terça-feira, 7 de abril de 2015

TEIA AMBIENTAL - DINHEIRO NÃO MATA A SEDE

Muito se fala, meu caro leitor, das águas e da falta que elas nos fazem. A humanidade vive aterrorizada por uma possível escassez mundial de água, que, aliás, já existe, e que só tende a piorar. Alguns pensam que isto é coisa nova, e que vai passar, como tudo é passageiro na vida. Será?



Em 1998, precisamente na edição do Jornal Nossa Folha, no período de 10 a 25 de abril, eu escrevi uma crônica sobre as águas. Profecia, vidência ou mero bom senso? Vou extrair alguns trechos do texto, e deixo-os a julgamento dos leitores.



Inspirado pela canção de Guilherme Arantes, Planeta Água, eu escrevi: “Água que nasce na fonte serena do mundo e que abre um profundo grotão, faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão”.

Ela brota do seio da terra, pura e cristalina, e se dá, sem fechos, nem preços, para a vida de todos nós. Mas, o homem com a esperteza e mania de civilização, tratou logo de inventar as bicas e criar as taxas para o seu controle e exploração.



Lá pelos idos de 1855, o sábio cacique Seattle enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, que desejava comprar a terra dos índios, onde dizia ser-lhe muito estranho comprar ou vender terras, já que não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água. 
 


E, continuemos cantando a bela canção Planeta Água. “Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao serão. Águas que banham aldeias, que matam a sede da população”. O lirismo da música acaba escondendo a trágica realidade que, a certa altura, já poluída pelos esgotos, pelo lixo e por substâncias tóxicas, a água que mata a sede também pode matar o sedento beberrão. Quem sabe a tecnologia moderna não acaba inventando uma forma de se viver sem beber e sem respirar!



Continuando a nossa cantoria: “Águas que caem das pedras no véu das cascatas, ronco de trovão, e que depois dormem tranquilas no leito dos lagos”. Para os índios, a água dos rios simbolizava o sangue dos ancestrais, e os reflexos nas águas límpidas dos lagos contavam toda a história do seu povo. Os simbolismos modernos continuam os mesmos, daí porque tantos cara-pálidas têm sangue ruim nas veias e uma história de vida tão feia para contar.

E a melodia nos encanta: “Águas dos igarapés, onde Yara mãe-d'água é misteriosa canção. Água que o sol evapora, pro céu vai embora, vira nuvens de algodão. Gotas de água da chuva, alegre arco-íris sobra a plantação. Gotas de água da chuva são tristes, são lágrimas na inundação. Águas que movem moinhos são as mesmas águas que encharcam o chão e sempre voltam humildes pro fundo da terra”.



Enquanto a água volta pro fundo da terra, eu me meto num buraco pra me esconder, não dos homens, porque a eles nada devo, mas esconder-me dos filhos dos nossos filhos, das gerações que herdarão este planeta Terra. As nossas florestas vivem em chamas. Os mananciais da Bacia Amazônica estão ameaçados. Mas, os governantes e os governados vivem preocupados com desempregos e assentamentos dos sem-terra. Mais emprego significa mais indústrias e poluição. Assentamentos trazem mais matas devastadas e mais incêndios nos campos.



Inconsequente, o homem não enxerga nada além do seu próprio umbigo. Os governantes intimidados pelas pressões políticas e sociais agem contra a natureza. O povo incentivado pelos poderosos faz o jogo dos ricos, pensando que assim, todos poderão, um dia, se tornar ricos também.



Ainda há tempo para mudar a história. Não se pode deixar as águas rolarem. Sem água não há vida. E nenhum dinheiro do mundo pode comprar a água que já não mais exista. Os governantes estão escondendo a verdade. Os gestores da água estão mentindo. O povo está tendo a sua atenção voltada para outros temas que importam muito para os ricos, mas bem pouco para os mais pobres. O petróleo não é mais valioso que a água. O petróleo gera dinheiro e a água sustenta a vida. Vamos dar prioridade ao que merece mais a nossa atenção. Os valores expostos há quase 20 anos continuam os mesmos.

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