tempo passava, e eles nem sentiam. Os sentimentos entre eles se
fortaleciam, e eles se amavam como nos primeiros tempos de casados,
ou talvez mais. As conversas aconteciam pela manhã, na hora da
terra, e à noite, que passou a ser a hora da casa. A tarde era
reservada aos estudos de Gibran e aos retoques domésticos de Helga,
que trazia o jardim para dentro de casa, enfeitando e colorindo cada
cômodo, com arte e bom gosto.
Quase um ano após a mudança, eles conheceram um sábio homem,
que se chegou a eles por um acaso, se é que tal existe. Eles estavam
na cidade, tinham ido visitar os pais de Gibran. Sentados à mesa de
um pequeno restaurante, eles ouviram uma conversa estranha que vinha
da mesa ao lado.
Helga chamou a atenção de Gibran, que vivia distraído em suas
viagens astrais, filosofando e monologando consigo mesmo. Os dois
ouviram falar de mensagens recebidas de Mestres, de poderes
mediúnicos, de doutrinas secretas, telepatia, rituais mágicos e
outros assuntos repletos de mistérios e palavras de magia.
Dois homens eram os personagens da conversa. Um perguntava e outro
respondia. O curioso era um discípulo do mestre teosofista. Membros
da Sociedade Teosófica, eles haviam marcado um encontro,
aproveitando a passagem do discípulo pela cidade.
O interesse de Gibran e Helga pelo que ouviam, fez com que os
teosofistas percebessem o esforço que faziam para não perder uma só
palavra que vinha da mesa ao lado. Convidados para sentar com eles, o
casal não pensou duas vezes. E ficaram calados e ouvintes.
O discípulo partiu e o mestre ficou a conversar com os dois. A
tarde deu lugar à noite, e eles nem perceberam. Já era tarde,
quando se despediram e marcaram um novo encontro na casa do mestre. O
mestre estava no centro da cidade visitando um amigo, e voltaria para
casa no dia seguinte. A casa dele ficava a 10 minutos a pé do sítio
de Gibran e Helga. Feliz coincidência!
Naquele tempo, Gibran ainda não tinha noção que coincidências
não existem. O mestre marcou o encontro para daí a três dias,
despediram-se e cada qual seguiu o seu caminho.
Gibran olhou para Helga, e ela sorriu para ele, meio assustada e
amedrontada com o que ouvira. Conversaram aquela noite até tarde,
sobre os relatos estranhos que tinham ouvido. Ela confessou que
estava meio receosa, mas que não perderia a oportunidade de saber
mais, nem que tivesse de entrar num castelo sombrio e mal assombrado.
Adormeceram e sonharam muito, mas nenhum dos dois foi capaz de
lembrar os sonhos. Despertaram, no dia seguinte, apressados para
voltar para o sítio. Despediram-se dos pais de Gibran, e pegaram o
trem que os deixaria na estação bem próxima ao local onde moravam.
A viagem pareceu mais lenta do que de costume. E, os dois dias que
antecederam a visita ao mestre pareceram os mais longos de suas
vidas. Enfim, o dia marcado chegou. As horas demoraram a passar. E lá
foram os dois, pela estradinha margeada de belas árvores frutíferas
e acompanhados pelo riacho, que descendo a encosta próxima da casa
deles, parecia segui-los.
História muito interessante nos envolvendo na trama desde as primeiras linhas. Ao término do terceiro capítulo, fica a sensação de buscar o quarto, mas esse somente na semana que vem. Resta controlar a ansiedade.
ResponderExcluirVejo nesse inicio de história algumas semelhanças dessa vida de Gilbran e Helga, passadas na Alemanha do século XVIII, com a vida atual de Gilberto e Flora. Estavam no Rio de Janeiro, casados, com dois filhos de sexos diferentes. Esses filhos seguem aptidões semelhantes, a filha pela magia e o filho pelas artes, da mesma maneira que os atuais. Em determinado momento da vida decidem mudar-se de uma Berlim fervilhante para Stuttgard, cidade mais provincial. Na vida atual o destino é São Lourenço. A casa também é de madeira, inserida no meio da vegetação, de onde se descortina parte da cidade, e onde seus habitantes conseguem uma interação harmônica com a natureza.
Há também a presença de um Mestre que influencia nosso atual Gibran e a partir do momento de estar em São Lourenço é que vão surgindo as oportunidades de contato com os mundos ocultos, a magia e a espiritualidade.
Esse paralelismo creio ser bastante interessante, pois podemos observar que esta sapiência de um Mestre 22 vem sendo adquirida ao longo de diversas existências. Para nós que estamos nos iniciando tem de ser um motivo de alento e de estimular nossa ambição no sentido, tendo o nosso Mestre, procurar sempre as oportunidades de nos aprimorarmos o máximo possível no contato com ele. Creio que somos privilegiados de já termos encontrado o nosso Mestre.
Vamos aguardar os novos capítulos onde além da história que nos absorve, tem certamente muitos aprendizados.
Muito perceptivo, meu caro Avelino!
ResponderExcluirHá muitas afinidades entre as duas vidas, que vão se afastando com o desenrolar da história, sem jamais romper o fio da meada, que prende a vida atual com a última vida.
Assim como, a Missão é a sequência do Caminho de Origem, o Destino de Gibran e Helga revela a profunda relação com a vida seguinte.
Grato pela atenção, Avelino.
Abraço.
Gilberto.
Querido Mestre,
ResponderExcluirTambém percebi as semelhanças entre as vidas, entre a sua vida em São Lourenço com Flora. E senti muito a presença de St. Germain também. Até poderia imaginar que o mestre de Stuttgart pudesse ser discipulo do maravilhoso St. Germain :)
Aguardo o desenrolar da história!
Muitos abraços
Jorge
Que fantástico, Mestre! Mas foi tão curtinho e na parte que mais atiça nossa curiosidade temos que esperar mais uma semana, ah!
ResponderExcluirAs semelhanças entre Gibran e Helga com Gilberto e Flora são perceptíveis, a filha uma bruxinha nata e o filho amante das artes... Assim como Claudia e Roberto.
Devo dizer que assim que o Mestre fora citado no texto minha curiosidade por saber os detalhes dessa conversa aumentaram...Tantos mistérios e as coincidências que não existem... O que será que vai acontecer?
Escrevo entusiasmada não somente por essa belíssima e mágica história, como pelo blog estar de volta... que felicidade minha alma manifesta!
Abraços,
sua mais jovem aprendiz.
Professor,
ResponderExcluirSomente agora pude entrar no link e comentar. O meu navegador abriu uma mensagem de alerta da primeira vez. Estou animadíssima para acompanhar este relato. Aqui nesta mesma Alemanha estamos passando por um verão daqueles e eu não tenho estado muito bem de saúde neste ano.
Um abraço,
Arnild
Muito belo, mestre, Vê-se claramente que não se trata de uma história para entreter o público mas um continuidade dos ensinamentos da numerologia da Alma vivenciada pelo próprio mestre em linguagem simples, mas cheia de encantos.
ResponderExcluirAbs
Mestre, incrível as semelhanças, as vivencias do casal, é intrigante ler sobre suas vidas passadas, aguardando novos capítulos!
ResponderExcluirGostei da narrativa, suave, fluida, apresentando a sequência dos fatos com clareza e instigando quanto ao que possa vir. Vou aguardar os próximos capítulos. Abs
ResponderExcluirQue narrativa gostosa de ler, imaginei que seria instigante! Realmente a história dessa sua vida tem muitas semelhanças!
ResponderExcluirQue bom, que têm tantos leitores acessando e gostando da história!
ResponderExcluirHá muitos mistérios que serão revelados ao longo da narrativa, que podem ser reais ou imaginários e que, cada qual, tire a sua própria conclusão.
Abraços.
Gilberto.