sexta-feira, 30 de novembro de 2018

OS SEMEADORES DO AMANHÃ - CAPÍTULOS 16. 17 E 18

CAPÍTULO DEZESSEIS
Gibran meditava e se deixava transportar para outro tempo. Ele se via numa terra estranha e falando um idioma estranho. A conversa era outra, mas os ideais eram os mesmos. Helga de um lado e seus escritos do outro eram suas únicas companhias naquelas divagações reflexivas.
Ele se via num local distante, escrevendo e conversando. O seu Mestre transmitia ondas que se materializavam em partículas, mensagens de sabedoria resultando em palavras nas folhas em branco à sua frente. Helga falando de seus canteiros de ervas e colocando pratos de sopas perfumosas e saborosas à sua frente.
Ele sabia que eram lembranças da última vida. Helga voltara com ele, e os escritos estavam arquivados em sua memória espiritual. Ela ajudava-o a relembrar os momentos e a sua memória seduzia-o a rememorar os conselhos do Mestre.
Imagens fugidias e recomendações esparsas faziam parte do quebra-cabeça. A casa simples e confortável, o quintal amplo e encanteirado. Ervas nos canteiros e na cozinha, do produtor ao consumidor.
Palavras soltas no papel, conselhos de sabedoria. Filhos percorrendo o mundo, muitas saudades. Mão na terra, riacho cortando as beiras de caminho, regas diárias e colheitas fartas. Iniciação numa vida, preparação para a outra. Agora, era a vez da outra.
Ideias, ideais e lembranças. Portais ora abertos ora fechados. Uma fenda no tempo ou o tempo sem fendas nem divisões. Hoje, o amanhã de ontem da mesma alma, ou, nova vida e outra consciência cuidando das mesmas tarefas?
Por momentos, ele parecia ouvir a voz mansa e penetrante do Mestre ditando-lhe ensinamentos e conhecimentos. De repente, ele se sentia no passado, noutra terra, noutro corpo e noutra missão. Era preciso aprender, para saber. Saber o que, perguntava ele, naquela época? Saber por quê? Não havia resposta.
Agora, ele percebia o quanto ele detinha conhecimentos. Aprendizado do nada e sem saber como explicar. O Mestre voltara, é verdade! Novas mensagens, novos conhecimentos. Mas, e as respostas que surgiam na mente, vindo de lugar nenhum! Eram conhecimentos passados, eram segredos soprados no ouvido? Quem os soprava? O Mestre, sem dúvida, o amigo e mestre Saint Germain!
As verdades que ele tanto defendia não eram ideias dele, ele era somente o mensageiro. O mensageiro da humanidade, o discípulo a serviço do Mestre, o fiel escudeiro da Fraternidade Branca. Ele semeava em solo estéril, enquanto a matéria orgânica não fertilizava o solo. Helga encontrava um pequeno espaço do terreno fértil, e ali depositava as suas sementes.
Final da tarde, o frio chegando e as tarefas em dia. Chá ou café? Sopa ou um chocolate quente? Tudo muito saboroso, pela presença adorável de Helga e a certeza de que eles nunca estavam sós. O Mestre envolvia-os de saúde, protegia-os contra tudo e todos. Nada a temer, nenhum perigo no ar. Amanhã será sempre um novo dia, ou quem sabe uma nova vida. Que diferença faria, era tudo o mesmo!


CAPÍTULO DEZESSETE
O amanhecer de um dia, o nascer de um novo sol, o surgir de novos conceitos e ideias a defender. Cada dia era uma existência própria e inteiriça, com início, meio e fim. Tarefas do cotidiano eram empreitadas espirituais de repercussão mundial.
Gibran e Helga haviam sido inspirados a denunciar a mídia, os meios de comunicação que conspiravam pelos ricos e pela distorção da verdade. As notícias veiculadas eram fabricadas em máquinas de produzir mentiras e retocadas com fios de sedução e tentação. O resultado era a propaganda enganosa, falsas denúncias, sutis agressões à honra de criaturas honestas e defesa e exaltação de corruptos e gananciosos.
Tudo em nome do progresso e das riquezas. Quem acreditasse nessa falácia, seria mais um tolo a engrossar as fileiras das massas ingênuas e controladas. Os meios de comunicação serviam o poder. O poder alimentava uma restrita comunidade de manipuladores da verdade. Esta comunidade era a responsável por espalhar inverdades e disseminar o medo nas populações. O medo era a matéria-prima do poder, a essência que mantinha as massas controladas e dominadas, sem coragem para reagir.
Gibran não se conformava e reagia contra a mídia. Esta não estava nem aí para o que Gibran dissesse ou denunciasse. Ele não acreditava na sua fraqueza, e insistia em denunciar esses manipuladores de notícias. Notícias eram falsas com um fim determinado, ou verdadeiras com a intenção de distrair as massas.
Gibran acreditava que nada era em vão, qualquer movimento agia como onda e se espalhava por todo o planeta. Se alguém começasse a repetir uma tese, logo ela seria repetida por muitos, e atingiria terras distantes. Era assim que agiam os partidários da escravidão pelos meios de comunicação, e ele responderia na mesma moeda. Ele sabia que nunca estava sozinho, e que tudo que fizesse, por mais simples que fosse, teria repercussão no mundo.
Gibran e Helga se envolveram em inúmeras atividades na cidade, e logo se tornaram conhecidos por suas ideias ambientalistas e pela seriedade com que lidavam com o poder. Eles fundaram uma associação cultural, e ali procuravam valorizar atividades que despertassem a consciência do povo para suas origens, para a história de suas famílias e para o culto às raízes e tradições de Minas.
Vamos encontrá-los na rádio local, sendo entrevistados sobre a importância da conservação da memória da cidade, mediante a construção de um museu. Eles nunca perdem tempo ou espaço. Onde quer que estejam, aproveitam as brechas para semear as suas sementes do amanhã.
Eles sabem ser convincentes, por usar uma linguagem sincera e franca, não atacando e nem condenando. Eles apenas defendem e valorizam as suas ideias. As antigas construções, em sua maioria, já tinham sido derrubadas. Contra esse descaso do poder público com a história da cidade, eles mostravam ações, de proteção ao patrimônio histórico e arquitetônico, ocorridas noutras cidades, e que resultaram em benefícios para a população.
Alguém alegou que o progresso exigia a construção de novos prédios e de novas avenidas mais amplas para atender ao crescimento das cidades. A resposta foi incisiva e imediata, “mas sem destruir o que já existe e que faz parte da história local”.
O entrevistador insistiu num progresso de mais prédios para abrigar mais gente e avenidas mais largas para receber os novos veículos. Ao ser indagado sobre essa necessidade de expandir o acesso à moradia e ao transporte, Gibran respondeu com simples perguntas: “e os espaços livres para as caminhadas, as praças para os encontros de fim de tarde, a pureza do ar para sentir a fragrância da floração de primavera e os grandes parques para o lazer dos jovens”? O que fazer além de se deslocar de automóvel, escalar enormes espigões dentro de elevadores velozes e furiosos e ficar trancado dentro de cubículos de concreto?
A cidade era pequena, mas progredia vorazmente, em direção ao destrutivo progresso das grandes cidades. Dentro em breve, novas avenidas, novos prédios e menos praças e jardins. Gibran prosseguiu pintando um quadro triste e desolador, calando o interlocutor e dando um alerta do risco em confundir progresso com ocupação desordenada do solo.
Ele mencionou outras cidades no mundo em que, a abertura de novas vias de transporte, logo se mostrou infrutífera, diante do aumento de veículos em circulação pelas modernas e convidativas vias. O tráfego piorou com a expectativa de pistas melhores, mais largas e mais bem sinalizadas, que eram atrativos a mais para serem ocupadas pelos veículos que, ou ficavam nas garagens, ou ainda estavam nas agências, à espera de comprador.
Gibran concluiu que não era expandindo as possibilidades de circulação e ocupação que os problemas urbanos seriam resolvidos, mas com planejamento e desenvolvimento que privilegiasse a qualidade de vida. E, como ele costumava dizer, qualidade de vida é pureza no ar e na água, e segurança nas ruas. O resto vem a reboque.
O jornalista que o entrevistava gaguejou, antes de reconhecer que, realmente, mais gente e mais trânsito circulando pela cidade não podiam ser creditados a favor da qualidade de vida. Gibran defendeu destinar-se mais ruas somente para pedestres, construir e preservar praças ajardinadas com pequenas conchas acústicas para recitais e, ambientes aconchegantes em ruas e largos, para a colocação de mesas e cadeiras para relaxantes bate-papos regados a café ou chá.
O casal se despediu dos ouvintes, com um alerta de que tudo que defendiam não era utopia, mas projeto de vida para um futuro sadio. Governantes e governados precisavam dar as mãos e planejar a cidade do futuro. Nada de riquezas e ostentações, mas conforto, beleza natural e vida saudável.
Aquela volta para casa foi revigorante, num sol morno e a brisa perfumada. As sementes foram lançadas numa maior quantidade pelas ondas do rádio. Muitas se perderiam às margens do caminho, outras seriam tratadas com cuidado, mas por muito pouco tempo. E poucas, muito poucas germinariam e atingiriam a consciência do povo num tempo futuro.


CAPÍTULO DEZOITO
Gibran se esticou na rede, e perguntou a Helga o que ela achou da entrevista. Ela pensou antes de responder, e disse que não esperava grande coisa, além de um burburinho entre amigos.
Se as grandes redes noticiassem algo semelhante, em rede nacional, talvez houvesse alguma repercussão que provocasse mudanças de comportamentos. Mas, uma entrevista em rádio local, para uma população pouco esclarecida, não ia influir muito. Ela só defendeu a iniciativa, para não desprezar uma chance que podia atingir uma meia dúzia de pessoas.
Gibran aproveitou a deixa para lamentar que a sociedade iludida entregasse nas mãos dos poderosos da mídia o direito de criar verdades. O que acabava prevalecendo não era a verdade em si, mas o mais moderno e as tendências predominantes a partir de pesquisas manipuladas por interesses econômicos.
Os meios de comunicação divulgam mentiras com sabor de comprovadas verdades. Os anúncios de televisão são verdadeiros primores de mentiras oficiais. A qualidade exaltada, a riqueza ofertada, o cenário fantasioso, tudo conspira para uma perfeita encenação de verdades fabricadas.
Tem gente que crê em tudo que ouve e que vê. E para justificar sua ingênua credulidade, essas pessoas afirmam que se não fosse verdade, a televisão não mostraria daquele jeito. E assim as massas se deixam manipular, enganadas por falsas notícias e argumentos enganosos.
Helga lembrou-se da conversa com amigos sobre o livre arbítrio. Ela protestara, perguntando que livre arbítrio estava sendo alegado. Livre arbítrio pode ser tudo que se imagine ser, menos livre. As opiniões são próprias ou conduzidas pelos meios de comunicação? Quem estuda os temas que são levantados pelos órgãos de imprensa? Quem avalia as afirmações dos formadores de opinião pública, antes de dar a sua opinião?
Dizia Gibran, pensando em voz alta, que o povo parecia um bando de zumbis, repetindo frases feitas, cantarolando músicas destituídas de valor e comprando produtos sem antes refletir se querem mesmo ou se precisam do monte de bugigangas oferecidas a perder de vista. Eles não passam de robôs comandados pela esperta mídia que mente dentro da lei.
A rede televisiva apregoa princípios e padrões, mas, anuncia bebidas, remédios enganosos e produtos que envenenam o corpo. O que importa mesmo é a conta milionária que sustenta campanhas publicitárias. Se o que é anunciado faz bem ou faz mal, ou não influi e nem contribui, não entra em discussão.
O telejornal acaba de noticiar uma notícia real, mas no intervalo uma propagando enganosa confunde a cabeça do cidadão. As notícias se misturam com as propagandas, dando uma sensação a quem assiste que uma está integrada à outra, e que pode confiar na mensagem do intervalo. Tudo enganação! A mentira dita em horário nobre, em rede global, passa a ser verdade.
Por tudo isto, e muito mais, as pessoas perderam o referencial da verdade. Ninguém mais se preocupa com o que diz, basta um simples desmentido e fica o dito pelo não dito. O hábito da mentira gerou o boato, que é o filho mais novo da mentira, e que já está bem crescidinho.
As propagandas enganosas se sucedem, desafiando as leis, enganando o consumidor e fazendo crescer o faturamento das empresas. As consequências ficam por conta dos grandes escritórios de advocacia que minimizam os efeitos com processos longos e inconclusivos, em sua grande maioria.
Estas reflexões tiram Helga do sério, e deixam Gibran pensativo e calado. Ela acredita que é preciso fazer alguma coisa, ele confia e espera, e enquanto espera trabalha. E para consolar Helga, ele argumenta que as pessoas ficaram acostumadas a serem comandadas, e não valorizam suas opiniões e não se dão conta que não mais tomam decisões pessoais.
Longe de se acalmar com a intervenção de Gibran, Helga ataca com maior indignação os que são levados no cabresto e reclamam de tudo. Ela ataca a sociedade dos “coitadinhos de mim”, onde todos resmungam e cobram ajuda, como se os outros, alguns que não eles, devessem assumir as suas tarefas. Quando esses outros resolvem ajudar o preço é muito caro, ainda que possa ser pago a médio e longo prazo, em prestações mensais, nem pequenas e nem suaves.
Gibran intervém, e pede para Helga se acalmar, e promete que tudo vai mudar com a chegada dos novos tempos. Ela ouve, e ele fala desses tempos que cobrarão novas atitudes, quando quem não comandar seu próprio destino não terá motivo para permanecer no mundo.
Helga pergunta: - e os manipuladores, os falsos guardiões da verdade, as redes globais e os bons mocinhos que douram as notícias enobrecendo as mentiras? Esses também perderão poderes e serão reconhecidos como inimigos da humanidade. Novas sementes formarão um novo campo humanitário, com frutos nobres e sadios, nascidos da liberdade de um solo fértil e produtivo. Os novos frutos trarão um sabor diferente à vida na Terra.
Helga olhou com um jeito meio irônico para Gibran, e exclamou: “Lá vem você com essas imagens de lavoura e campo, como se vivêssemos numa sociedade rural em outra época e lugar”.
Ele sorriu, balançou a cabeça, e preferiu mergulhar em suas reflexões. No silêncio de sua mente, ele visualizava uma nova sociedade, ordeira e hospitaleira, abrindo as portas para os visitantes e acolhendo no coração os desvalidos e ignorantes. Ela o acusava de otimista e sonhador, e talvez ela tivesse razão. Mas, ele tinha os seus motivos para ser assim.
Era melhor sonhar dormindo, pois o corpo pedia repouso. A noite chegaria trazendo paz ao sítio exterior e ao interior. O frescor da noite convidava para o aconchego da cama. Dois corpos se aqueceriam, por dentro e por fora. Mas, isto já faz parte da privacidade do casal!




sexta-feira, 23 de novembro de 2018

OS SEMEADORES DO AMANHÃ - CAPÍTULOS 13, 14 E 15

CAPÍTULO TREZE
Agora, vamos encontrar Gibran falando numa Audiência Pública, que trata da educação como meio de conquista social. Ele afirma para um público atento que, aquilo que for verdadeiro em qualquer região da Terra, o é também no resto do mundo.
A verdade, a sabedoria e a justiça não têm fronteiras e nem limites. Elas passeiam pelos quatro cantos da Terra, viajam aos confins do universo, ressoam em todas as galáxias e retornam ao ponto de partida, intactas, sem quaisquer correções.
Ele dizia com firmeza, por convicção, que essa é a verdade que vai prevalecer no ensino de amanhã. Não mais terá sentido a repetição de fórmulas viciadas, que representam pensamentos de alguns, mas que não servem para todos. Enquanto isso não for aceito, o ensino prosseguirá decadente e cada vez menos valorizado.
Os jovens não mais se amoldam às antigas formas, e, insubmissos, eles rejeitam os padrões arcaicos do ensino, e se manifestam, por rebeldia, protestando e destruindo. Empolgado, ele se inflamava ao exigir que cessasse essa cansativa e insistente transferência de valores e sucessão de enganos, que se tornou o ensino nos últimos tempos.
Gibran acusava a sociedade de estar condicionada a padrões que só interessam a uma pequena elite, mantendo a grande massa escravizada a mentiras, impedindo a maioria a ter acesso a uma vida plena e prazerosa.
Em suas palavras, ele desafiava os governantes a começar uma profunda reforma no ensino, abolindo-se, definitivamente, o hábito de só transferir conhecimentos, impostos como exatos e inquestionáveis, trocando-o por uma profunda busca das verdades eternas, que vinham sendo sufocadas pela inquisitora ciência materialista.
Ele afirmava enfático que tudo evolui no universo, sendo a criatura humana parte desse processo evolutivo, num processo interior, consciente ou não. Essa evolução tem sido responsável pela recusa das novas gerações em aceitar as escolas com seus métodos ultrapassados e inadequados. Era preciso mudar, e mudar já.
Enquanto não se dá a mudança, o nosso casal de semeadores segue semeando arquétipos futuristas em solo pedregoso. As sementes sutis e fluídicas não são bloqueadas, elas penetram nas rochas duras e começam um processo de germinação que amolecerá a pedra e permitirá o surgimento de embriões dos frutos do futuro.
Helga passava os mais criativos dons das artes e da natureza. Gibran estimulava novos comportamentos e projetos de educação inspirados numa sociedade idealista e justa. Eles semeavam a boa semente em solo fértil. As suas sementes não eram de hoje, eram as dos frutos de amanhã. Eles também não eram semeadores comuns, eles eram os semeadores do amanhã.

CAPÍTULO QUATORZE
Enquanto a maioria se lastima da vida, eles projetam o amanhã e semeiam. Muitos recorrem aos Bancos e Financiadores de Sonhos, eles apenas trabalham. A sociedade luta contra as poderosas forças da natureza, o casal respeita e confia nos Espíritos da Natureza.
Sementes de saúde, de educação, de justiça, de cultura, de amor, vão sendo espalhadas ao sabor do vento, adubadas pela matéria orgânica mental e germinam ao se integrar aos solos em que venham a repousar.
Só quem entende o poder dessas energias é quem confia no futuro da humanidade. Eu entendo e confio, e eles também, o que, de fato, é uma coisa só. Paradoxal, enigmático, um koan? Talvez, quem sabe!
Não é simples e nem fácil acompanhar certas imagens que procuramos projetar em suas telas mentais, algumas hão de dar nó na cabeça, como a do parágrafo anterior. Tentem relaxar e se deixem envolver pela essência mágica de nossas palavras que tudo fica bem mais fácil.
Comecem deixando de lado as exageradas racionalizações que prevalecem no mundo materialista que governa suas vidas. Se a dor de cabeça mesmo assim persistir, se recusem a consumir analgésicos e aprendam a dominá-la por sua força de vontade.
Pensem numa faixa de prata, envolvendo a cabeça, na altura da testa. Sintam a frieza do metal de encontro com a pele e pressionem mentalmente os pontos de dor. Imaginem a cabeça envolvida por ondas de energia de prata, inspirem profundamente e expirem com força, dando uma ordem mental para que a dor cesse imediatamente.
Não pense mais na dor, que ela logo desaparecerá em obediência à sua ordem. Se a dorzinha ainda persiste, repita o ritual, com paciência e maior convicção. Nunca duvide dos seus poderes, eles são ilimitados, é só acreditar.
Assim agem os nossos semeadores. Eles não temem forças contrárias, eles sabem trabalhar as suas energias de poder.
Bem que eles tentam passar seus ensinamentos para parentes e amigos. Eles ouvem e até entendem. Uma coisa, porém, é aceitar e outra é ser capaz de segui-las. Trocar remédios por práticas mentais é muito estranho, muito estranho mesmo! Se não dizem, pensam.
A maioria não acredita que possa existir poder maior do que seu remedinho de cabeceira. Assim, perdem excelente oportunidade para desenvolver suas faculdades psíquicas; esquecidas, desprezadas e tão subestimadas.
O nosso casal semeador faz discursos inflamados denunciando o engodo no tratamento das dores e doenças somente pela ingestão de remédios alopáticos. Eles esclarecem que, se as drogas químicas são chamadas de remédios, só pode ser porque não curam, e só servem para remediar.
Ninguém acredita que, se a causa não for removida, a dor que sumiu aqui vai reaparecer ali. Os médicos levam tanto tempo estudando para nos dizer exatamente o contrário, como evitar a crença em remédios?
E se eles receitam remédios para dores e doenças, só pode ser com a intenção de realizar a cura. Não é verdade? Não, não é. Ou melhor, sim é, mas não exatamente. Ou quem sabe, melhor seria dizer que eles pensam que é. É, é esta a resposta correta, eles pensam estar certos, porque foi assim que estudaram, foi isso que aprenderam.
Existem alguns médicos que já não pensam dessa forma, mas, ainda são muito poucos. Estes são os mais experientes que desenvolveram estudos e participaram de pesquisas que os levaram a tais conclusões. No Brasil, eles são poucos, mas, nos países mais desenvolvidos, nem tão poucos.
Eles fazem seus diagnósticos avaliando os aspectos emocionais e psicológicos dos pacientes, e não somente os sintomas físicos. Eles receitam práticas e terapias que curam a desarmonia entre corpo e alma. Assim pensava Hipócrates, o pai da medicina. Assim concluiu Samuel Hahnemann, o criador da homeopatia. Assim definia saúde, o Dr. Bach, descobridor das propriedades terapêuticas dos florais.

CAPÍTULO QUINZE
Achei por bem abrir um novo capítulo para dar um enfoque menos técnico, e mais comercial, sobre a medicina moderna. Fala-se da máfia de branco, para rotular os médicos que taxam seus serviços com preços exorbitantes. Eles são acusados de tratar pacientes como meros objetos, quase não conversando e despachando-os para máquinas que se encarregarão de diagnosticá-los com algum tipo de doença. Sim, não há como escapar de algum órgão em mau funcionamento. As máquinas modernas são detalhistas e não perdoam nada.
A humanidade está doente. Esta afirmação é encontrada em todos os estudos mais sérios dos órgãos mundiais de saúde. Se há tanto remédio, tantos equipamentos e avançadas técnicas de tratamento, como admitir esse estado caótico da saúde no mundo? E não vale falar dos povos miseráveis e famintos de algumas regiões da África e da Ásia.
Culpar os médicos por esse caos é insensato. Mas, absolvê-los de culpa, talvez não seja uma sentença justa. As causas podem ser encontradas no modo de vida da população mundial, em especial nos grandes centros urbanos. Nessas megalópoles, são assustadores os índices observados de doenças cardíacas, cânceres e outras doenças degenerativas, sem esquecer os distúrbios psicológicos que estão levando as sociedades à loucura.
Gibran costuma insistir que as doenças da humanidade têm suas origens no excesso de comida, e não na fome; no coquetel de remédios, e jamais na falta de medicamentos e na prevenção indiscriminada de doenças por meio de vacinas. Na visão oriental, a solução de qualquer problema não pode ser obtida nem com muito, nem com pouco, mas com o perfeito equilíbrio entre as partes envolvidas.
Pensando assim, Gibran, condenava tudo que era demais. Remédios e vacinas estavam sendo consumidos em excesso, por recomendação médica, e não por automedicação. As vacinas estão sendo aplicadas a esmo, com a intenção de barrar as doenças, com isso fragilizam o sistema imunológico.
Protegido contra umas doenças, o corpo humano, inflacionado de vacinas, se fragiliza para novas doenças. O sistema imunológico, aprisionado por tantas vacinas, abre a guarda e não produz os anticorpos necessários para evitar a invasão de novos vírus.
A medicina é voltada para a cura de doenças, e não para preveni-las. A cultura das vacinas foi introduzida pelos laboratórios internacionais com a cumplicidade do sistema financeiro e a conivência dos governantes e políticos de, praticamente, todas as nações. Gibran repetia o seu discurso sem descanso, sem dar trégua aos interessados ou atoleimados defensores dos métodos de prevenção por vacinas ou remédios.
Ele afirmava que um corpo sadio dispensa remédios. Se estes são consumidos, preventivos ou terapêuticos, o corpo ou está doente ou logo adoecerá. As universidades de medicina não ensinam os médicos a tratar da saúde, mas somente de doenças. Os efeitos não poderiam ser outros, vacinas provocando doenças, remédios alimentando doenças.
Gibran fazia ressalvas, lembrando que não se muda a mentalidade da humanidade antes que se passem algumas gerações. Enquanto isto, remediar e não curar seria inevitável. A verdadeira cura é um ato consciente que vem de dentro de cada criatura. A cura se dá de dentro para fora, com a mudança de mentalidade e de atitudes.
Gibran trouxe para esta vida muitos dos sábios conceitos aprendidos na última encarnação, herdando, do seu Mestre Espiritual, todos os conhecimentos ocultos a serem semeados na vida seguinte. Ele não se conformava com os desmandos sociais e políticos que predominavam em todas as nações. Ele se rebelava contra as absurdas leis que impunham as vontades de uns poucos sobre os direitos da maioria.
Ele acusava a insana busca do dinheiro e do prazer pela vida desregrada, cheia de vícios e desprovida de princípios éticos, que predominava na maioria, senão em quase totalidade das sociedades do planeta. Ele alertava que o consumismo desvairado era a maléfica consequência desse sistema monetarista, em que o dinheiro explicava e justificava tudo.
A humanidade pagará um preço muito caro por essas práticas materialistas que prevalecem na vida das famílias, tornando-as frustradas e fracassadas, vítimas da infelicidade imaginada e promovida, a partir de conceitos de competição e lucratividade. Ele escrevia livros, fazia palestras, para poucos, é verdade, e não se cansava de repetir os cuidados e atenções com o que ele chamava de efeito futuro.
O mundo moderno terá de reavaliar seus rumos, e retornar ao campo. As cidades serão forçadas a se esvaziar para sobreviver. As terras terão de ser reocupadas de forma pacífica, sem lutas ou invasões. A lavoura voltará a alimentar, aos poucos, mas de forma inexorável, a maior parte da população mundial, recuperando os espaços que tinham sido cedidos para a pecuária.
No futuro, adubos químicos, nem pensar! Agrotóxicos serão erradicados e considerados sérias ameaças para o futuro da humanidade. As pragas serão combatidas por métodos naturais com o reequilíbrio da cadeia ecológica. A agroindústria se transformará num empreendimento ambientalmente correto, unindo, de modo inteligente, a agricultura e a tecnologia.
Quando o assunto se voltava para a preservação da natureza, Helga não conseguia ficar calada. Ela acusava, provocava e condenava métodos, técnicas e resultados. “Tudo está errado”, afirmava com a sua convicção ambientalista.
Quem pensasse que eram arroubos emotivos de uma fanática desgovernada, logo mudava de ideia, diante dos argumentos calcados em teses de conceituados estudiosos da natureza como Burle Marx e Lutzenberger. Helga dominava a matéria, e poucos se habilitavam a contestá-la.
Os nossos semeadores trabalhavam em dupla, eram afinados no canto e ritmados nos passos. A abertura das sinfonias ecológicas costuma ficar a cargo de Gibran, mas os principais solos eram de responsabilidade de Helga. E, quando ela assumia o seu canto, todos a ouviam boquiabertos. Ela era perfeita!
Em casa, os dois recordavam suas lutas, e, às vezes, confundiam a vida de agora com a de outrora, os verdes campos da sua serra com as florestas das terras onde viveram na última vida. Ele a relembrava de suas vidas, do seu estudo e dos jardins de ervas que ela cuidava. E, assim, permaneciam por algumas horas, até que o sono chegasse.
Abraçados, eles sonhavam com o novo dia, que sempre lhes reservava boas surpresas. Dormiam juntos, sonhavam juntos e se amavam sempre, pois, para eles, a vida era um sonho de amor.


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

OS SEMEADORES DO AMANHÃ - CAPÍTULOS 11 E 12

CAPÍTULO ONZE
A humanidade desconhece a existência dos semeadores. E se os conhecesse pouco se importaria com eles. Nem os seus amigos mais próximos os reconhecem como semeadores, desconhecendo o papel que desempenham na evolução do planeta.
A massa tresloucada move-se de um lado para outro, sem saber de onde veio ou para onde vai. Fala-se de guerras, crises e epidemias. Comenta-se a decadência da civilização moderna, como se fosse algo alheio a cada um dos críticos. Ninguém assume responsabilidades, só se critica tudo e todos.
Uns afirmam, com absoluta isenção, que o mundo não tem mais jeito. Outros, que as coisas só vão mudar quando acontecer uma grande catástrofe. Guerras e cataclismos já foram anunciados, não aconteceram, mas, a vida prosseguiu sem que nada se alterasse diante das ameaças de fim do mundo.
Entre o medo do fim da vida e a esperança por novos tempos, a humanidade caminha quase que decepcionada com a ausência das desgraças contidas nas profecias catastróficas. Todos preocupados com o seu amanhã, negligenciam o hoje, como seus antepassados fizeram no longínquo ontem.
Plantavam más sementes, e queriam colher bons frutos. Não plantam, hoje, e esperam uma colheita farta, amanhã. Falam de crises, e põem as soluções nas mãos de estranhos. Censuram os governantes, e não conseguem pôr ordem em casa. Condenam epidemias, e são incapazes de manter saudáveis os seus pensamentos.
Decadente, a humanidade se debate aflita, temendo o final dos tempos, enquanto poucos se dispõem a mudar os hábitos. Tentam ser felizes buscando o progresso a qualquer preço, e encontram doenças e remédios.
Os laboratórios produzem remédios para os sadios adoecerem, e serem obrigados a consumir medicamentos, que só enfraquecem seus organismos já debilitados pela inércia provocada no sistema imunológico. Os Planos de Saúde são na verdade Planos de Doenças, pois não há nada que se pareça com planejamento para evitar doenças. O que existe mesmo é o tratamento de um número cada vez maior de doenças, com exames caríssimos, não cobertos pelos Planos. A nossa semeadora, sempre que se depara com situações do gênero, pergunta com ironia: “Quem está ganhando com isto?”.
Diante de uma humanidade doente, fragilizada pelo excessivo uso de remédios e vacinas, o nosso casal se recolhe para sorver o seu chá de ervas, e agradecer aos Mestres por mais um dia saudável. Dia que começa no coração da terra, passa pela alma das plantas e vibra na alma da gente.
O nosso casal de semeadores semeia a saúde com ervas, florais e homeopatia. Eles vivem aconselhando amigos e conhecidos a buscar, dentro de si, as fontes de cura. Antes de ir ao médico, é muito saudável procurar entender o que está ocorrendo com seus corpos. Eles recomendam que se procure relembrar os últimos acontecimentos, nos quais estarão as pistas para as doenças.
A saúde, dizem eles, é algo muito valioso para ser entregue de mão beijada, nas mãos de estranhos. A maioria não entende bem onde eles querem chegar, apesar de quase todos concordarem.
As pessoas admitem que o que eles dizem tem sentido, mas, difícil mesmo é se controlar, na hora da dor. Sem pensar duas vezes, corre-se para o médico, se faz exames e se toma remédios.
Os exames dão os diagnósticos, o que os médicos modernos, quase nunca, são capazes. Os remédios mascaram as doenças, fazendo os sintomas desaparecer, como se fizessem a cura. Como se desliga um alarme, sem saber as causas, os sintomas são desligados, sem saber as origens.
Os pacientes ficam felizes porque não sentem mais dor, e os médicos lavam as mãos, transferindo as responsabilidades para os exames e remédios. Até mais tarde, quando voltam a se encontrar, médico e paciente, para curar uma nova dor, em outro local do corpo. As antigas causas voltam a disparar o alarme, avisando que não foram eliminadas, apenas mudaram de lugar.
Mais uma vez, exames e remédios, ou até quem sabe uma cirurgia. Corta-se e retira-se um órgão, com a mesma sem cerimônia com que se invadiu o corpo do paciente com uma química inibidora, que encobre, mas não cura. E a vida fica fora de controle, entregue a quem passa a ditar as normas e a assumir o futuro do paciente.
O doutor foi tão bonzinho, e afinal ele estudou para cuidar das doenças! Mas, não aprendeu a lidar com a saúde. A mente é a força vital. Tudo começa na mente, passa pelo emocional, até se manifestar no corpo físico.
A medicina costuma aceitar a influência do físico na mente, mas, muitos médicos ainda relutam em admitir o inverso. É ainda a teimosa ciência materialista, lutando para se manter viva.
Gibran e Helga empregavam o poder mental para suas curas. É claro que eles tinham seus problemas de saúde! A diferença é que eles sabiam que suas origens eram psicoemocionais. Quando surgia um pequeno sintoma, eles percebiam que acontecera alguma distração no processo de policiar seus pensamentos e emoções.
A visualização de imagens curativas harmonizava as energias que estavam em desequilíbrio. Com cores, luz e imagens, eles geravam processos mentais de cura, e usavam afirmativas para condensar energias curativas em torno da região atingida.
A saúde para eles, porém, começava nos hábitos alimentares e na relação perfeita com a natureza. Eles sabiam que a saúde dependia do consumo equilibrado de verduras, legumes, raízes, grãos, fibras e frutas. Não comiam carne, nem vermelha, nem de nenhuma outra cor.
Atualizados com a forma de criação para o abate, incluindo estímulos artificiais, eles viviam alertando sobre os sérios riscos de saúde com o consumo de carne vermelha e aves. Os mares poluídos desaconselhavam ingestão de peixes.
Aos que moravam nas grandes cidades, eles alertavam sobre a vida estressante, um veneno que mata com o tempo.
Os nossos semeadores acompanhavam a desgraça que tomava conta da humanidade. As doenças se sucediam, com nomes novos e causas antigas. Os organismos se debilitavam pela poluição, estresse e excesso de remédios, fragilizando o sistema imunológico.
As drogas eram ingeridas como balinhas inocentes, a qualquer incômodo ou prevenção. Aspirinas, calmantes, estimulantes eram inibidores das reações naturais do organismo. As doenças surgiam como efeitos dos tratamentos de saúde. O organismo se enfraquecia com os tônicos modernos. Os anticorpos se inibiam pelo uso excessivo de drogas.
O casal sabia que a medicina, lá no alto do seu pedestal, não sabia como evitar os males, só sabendo combatê-los. A cada combate, um efeito colateral, pior do que a doença. Cortava-se e operava-se, por qualquer motivo. Alguns poucos médicos arriscavam suas imagens perante seus pares, para provar que era preciso considerar outros agentes não físicos, no diagnóstico das doenças.
Os pensamentos, as palavras e as visualizações dos nossos semeadores recriavam arquétipos, que serviriam para aqueles que os acessassem em busca de inovações nos métodos de cura. As novas sementes mentais eram plantadas e replantadas. Os novos conceitos eram absorvidos e ajudavam a mudar a mentalidade das pessoas.
Diante da televisão, eles balançavam a cabeça, discordando dos rumos estabelecidos pelas elites do poder que ocupavam os espaços pagos na mídia. Eles repetiam mentalmente o que desejavam que todos soubessem – a saúde começa dentro de cada um de nós, e só existe enquanto cremos possuí-la, e acreditarmos que possamos dispor dela por nossa exclusiva vontade.
Eles repetiam essa afirmativa, e percebiam que uma forte energia envolvia-os e se irradiava para locais distantes, onde seria absorvida por muitos que buscavam respostas para seus questionamentos de saúde.
Desligavam a televisão, se davam por satisfeitos e iam deitar. No silêncio da noite, suas palavras ecoavam à distância e semeavam os solos férteis. Respeitemos seus sonhos, e deixemos que durmam em paz.
O saco de sementes, a cada fim de noite, ficava mais leve. Novas terras foram semeadas. Os frutos viriam com o tempo. Agora, é tempo de descansar.
CAPÍTULO DOZE
A nossa semeadora é imprevisível. É comum, ela atingir um alvo que nem ela visava atingir. É o poder da sua intuição aliado à sua força de vontade, e que se alimentam do seu senso de iniciativa.
Lá vai ela em direção à escola do bairro. O que está pretendendo agora? A diretora anda desanimada com tantos problemas causados pelos alunos. Os professores, às vezes, pensam em entregar os pontos.
Ela ouve que a escola precisa fazer obras que melhor atendam as reivindicações dos jovens, mas nunca há verba. Ela dá opiniões, tenta levantar o ânimo da diretora e volta para casa inconformada com o que viu e ouviu.
Os alunos reclamavam que a escola não oferece atrativos que despertem seus interesses. A diretora acusa os alunos de indisciplinados, mal educados e até violentos. A escola pune, o aluno se rebela. A escola ameaça, o aluno desafia. A escola suspende ou expulsa, o aluno troca de escola.
Os que saem por insubordinação, entram na outra escola. De lá, vêm alunos em situação semelhante, que entram aqui, e o rodízio se sucede, não resolvendo o problema. Nada é feito para a correção das causas. E o ensino, que devia ser o foco central, acaba ficando em segundo plano.
Gibran e Helga criticam o método arcaico do ensino, e recomendam os métodos de Rudolf Steiner, que vinham tendo êxito no mundo inteiro. Ninguém sabe do que eles estão falando, ou já ouviram, mas não fazem ideia do que sejam os tais métodos.
Crianças de alto grau de percepção mental estão nascendo, demonstrando possuir muito mais conhecimentos do que pais e professores. Essas crianças estão à frente do seu tempo. Elas já nascem sabendo o que estão tentando ensinar. E o pior é que o método é inadequado e os ensinamentos ultrapassados.
As escolas insistem em usar critérios e ações que não despertam qualquer interesse nesses jovens. Eles não têm o que fazer nessas escolas. Eles sabem mais que os professores, ou são bem mais inteligentes. As matérias são desinteressantes ou simplesmente inúteis. Quem há de se interessar pelas aulas?
A juventude está cansada dessas verdades fabricadas em laboratório para serem engolidas nas salas de aulas, ditadas por um professor despreparado para lidar com crianças que já nascem sabendo.
O casal vivia repetindo que já era hora da informação ser substituída pelo despertar espontâneo da sabedoria que todos trazemos dentro de nós. Na Antiga Grécia, os filósofos, sabendo disto, reuniam os discípulos e, no lugar de verdades fabricadas, provocavam-nos com sucessivas perguntas. De pergunta em pergunta, as verdades adormecidas iam aflorando, com respostas, tão espontâneas quanto sábias.
A sociedade teme as manifestações espontâneas, que promovem verdades fora do controle da elite do poder. Essas fogem do controle, por serem imprevisíveis. Naquela época antiga, os filósofos gregos também eram perseguidos sob a acusação de seduzir a juventude com falsas verdades. Perseguidos e acusados de induzir os jovens a rebeliões e confrontos, os filósofos eram condenados ao silêncio, ou, como ocorreu com Sócrates, à morte.
Esta história de segurança nacional é antiga, existindo desde o início dos tempos. Sob a alegação de proteger o povo, uns poucos se arvoram de donos da verdade e de protetores da raça. Jamais o povo armado e nas ruas foi a maior ameaça ao autoritarismo, e sim a cultura.
Nenhum governo suporta um povo culto e consciente do seu poder pessoal. Contra armas, o exército, contra a cultura, nada, além do livre direito de expressão. Mentes sábias cultuam a liberdade e não são subjugadas pela força. Gandhi deu o maior exemplo desta verdade, convencendo os ingleses que as armas seriam inúteis, diante da mensagem que ele passara para o povo indiano.
Gibran alertava os órgãos públicos que ele não se referia à educação. Ele distinguia a educação da cultura, atribuindo, à educação, a coleta de informações externas, e à cultura, o despertar dos conhecimentos interiores, frutos do espírito que habita tudo que existe no universo.
Pitágoras ensinava a seus seguidores que todos podem ter acesso à sabedoria universal, quando se é capaz de manter conexão com seu poder interior. O acesso a esse poder exige certo treinamento e concentração, o que era ensinado em sua Escola de Mistérios.
Sabedoria responde às perguntas sobre a vida e a natureza, e isto era considerado a ciência oculta ou espiritual. As questões relacionadas ao mundo físico eram respondidas pela ciência física, e, esta, sim, exigia informações externas.
Gibran tentava explicar que os métodos empregados se restringiam às ciências físicas, desprezando as ciências espirituais. Ele citava a física quântica, que poucos conheciam, presos que estavam à física newtoniana, ótima para entender os fenômenos físicos, mas inadequada para tratar de outras dimensões além da terceira.
Os ouvintes ficavam sem saber o que dizer. Física quântica era o mesmo que falar grego, e as dimensões além da terceira, estavam fora da realidade de qualquer educador. A alegação é que o educador ganhava muito pouco para se preocupar com essas metodologias que fugiam à regra.
Cultura, senhores, cultura, e não a educação salvará esta humanidade! A verdade está contida na sabedoria, e não no excesso de informações. A maioria delas é fabricada com o interesse de desviar a atenção da sociedade para revelações que não são importantes para a expansão da consciência.
Os mais bem-educados são os mais bem preparados para projetar grandes planos de corrupção. Não são os pobres e ignorantes que assaltam os cofres públicos, mas os doutores, os que possuem diplomas nos seus históricos escolares.
A educação sem cultura é uma arma nas mãos dos poderosos. Educação, simplesmente, não traz a paz e o progresso a uma nação. Cultura inclui estudos sobre ética, moral, filosofia, história dos povos, física quântica, literatura, música e artes. E, para ficar completa, a cultura de qualquer nação precisa unir ciência e espiritualidade, como fizeram grandes civilizações no passado distante.
Gibran insistia na antroposofia, mas poucos tinham ouvido falar dessa técnica educacional. E, ninguém estava a fim de perder seu tempo em pesquisar do que se tratava. Assim caminhava a humanidade, reclamando de tudo, mas ninguém querendo fazer a sua parte.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

OS SEMEADORES DO AMANHÃ - CAPÍTULOS 9 E 10

CAPÍTULO NOVE
O povo perguntava como seria o progresso anunciado pelo casal? Como definir esse progresso, diante de tantas carências presentes nos tempos de hoje? O progresso seria o fator saciador da fome do povo? Ou o doador das terras, das casas e dos empregos?
A sociedade deveria progredir para possuir ou conquistar para progredir? O progresso vem primeiro e só depois as conquistas sociais? É assim mesmo? Então, voltemos à pergunta inicial do povo, e tentemos entender o progresso? Se formos capazes de entendê-lo, poderemos vislumbrar as conquistas sociais. Caso contrário, passaremos a vida procurando o caminho para as sonhadas igualdades sociais, sem jamais encontrá-lo.
De onde vem o progresso? O que será preciso para atraí-lo? As pessoas ficam seguindo as notícias, como mariposas em volta da luz. Elas sabem que existe, mas não conseguem alcançar o que procuram, sem sucumbir antes de usufruir o seu conteúdo.
Aos poucos, a meta ambicionada vai sendo atingida, sem que se perceba que ela é o ideal sonhado. O processo é longo e dinâmico. A meta se transforma, à medida que dela nos aproximamos. Nós queremos sempre mais e mais, e quando alcançamos o que almejávamos, já não é mais aquilo que estamos querendo.
No meio do processo, surgem as interferências comerciais. Novas projeções são criadas para satisfazer interesses, mas são maquiadas como novos sonhos de progresso. Terras para todos que não têm. Casa própria para quem mora de aluguel. Emprego para todos, com altos salários. Escola de alta qualidade, saúde de verdade, tudo sem custo, e sem aumento de impostos.
Poderíamos ir desfilando a infinidade de sonhos que são colocados na cabeça do povo. Promessas e mentiras que custam caro, pois são promovidas pelos meios de comunicação que cobram muito dinheiro por elas. Quem paga? Os interessados em enganar o povo e se beneficiar da ingenuidade e ignorância das pessoas.
Os sonhos são vendidos sem custo, como se fosse possível adquirir direitos sem deveres. O discurso é sempre o mesmo, que o pobre já foi muito sacrificado, e não pode continuar pagando a conta. Só não é dito quem vai pagar.
O mais rico não abre mão de manter o mais pobre sob o seu domínio. O pobre sonha, um dia, reverter esta situação, assumindo o lugar do mais rico, e dominando os outros. E assim caminha a humanidade, sem sair da zona de conflito.
Os nossos semeadores ficavam horrorizados quando ouviam as promessas dos políticos de um progresso que traria fartura e riqueza para todos. Quem, como, quando, onde? As perguntas não se podiam calar. As respostas não eram ouvidas. Promessas, só promessas.
O povo cobrava casas populares, os semeadores defendiam o direito de cada qual poder construir a sua própria casa, com recursos próprios obtidos com o seu trabalho. Ninguém conseguia entendê-los, quando diziam que não se deve receber nada de graça. Eles tentavam explicar que tudo tem um preço, e quando não se declara claramente o preço do que se recebe, a cobrança virá de uma forma ilícita, ou o preço será muito maior do que se possa imaginar.
Gibran se exaltava quando defendia suas ideias contra as casas populares. Ele as considerava estigmas sociais, que discriminavam os seus moradores e, não raro, privilegiavam uma meia dúzia de apaniguados.
Da mesma forma, ele esbravejava contra a distribuição de terras, sempre privilegiando os infratores e os mais agressivos, que usavam de todos os artifícios violentos para invadir propriedades, armados e dispostos a atacar quem se pusesse à sua frente. Os mais mansos e pacatos, mesmo que mais necessitados, eram esquecidos e deixados na miséria. Esses não davam notícia e não promoviam palanques para os aproveitadores, sempre em busca de voto.
Gibran defendia reformar casas já existentes, no lugar de construir aglomerados de casinhas padronizadas, batizadas de populares. Ele entendia que o pobre que já tem a sua casa construída em terreno de sua propriedade, só precisa de um financiamento a juros baixos e de longo prazo, para ter a casa do seu jeito, uma casa com a cara do dono.
Por que desmatar uma área, quase sempre em encosta de morro, o que ainda é mais grave, para construir um ajuntamento de casas, coladas uma na outra? Que situação deprimente, dizia ele, ser discriminado socialmente como morador de casa popular!
Os custos das reformas seriam muito inferiores aos gastos com criação de loteamentos e de infraestruturas caras, como acontece com as casas populares. Os benefícios sociais seriam incomparavelmente maiores, por não ser necessário remover famílias para lugares distantes de seus amigos e parentes. Sem contar o fato de que não haveria a discriminação de pobreza vitalícia, por residir em conjuntos construídos para pobres.
Helga interferia alegando que o povo devia pedir trabalho, e não emprego. Mas, esse discurso não agradava muito, pois a maioria não quer trabalho, mas ganhar dinheiro. Emprego público é melhor ainda, pois ninguém manda em ninguém.
Helga lembrava aos que pediam mais indústrias, que empregos nessas grandes empresas são caminhos de mão dupla – festa na inauguração da fábrica, demissão em massa, na primeira crise. O povo não estava nem aí para as crises, só pensava em aproveitar as vagas iniciais. Dali em diante, era ver para crer.
Gibran voltava a insistir no papel do governante, que, como ele costumava dizer, é eleito para administrar recursos que permitam aos governados progredir com suas vocações e talentos. A distorção veio com os vícios administrativos, em que os candidatos prometem empresas e parques industriais, como geradores de empregos.
O que ninguém diz é que as indústrias modernas estão contratando cada vez menos operários, pois, são as máquinas e os computadores que se encarregam de quase tudo. No futuro, as grandes indústrias serão as que contratarão menos empregados, produzindo e faturando mais, e desempregando os iludidos que defenderam e aplaudiram suas chegadas às suas cidades.
O trabalho de fábrica, quando exige mão de obra humana, é quase sempre repetitivo, sendo poucos os operários mais qualificados. Quem trabalha para si é o dono de sua vida, é livre para criar. O empregado é submisso às ordens do patrão, e está sempre sujeito a demissões.
Ninguém pode negar a importância dos patrões para seus empregados, assim como deles para seus patrões. Quantos reconhecem essa dependência? Na verdade, são poucos, muito poucos, os patrões que se dão conta de que devem promover uma harmônica relação entre patrão e empregado. Em sua maioria, eles são ambiciosos e egoístas, e quanto maior a empresa, mais se confirma essa afirmação. Os empregados, também ambiciosos, e só pensando em si, não são dedicados e fiéis às suas empresas.
O sindicato de empregados alimenta as insatisfações e põe lenha na fogueira, ou nas caldeiras. Os sindicatos patronais subvertem o sistema, omitindo informações, invertendo números e pondo a sociedade sob a permanente ameaça de crises e demissões. Os governos, comprometidos política e economicamente com as elites do poder acabam submetendo-se a elas, permitindo os constantes ciclos caóticos da humanidade.


CAPÍTULO DEZ
Gibran e Helga não se conformavam com tanta politicagem e comprometimentos, reconhecidos por políticos locais como tramoias. Eles se lastimavam e acusavam os governantes de serem responsáveis pelo que de pior estava acontecendo ao planeta e à humanidade. Eles sabiam que não era justo acusar somente os que governam, e deixar de fora os governados. No fundo, era tudo farinha do mesmo saco.
Sem vontade própria, manipulado pelas elites e enganado pelos meios de comunicação, o trabalhador é massa de manobra dos governantes e de seus financiadores políticos, das associações da classe empresarial e dos seus próprios sindicatos.
Partidos políticos iludem os trabalhadores e convencem-nos que são melhores que os outros. Todos são hipócritas, e são desmascarados assim que assumem o poder. Antes, durante a campanha, sobram as promessas, depois de eleitos, falta tudo e não há verba para cumprir o prometido. Mentiras, só mentiras!
O povo desperdiça, e falta o essencial. Devasta o local onde ergue sua casa, e a condição ambiental vai de mal a pior. O lixo é jogado nas ruas, e reclama-se da prefeitura. Concentra-se nos grandes centros, e protesta-se contra a qualidade de vida nas cidades.
Os governantes fazem vistas grossas às atitudes desleixadas do seu povo, e assim garantem a reeleição. Não se controlam as migrações, porque se perde voto. Não se planeja o desenvolvimento urbano das cidades, pois se perde os currais eleitorais.
Os nossos semeadores visitavam a prefeitura, e tentavam convencer os administradores a pôr ordem na casa. Não tinham verba, ou não tinham caráter, não havia diferença. Eles voltavam para casa, e mais uma vez indignados, armavam seus argumentos para o dia seguinte.
Pobres semeadores, lutando contra solos estéreis. Tristes sementes, sofrendo o ataque de destrutivas pragas. Pobres solos e pobres pragas, dificultando e predando sua própria razão de ser. Povo alienado e governantes atarantados, todos correndo em busca do progresso, enquanto vão destruindo o que seus antepassados deixaram pronto.
O nosso casal não esmorece, e repete, dia a dia, o seu discurso por esses caminhos hostis. Nessas caminhadas, as hostilidades são respondidas com compreensão e as resistências com gentil paciência.
Helga, às vezes, se irrita e perde a calma, se o tema é lixo e devastação das matas. Gibran perde o bom humor com a manipulação dos pobres inocentes iludidos por eternas promessas.
Nada os abala de verdade, a ponto de fazê-los desistir. Eles sentem que um dever assumido com a vida precisa ser respeitado. Alguma coisa parece lembrá-los, a todo instante, que eles estão em missão, compromisso assumido num passado distante, que eles não sabem quando.
Quando pensam que ela desistiu, ela aparece tentando convencer as pessoas a plantar e a cuidar de seus jardins. Revistas debaixo do braço, argumentos na ponta da língua, ela folheia as seções de casa e jardim. As pessoas balançam a cabeça concordando, sem saber com o quê. Elas estão seduzidas pela matéria, e plantas, flores e jardins não fazem parte do tesouro que perseguem em busca de riquezas.
De casa em casa, de esquina em esquina, o casal semeador vai lançando ao vento suas caprichosas sementes, que insistem em cair entre os espinhos ou no meio das pedras. Os dois passam o dia falando, e voltam para casa falando.
Tolos são os que acreditam que eles se cansarão de pregar no deserto, e desistirão da missão. Quem pensa assim, não sabe do que um semeador é capaz, quando traz nas costas o saco de sementes sagradas, que frutificarão nos novos tempos.






sexta-feira, 2 de novembro de 2018

OS SEMEADORES DO AMANHÃ - CAPÍTULOS DE 6 A 8

CAPÍTULO SEIS
Em suas sacolas de sementes, nossos semeadores conduziam soluções simples para velhos e intermináveis problemas. Eles diziam que os dias de amanhã ressuscitariam a simplicidade. A tecnologia será desmitificada, e o que se faz com muitos milhões, amanhã será realizado com alguns míseros centavos. Os tecnocratas perderão seus privilégios, e todos terão acesso às novas técnicas. A humanidade, enfim, entenderá que máquinas são criadas para servir o homem, e nunca para explorá-lo.
A semeadura, no entanto, ainda encontra resistências. O solo não está fértil o bastante para as novas sementes. O nosso bravo casal não esmorece e prossegue no seu trabalho de semear hoje os frutos do amanhã.
Lá estão eles, preparando as mudas que serão usadas para reflorestar uma pequena área devastada. Muitos cruzam os braços diante da devastação criminosa das florestas. O nosso casal planta as mudas, uma a uma, de forma incansável e entusiástica.
Para muitos, eles não passam de loucos, para nós, eles estão fazendo a parte deles. Se parecem loucos, é porque são diferentes da grande maioria. E, num mundo de tantas loucuras, são os nossos loucos os mais lúcidos. 
 

CAPÍTULO SETE
Enquanto muitos se preocupam com os rituais nos templos, o nosso casal de semeadores celebra na natureza, o verdadeiro cerimonial sagrado. Ama a tua Mãe-Terra e o teu Pai-Céu que te tornarás o Filho-Filha amado e amante, o Cristo renascido e não reconhecido.
O tempo não para, e Gibran e Helga prosseguem em seu trabalho de semeadura, recriando arquétipos e descerrando as cortinas do amanhã. Eles mal se dão conta do que falam ou pensam deles, eles só trabalham, como se sua obra estivesse atrasada e tivesse que ser acelerada.
Nós, e só nós, que a tudo vemos, é que podemos reconhecer o ritual celebrado, que vai atuar em elevados níveis da consciência planetária.


CAPÍTULO OITO
Crises, as eternas e repetitivas crises vêm e vão. Antes era a inflação, agora o consumo. Desempregos, antes, e admissão em massa, depois. Compras se reduzem e, logo, os novos picos de consumo aceleram as contratações. A bolsa sobe, e todos compram, a bolsa desce, e todos vendem. Os mais espertos compram e vendem antes dos demais, e ganham mais.
Há de existir crises, para alimentar a hipocondria social do povo. O desemprego, a casa própria, os sem-terra à cata dela, os sem-teto invadindo prédios inacabados ou interditados. Os gays protestam, as mulheres são assediadas, os machos agridem, uns apoiam, outros condenam.
Ideias são aceitas, nem é preciso ser muito criativo, basta criar fantasmas. E depois de criados, soltá-los nas sombras da noite escura de almas assustadas e desarmadas. A todo instante, se renovam os boatos e as ameaças de alguma tragédia, que um boateiro retirou do fundo da cartola. Povo assustado, boatos valorizados e poderosos entesourados.
No meio disso tudo, lá estão os nossos semeadores, abastecendo o povo com as armas da revolução do amanhã. Quem esperava por metralhadoras, fuzis e canhões, se surpreende com as inocentes bombinhas que são detonadas pelos nossos agitadores culturais.
Não esperem por indústrias para dar emprego ao povo, que vão se cansar de tanto esperar. Casas populares são engodos políticos para distrair o povo, que é atirado de um canto para outro, sem poder escolher seu destino. As terras cobradas pelos sem-terra são conquistadas, não por quem tem direito, mas pelos ativistas mais violentos e agressivos. E, o enorme grupo de sem-justiça, sem-cultura, sem-palavra, sem-especialização, como ficam eles? Não ficam.
Seria sensato induzi-los a invadir e ocupar os objetos do desejo de cada um? Violência gerando violência, para contrabalançar com a mentira gerando mentira. As perguntas se sucediam na boca dos nossos semeadores, e ficavam sem respostas.
Eles mesmos respondiam as questões por eles propostas. O desemprego é sinal dos novos tempos, com máquinas no lugar do homem. Estamos no limiar da contra-Revolução Industrial, com operários retornando aos campos e fábricas informatizando-se ou fechando. A mão de obra humana sendo substituída pela mão de obra informatizada.
O trabalho tomará o lugar do emprego. Carteira de trabalho assinada se tornará pura demagogia política, de quem não está nem aí para as consequências das onerações das micro e pequenas empresas.
O homem deixará de ser o robô que se transformou com a Revolução Industrial, voltando às suas habilidades artesanais, como respeitável criador de obras. As mentes se tornarão mais criativas, e menos suscetíveis a serem enganadas. Cada obra será assinada identificando o artista criador. Máquinas continuarão produzindo produtos sem alma, o homem criará obras com vida.
As chaminés não mais despejarão fumaça negra sobre as cidades. O mundo terá de mudar por bem ou por mal. Se não for espontaneamente, será por doenças e desgraças. A poluição será erradicada, ou populações serão exterminadas.
O futuro não admitirá poluição de espécie alguma, nem do ar, nem do rio e nem do mar. Computadores se ocuparão da purificação da vida na Terra. Cada família encontrará meios decentes de sobrevivência, sem depender de esmolas dos governos.
O empregado submisso a horários, marcando o ponto sob a vigilância prepotente dos patrões, desaparecerá, dando lugar a seres independentes e donos dos seus próprios negócios. Os negócios de família voltarão a florescer e se tornarão microempresas rentáveis e autossustentáveis.
Gibran se entusiasmava, ao falar dos campos novamente ocupados, não por lavradores pobres e desnutridos, mas, por famílias de classe média que, desiludidas com as grandes cidades, retornarão para as terras, de onde seus ancestrais saíram cheios de esperanças e ilusões. Os conquistadores das terras não mais serão os violentos, mas os competentes.
As terras passarão a ser tratadas com amor e respeito, não mais invadidas por serras elétricas desmatando florestas, nem por máquinas agredindo o solo sagrado. As áreas plantadas respeitarão as matas nativas, como o homem branco deveria ter feito com as terras indígenas. A sabedoria triunfará sobre a riqueza. Com o triunfo dos sábios, a justiça redistribuirá os tesouros da Terra.
Este era o teor do discurso do nosso casal de semeadores, semeando as boas sementes e confundindo os ouvintes. Ninguém conseguia entender como as sementes frutificariam no amanhã. Não condenamos os ignorantes, afinal de contas, as sementes não eram deste planeta. Elas vieram de muito longe através dos tempos, para serem semeadas no mundo de hoje e darem frutos no de amanhã.
Como cobrar entendimento dos pobres coitados que não entendiam nada, se os frutos talvez só venham a nascer daqui a décadas, séculos ou milênios? Ah, o tempo, como é difícil falar do tempo!
A plateia ouvia os semeadores, e pensava como seria possível viver sem a terra, sem casa, sem emprego. Afinal, a maioria era formada de quem é sem quase tudo. Pobre humanidade, quanto sofrimento diante das falsas formas, em desprezo das verdadeiras essências!
Gibran dá a mão a Helga, pede licença e, os dois se retiram calados, e se recolhem a seu templo. Ali, a vida flui sem ouro e nem hora. O tempo não influi e nem contribui. Lá não existe nem patrão e nem padrão.
No mundo dos semeadores, tudo se restaura e tudo se reconstrói, e nada se perde. As sementes das antigas civilizações dos deuses são resgatadas na linha do tempo e servem como as boas sementes para os tempos futuros.