quinta-feira, 5 de julho de 2018

CRISE MUNDIAL - HISTÓRICA REPETIÇÃO


Hoje, vou usar trechos do livro de Fritjof Capra, O Ponto de Mutação, para tentar esclarecer as permanentes crises por que passa a humanidade. Recuso-me a explicar as crises por envolver causas múltiplas e sem padrões definidos. Os esclarecimentos visam, muito mais, dar aos leitores uma conscientização de que tudo se repete, as crises são sempre as mesmas, mas com facetas diferenciadas.

Diz o autor do livro, logo no 1º capítulo que, desde a metade do último século, vem ocorrendo, mais do que em tempos passados, um estado de profunda crise mundial. Trata-se de uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida – a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política.

Ele alega que, desta feita, a crise é de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e efeitos sem precedentes em toda a história da humanidade. De repente, nos vimos forçados a nos defrontar com a real ameaça de extinção da raça humana e de toda a vida no planeta.

Pouco depois da virada da metade do século XX, na década de 50, líderes mundiais decidiram usar os chamados “átomos para a paz” e apresentaram a energia nuclear como a fonte energética do futuro, confiável, limpa e barata. Hoje, estamos conscientes que, a energia nuclear não é segura, nem limpa e nem barata.

Os reatores nucleares liberam elementos radioativos exatamente iguais os que caem sobre a Terra, após a explosão das bombas atômicas. Milhares de toneladas desse material tóxico já foram descarregados no meio ambiente, em consequência das explosões nucleares e de vazamentos de reatores.

E continuam se acumulando no ar que respiramos, nos alimentos que comemos e na água que bebemos, aumentando o risco de se contrair câncer e doenças que afetam a nossa imunidade, por atingirem o nosso sistema imunológico.

Mesmo pondo de lado a ameaça de catástrofe nuclear, o ecossistema global e a futura evolução da vida na Terra estão correndo sério perigo e podem resultar num desastre ecológico em grande escala. A superpopulação e a tecnologia industrial têm contribuído de várias maneiras para uma grave deterioração do meio ambiente natural, do qual temos total dependência.

Além da poluição atmosférica, nossa saúde também é ameaçada pela água e pelos alimentos, contaminados por uma enorme variedade de produtos químicos tóxicos, empregados como aditivos alimentares sintéticos, pesticidas, agrotóxicos e em produtos plásticos.

Enquanto as doenças de subnutrição e infecciosas são as maiores responsáveis pela morte no Terceiro Mundo, os países industrializados são flagelados pelas doenças crônicas e degenerativas, chamadas “doenças da civilização”, dentre as quais, enfermidades cardíacas, câncer e derrame.

Quanto ao aspecto psicológico, enfrentamos depressões graves, esquizofrenia e outros distúrbios comportamentais, que têm suas origens numa deterioração paralela de nosso meio ambiente social. O aumento de crimes violentos e de suicídio de pessoas jovens é tão elevado que já é considerado como epidemia.

A par dessas patologias sociais, segundo a visão de Capra, tem-se presenciado anomalias econômicas que parecem confundir nossos principais economistas e políticos. Inflação, desemprego e uma distribuição grosseiramente desigual de renda e de riquezas passaram a ser características estruturais da maioria das economias.

Discute-se o que se deve atacar em primeiro lugar – a crise energética ou a inflação? Não se percebe que ambos os problemas, como os demais são apenas facetas de uma mesma crise. Quer falemos de câncer, criminalidade, poluição, energia nuclear, inflação ou escassez de energia a causa é a mesma, ainda que os efeitos pareçam não ter relações.

Os economistas são incapazes de entender como conciliar o progresso e o controle da inflação, os oncologistas estão totalmente confusos acerca das causas do câncer, os psiquiatras são mistificados pela esquizofrenia, a polícia vê-se impotente em face da crescente criminalidade, e a lista vai por aí afora.

Segundo concluiu em seus estudos, Capra declara que esses problemas são sistêmicos, o que significa que estão intimamente interligados e são interdependentes. Não podendo, por isso, serem entendidos por uma metodologia fragmentada, que é característica de nossas disciplinas acadêmicas e de nossos organismos governamentais.

Diante dessas conclusões, não podemos fugir de admitir que a maioria dos nossos principais pensadores usa modelos conceituais obsoletos e variáveis irrelevantes. E uma afirmativa que polemiza ainda mais essas conclusões é a que atribui esse impasse conceitual à quase totalidade dos mais eminentes intelectuais ser constituída por homens.

Rigidez, tipicamente masculina, pouca sensibilidade para efetuar mudanças, emprego da imposição de verdades, pela força ou pelo uso do poder, são as consequências naturais desse predomínio quase absoluto da presença de homens à frente das experiências e conclusões.

A conclusão a que se pode chegar é que, perante regras e conceitos inovadores, enfrenta-se uma resistência à mudança de métodos e posturas para tratar dos velhos problemas. E assim caminha a humanidade, entre conflitos e crises, numa histórica repetição. Os velhos efeitos se repetem, mesmo diante de novas causas.

Como dizia Quincas Borba, na excelente obra de Machado de Assis – é sempre Humanitas lutando contra Humanitas.