sexta-feira, 14 de setembro de 2018

MEMÓRIAS DE UM PROFETA - CAPÍTULOS 21, 22, 23 E 24

CAPÍTULO VINTE E UM
Helga acordou falastrona, contando suas experiências com novas espécies de ervas, que davam um sabor inenarrável ao seu molho para massas. Ela pegou Gibran, puxando-o pelo braço, e levou-o até os canteiros, onde viçosas, as ervas de nomes estranhos, vinham sendo cultivadas. Ela prometeu um prato saboroso de massa, regado a molho com uma mistura daquelas ervas.
Gibran ouvia calado, pois o seu pensamento estava distante. Nos últimos tempos, ele estava vivendo fora do tempo, com o seu corpo na Alemanha e sua alma percorrendo o mundo, numa viagem espiritual sem fim. O Mestre era seu guia, e o Brasil, o seu destino final.
Ele sentia necessidade de saber mais sobre a sua futura pátria. Gibran se cercara de livros que falavam das Américas, buscando alguma alusão à nação brasileira, mas, eram poucas as informações que vinha obtendo das obras encontradas na biblioteca municipal.
Helga percebeu que ele estava muito longe dali, e passou um galho de uma das novas ervas aromáticas junto ao seu nariz. O forte e perfumado odor da erva fê-lo despertar da sua abstração, provocando uma gargalhada de Helga. Ele fez uma cara de espanto, como se quisesse espirrar ou chorar, tanto que lágrimas afluíram aos seus olhos, como efeito do forte aroma da erva.
Gibran acabou entrando na brincadeira, deu um abraço apertado em Helga e demonstrou um enorme desejo de saborear o tal prato de massa, por ela prometido, enquanto falava de suas novas ervas. Helga não se fez de rogada, se encaminhou para a cozinha, pôs água para esquentar e tratou de escolher a massa a ser usada. As ervas escolhidas a dedo foram apertadas numa das mãos, e na outra arrastou Gibran para dentro de casa.
Sentados em volta da mesa, à espera que fervesse a água, Helga puxou conversa sobre os seus escritos e as mensagens do Mestre. Já fazia algum tempo que ela procurava saber das minúcias contidas nas mensagens, ao perceber que muitas delas não poderiam ser reveladas. No início, ela ficou contrariada com a restrição, mas, depois procurou não aprofundar o assunto, já que entendeu serem ordens superiores, que Gibran respeitava com uma disciplina exemplar.
A conversa girou nos acontecimentos de pós-guerra, que acabara fazia um ano, e que, como toda guerra, deixou rastros de mortes e misérias. Helga fez-se de desentendida, e perguntou: O que se ganha com a guerra, Gibran? Ou melhor, quem ganha?
Gibran reagiu com surpresa à pergunta, e custou a responder. Mas, com bom senso e sutileza, deixou clara a sua posição de que guerras não eram para ser entendidas ou justificadas, mas, para serem lutadas e lamentadas.
Ela se esforçou para tentar entender o sentido daquele pensamento, e ficou entre o direito e o dever. O direito de não se encontrar razões para começar, e o dever de não poder deixar de lutar. Mas, se lutar, não ter porque se envaidecer, pois guerras não promovem heróis ou covardes, nem determinam vencedores ou vencidos. Ela ficou satisfeita com a sua conclusão, que guardou para si.
Gibran, calado e pensativo, recordava as mensagens sobre a próxima guerra, mais violenta, mais cruel e mais destrutiva do que a anterior. Se Helga soubesse dos detalhes, o prato de massa não ganharia o sabor esperado. Ninguém consegue produzir um alimento saboroso, sob a influência de vibrações negativas ou emoções violentas.
A mesa estava pronta, com os pratos e talheres nos lugares, e a tigela apetitosa e perfumada no centro. Lavadas as mãos, jogada uma água no rosto, ambos se prepararam para saborear o que prometia ser o manjar dos deuses. E foi mais do que isto, foi simplesmente divino.
Gibran jamais provara algo tão saboroso, e, a cada garfada, ele suspirava de satisfação. Helga sorria, e se virando para ele, provocou-o: Eu não disse? Eu descobri a fórmula mágica para mudar o paladar da humanidade.
Gibran gostou da imagem, um prato mudando o gosto da humanidade. Seria possível isso? E, se a humanidade, realmente, mudasse suas atitudes pelo prazer de uma comida gostosa ou pelo sabor de um molho! Ele ficou pensativo, imaginando a paz mundial sendo celebrada em torno de uma mesa, onde era servido um prato ao molho de Helga, com seus poderes mágicos.
Eles riram com as várias fantasias que foram criando em torno do tema, e, assim encerraram o almoço saudando Helga, como a criadora do prato da paz, a grande pacificadora da humanidade. Cada qual seguiu para o seu canto, Gibran para os seus estudos e Helga, para as suas ervas. Eles estavam sentindo-se mais felizes do que o habitual, e, cada um a seu modo atribuiu seus sentimentos ao sabor mágico das ervas.
Gibran pôs-se a rever os escritos da véspera para se situar por quantas andavam as suas anotações. Havia muitas perguntas a fazer e outras a calar. Era assim que ele agia em seus diálogos com o Mestre. Ele sabia quando não era para insistir, diante de uma curiosidade ou uma revelação mal entendida. O Mestre, nessas horas, simplesmente, desconhecia a dúvida, e seguia adiante.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Gibran ficara muito intrigado com o relato do Mestre sobre a influência dos Estados Unidos sobre a Europa e o resto do mundo. Ele não conseguia imaginar como em tão pouco tempo, um país pudesse assumir a liderança do mundo, exercendo uma influência esmagadora sobre os países europeus.
A resposta veio imediatamente, obrigando-o a correr atrás de suas folhas de papel e mal teve tempo para pegar na pena. O mestre deu sequência às informações sobre o futuro econômico do mundo do futuro. E dizer que tinha gente que acreditava que o mundo ia acabar no ano 2000!
Gibran anotava com dificuldade a mensagem que chegava numa alta velocidade, e se não fosse a sua prática, ele perderia muitas informações importantes. O Mestre decidiu detalhar as causas da crise financeira, o que respondia aos questionamentos de Gibran.
Gibran identificou o ano de 2025, e soube que, em face da crise que assolou o mundo econômico, provocada pela inflação do dólar, que perdeu todo o lastro, devido a emissão incontrolável para saciar a ânsia de poder americano, os países europeus criaram uma moeda internacional de comércio. A nova moeda foi adotada por toda a Europa, pela América do Sul, pela África e pelos principais países asiáticos.
Com o abandono do dólar para as transações comerciais, a economia norte-americana não suportou, e a nação entrou numa profunda decadência. Livres da manipulação exercida pelos Estados Unidos, pelo fato do dólar ser usado como moeda internacional, os países europeus se fortaleceram e os sul-americanos também, em especial, o Brasil, a Argentina e o Paraguai.
Os países árabes tentaram assumir uma liderança forte, pelo poder do petróleo sobre a economia, mas, a tecnologia do biodiesel, logo reverteu o quadro, e as empresas de petróleo começaram a quebrar, gerando sérias crises nos países produtores de petróleo.
A OPEB – Organização dos Países Exportadores de Biodiesel tomou o lugar da OPEP, e passou a influir na produção industrial do terceiro milênio. A poluição por queima de combustível reduziu-se a níveis bem inferiores aos limites recomendados pelos órgãos controladores, e com isso ocorreu uma grande redução das doenças relacionadas à poluição atmosférica.
O Brasil tornou-se o grande exportador de bioenergia, presidindo a OPEB, e passou a adotar uma política de estímulo ao progresso dos países mais pobres. Com isso, as nações latino-americanas tiveram um grande impulso econômico, passando a auxiliar os países mais pobres africanos e asiáticos.
A economia mundial passou a oferecer um quadro muito mais equilibrado, com a ascensão dos mais pobres e o declínio dos mais ricos. Até 2050, esse equilíbrio terá alcançado o estágio ideal, projetado pela Hierarquia, obrigando todos os povos a esquecer das guerras e se preocupar com o trabalho.
A ONU passou a ser um centro de pacificação de conflitos, perdendo a sua antiga função de fomentadora das guerras e da exploração das riquezas minerais dos países miseráveis. Todas as nações possuíam a mesma representatividade e as decisões mais importantes eram assumidas por consenso de um Conselho formado por 21 membros, eleitos por três anos.
As mulheres passarão a chefiar a maioria das grandes nações do mundo, sendo elas as responsáveis pelo fim das guerras e da exploração abusiva exercida pelos mais ricos sobre os mais pobres. As instituições financeiras internacionais – FMI, BID E BANCO MUNDIAL – passarão a emprestar dinheiro para a recuperação das lavouras dos países africanos e asiáticos, que assumirão a distribuição de alimentos no cenário mundial.
A qualidade dos produtos agrícolas passará a ser mais valorizada que a quantidade produzida, através de projetos de cultura orgânica e da erradicação de todas as plantações de transgênicos. Com isso, a saúde dos povos alcançará índices invejáveis, quando comparados aos observados no início do século.
A força da mão de obra mundial passou a se concentrar sobre a produção de alimentos e de equipamentos para a agricultura familiar e para a geração de energia limpa. As novas formas de energia passaram a ser financiadas pelos Bancos de Desenvolvimento a juros zero e a custos baixos. Assim, o mundo passou a emitir menos gases poluidores e a atingir um elevado grau de desenvolvimento sustentável.
A meta da Hierarquia era chegar ao ano de 2100 com poluição quase zero, e com uma recuperação de mais de 50% das áreas que haviam sido degradadas até o início do milênio. Outra meta era a erradicação das doenças degenerativas, que provocariam uma economia de incalculáveis recursos, a ser destinados às atividades artísticas e culturais. Por sinal, arte e cultura passaram a ter prioridade nos orçamentos de todas as nações do mundo, elevando o padrão cultural de países que eram tratados como atrasados e com a predominância de analfabetos.
Gibran estava esgotado, quando o Mestre cessou o contacto, e deixou sua mente silenciosa. Era tarde da noite, passaram-se horas, desde que ele começara a anotar as mensagens, sem ter interrompido para se alimentar. Helga deixara um chá em sua mesa, que ele bebeu num único gole, e foi só.
Ele procurou por Helga, e encontrou-a adormecida na sala, com um livro no colo. Ele recolheu o livro com cuidado, e não pôde conter sua admiração ao perceber que ela estava lendo um dos poucos livros que encontrara na biblioteca, falando do Brasil. Os dois foram abraçados para a cama, e assim despertaram na manhã seguinte, como se tivessem passado a noite, trocando energias e sonhando juntos com a futura vida no Brasil.
E, assim, passou-se mais um dia na vida do casal.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Gibran passava dias seguidos envolvido com as mensagens do Mestre. As plantações de Helga tomavam conta de toda a área ao redor da casa. Ela plantava ervas e ele, o futuro. Os dois se dedicavam aos seus ideais mais nobres, ambos amavam o que faziam.
Na hora do almoço, sentavam-se ao redor da mesa e conversavam enquanto comiam. Após um repouso para pôr a conversa em dia, eles voltavam às suas tarefas, até o cair da tarde. Eles sentiram a necessidade de disciplinar os seus trabalhos, e estabeleceram horários para o início e o fim das tarefas diárias. A noite era o tempo que dedicavam a relatar seus feitos, cada qual na sua área.
A vida poderia parecer rotineira e sem maiores novidades, mas, enganavam-se os que assim pensavam. Isto, eles tratavam de explicar aos amigos, com quem ainda mantinham o hábito de se reunir as sextas à noite.
Os amigos alegavam que eles viviam muito sozinhos, e não participavam da vida na comunidade. Havia festejos e jogos, concursos poéticos e encontros musicais. Um coral de moradores se apresentava todos os domingos na igreja. Eles foram convidados a participar, mas declinaram do convite.
Apesar desta vida recolhida, o casal demonstrava muita alegria, quando se reunia com os amigos. As conversas eram em torno dos interesses e afazeres de cada um, e serviam como um coquetel de cultura, pois cada um tinha muito a acrescentar à bagagem pessoal do outro, com a narrativa de suas experiências e desafios.
A troca de experiências abria a mente de Gibran, quando o assunto era política e espiritualidade. Helga ficava com seus olhinhos brilhando, ao se falar de arte e natureza. As ervas cultivadas no seu quintal eram temperos indispensáveis nas panelas da vizinhança. Gibran é que não tinha muito a compartilhar, com seus estudos herméticos e muitos deles, a pedido do Mestre, mantidos no mais absoluto sigilo.
Sábio e bem-falante, Gibran não se atrapalhava com essas limitações, já que sua vasta cultura, colhida na literatura disponível na biblioteca municipal, servia para que ele ilustrasse suas narrativas com fatos e descrições que transportavam os ouvintes para cenas e locais distantes.
Os amigos riam de suas histórias e da forma como ele as contava. Ele aproveitava diversos ensinamentos espirituais, para introduzir nas conversas, práticas e ensinamentos contidos em diversas seitas e religiões. Ele falava do significado das parábolas usadas por Jesus para ensinar a sua doutrina. Ele utilizava palavras que as explicavam, como bíblia alguma jamais o fizera.
De cada religião, ele trazia uma passagem ou tradição interessante que surpreendia os amigos. Os koans, enigmas paradoxais, empregados pelos mestres sufis para obrigar seus monges a meditar e abrir suas consciências. Os versos de ouro, que narravam em poemas a doutrina filosófica de Pitágoras.
A conversa se estendia até tarde da noite, mas sempre terminava antes da meia-noite. Essa regra fora estabelecida, depois do dia em que perderam a noção do tempo, e ainda estavam em torno da mesa, quando despontaram os primeiros raios de sol.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Gibran soube que reencarnaria no Brasil numa época pouco antes do final da segunda grande guerra. Ele nasceria no início do ano, Helga, no final. Suas famílias seriam de origem portuguesa, a dele com mistura de sangue índio. Educados dentro de padrões semelhantes, tudo seria cuidado para que se sentissem atraídos, um pelo outro, pela identificação de princípios e afinidade de ideais.
Ele não resistiu o impulso, se levantou e foi contar tudo para Helga. Ela ficou meio assustada com a história, talvez por ainda usar outro corpo, e se imaginar perdendo-o, para ganhar um corpinho de bebê.
Helga era assim mesmo, muito sonhadora e criativa, mas essencialmente prática, quando analisava fatos concretos. Ela quis saber de cada detalhe, que nome ela teria, e os seus pais, quem eles seriam, e como ela e Gibran se conheceriam, e as perguntas não tinham mais fim. A maioria delas, Gibran não soube responder, mas anotou-as para consultar o Mestre.
Passada a agitação inicial, Gibran achou por bem voltar à sua mesa de trabalho, pois, deixara seu Mestre a falar sozinho, num sentido figurado, é claro! Helga é que não mais conseguiu se concentrar nas suas ervas.
Mal sentou à mesa, a vibração do Mestre já foi restaurada, e a mensagem, que fora interrompida, prosseguiu como se nada houvesse acontecido. Gibran bem que tentou obter mais detalhes da sua vida futura, mas, o Mestre mudou o rumo da prosa, e passou a relatar fatos do mundo que tinham a ver com as mudanças de paradigmas da nova era.
Gibran soube que ele teria um papel a desempenhar de grande importância na vida de alguns discípulos do Mestre Saint Germain. Esses discípulos seriam encaminhados até Gibran, em busca de conhecimentos, ajuda e conselhos. A sua missão seria passar adiante os conhecimentos, adquiridos em vidas passadas, e os ensinamentos que o Mestre estava lhe passando por escrito.
Gibran percebeu que perdera o controle sobre os temas que estavam sendo abordados. Antes, ele pensava, o Mestre respondia. Agora, o Mestre não respondia a perguntas, só relatava o que entendia ser importante, desconhecendo os questionamentos e as dúvidas que se contorciam na mente de Gibran.
Gibran percebeu que o Mestre estava passando-lhe uma mensagem pessoal, de que cada um vive a sua vida, mas o destino traça o rumo da história da humanidade. Não se pode afirmar o que será o futuro na vida de alguém, mas, certamente, o destino do mundo está traçado. E, cada qual se movimenta no espaço oferecido pelo destino, do seu jeito e como achar melhor. Há tendências, jamais certezas.
Gibran caiu em si, e percebeu que o Mestre só revelou como seria a sua futura encarnação até onde era previsível, e dali para frente ele se calou. Então, começou o relato sobre o futuro da humanidade, e este sim, estava traçado desde o início dos tempos, e ficaria gravado no seu inconsciente, para que pudesse utilizar na vida futura.
Os fatos narrados diziam respeito a ocorrências a partir do ano 2000, e tratavam de situações que mudariam a vida na Terra. Era uma espécie de um antiapocalipse e de uma negação de todas as previsões de desgraças, destruições e fim de mundo.
A energia acelerou, e Gibran passou a ter dificuldade para acompanhar as mensagens. Ele escrevia com muita rapidez, e ainda assim perdia algumas observações. De repente, o Mestre enviou-lhe uma explicação do que estava ocorrendo.
No futuro, a energia planetária seria acelerada, o padrão vibratório do planeta se expandiria, e a humanidade teria de se adaptar a esse novo padrão, para que os corpos se sutilizassem. A matéria cederia, lentamente, o seu espaço para o espiritual. Antes, a dificuldade da criatura humana era se sutilizar para elevar o físico ao espírito. No futuro, a situação se inverteria, as pessoas mais sutis, bem mais espiritualizadas, teriam de praticar a densificação do corpo de energia, para se amoldar a certas experiências de vida.
Gibran tentava entender essa história de aumento do padrão vibratório, mas, sentia muita dificuldade para interpretar corretamente os ensinamentos do Mestre. Mas, o Mestre não se preocupava em prestar esclarecimentos, e prosseguia relatando os eventos futuros.
Gibran ficou meio assustado ao saber que muitos morreriam por não suportar a pressão exercida sobre o corpo físico pelo novo padrão vibratório. Os atletas e artistas estariam entre os mais sacrificados com a mudança do padrão. Acostumados a ir aos extremos em jogos e apresentações musicais, eles não perceberiam que os limites eram outros, e que não poderiam ultrapassar determinados parâmetros sem afetar o coração e as ondas cerebrais.
A humanidade também ficaria assustada com tantas mortes sem explicações por parte da medicina, que não seria capaz de diagnosticar o que não entenderia e nem estaria preparada a avaliar. Os atletas teriam paradas cardíacas e derrames cerebrais, e as alegações mais comuns ficariam por conta de choques ou práticas mais violentas. Os artistas morreriam no palco ou após suas apresentações, alegando-se que tudo ficava por conta das drogas, dos desregramentos sexuais ou, simplesmente, da fatalidade.
A sobrevivência da humanidade dependeria da capacidade de cada um para processar e aceitar a evolução espiritual. A resistência a essa evolução provocaria depressões, estresses e mortes. A insistência de muitos, ou da maioria, de não abrir mão dos prazeres sensuais, e de ir buscar nas drogas a fuga dos medos e da falta de objetivos, provocaria uma considerável redução da população planetária.
Os venusianos kumaras vão reencarnar novamente para dar assistência aos naturais da Terra. Os kumaras tinham vindo de Vênus, quando a raça humana encontrava dificuldade para evoluir mental e espiritualmente. Isto já fazia milhares e milhares de anos. Muitos deles permaneceram na Terra, por obrigação ou vocação, já que foram preparados para amar o povo da Terra, e não se conformavam em ver tanto sofrimento naquele povo.
Encarnando de tempos em tempos, os kumaras trabalhavam com os Mestres Ascensionados dos diversos Raios, passando ensinamentos, transmitindo conhecimentos e aconselhando os que buscavam entender o caminho da iluminação. Eles atuavam não só no corpo físico, mas também em corpos de energia, despertando a consciência dos mais evoluídos, que buscavam respostas para a vida através das religiões.
As religiões sempre abrigaram os mais conscientes e evoluídos, que depois de uma espécie de estágio religioso, saíam em busca de maiores explicações sobre a natureza humana e a vida após a morte. Nesses momentos, entravam em ação os kumaras, introduzindo-se na vida dos postulantes, para orientá-los e passar-lhes conhecimentos.
Gibran ouviu do Mestre que, depois do ano 2000, essa realidade seria cada vez mais flagrante, ainda que prosseguissem as resistências em aceitar as revelações ocultas que chegavam por sonhos e intuições. A população do planeta se reduziria aos poucos, até que no final do primeiro século do novo milênio, o número de habitantes estivesse próximo aos dois bilhões de habitantes. Quando isso acontecesse, uma nova onda de progresso tomaria conta da Terra, bastante semelhante ao que ocorrera na época da Atlântida, mas, desta vez, sob a severa vigilância dos Mestres e dos seus Adeptos.
As crianças evoluídas, e que nasceram no início do milênio, terão assumido a governança do mundo, ocupando posições estratégicas nos governos da Terra. A divisão do planeta em quatro reinos será feita segundo novos padrões estabelecidos pela Hierarquia Planetária, e retificando os antigos critérios que, comprovadamente, não deram certo.
Gibran estava cansado daquela correria entre o pensamento e a escrita. O Mestre deu-lhe uma trégua, e interrompeu abruptamente as mensagens. Ele soltou a pena, afastou os papéis e esticou as pernas e os pensamentos.
Ele se levantou lentamente, se achou mais cansado do que o normal. Respirou profundamente, e saiu à procura de Helga. Nessas horas, uma conversa com Helga resgatava parte das energias despendidas.
Lá estava ela, mexendo a panela, preparando uma sopa de ervas. O cheiro no ar era sedutor, e o sabor, na certa, confirmaria todas as suposições que provocavam aquela água na boca.
Deixemos o casal conversar sozinho, sem a nossa presença. Existem momentos em que contar todos os fatos é exagero dos escritores, e bem mais do que o estritamente indispensável ao bom entendimento da realidade descrita.


9 comentários:

  1. Gostaria de realçar este paragrafo:

    "Gibran percebeu que o Mestre estava passando-lhe uma mensagem pessoal, de que cada um vive a sua vida, mas o destino traça o rumo da história da humanidade. Não se pode afirmar o que será o futuro na vida de alguém, mas, certamente, o destino do mundo está traçado. E, cada qual se movimenta no espaço oferecido pelo destino, do seu jeito e como achar melhor. Há tendências, jamais certezas."

    Me parece claro que o Arquiteto tem seu projeto perfeito que será realizado. Os operários terão suas oportunidades na obra e terão que dar o melhor de si e para isso suas vidas também terão que ser planejadas por eles mesmos para acompanharem o ritmo da obra. Caso contrário os engenheiros irão substituí-los para suas funções por outros mais competentes.

    Abs

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  2. Querido mestre, finalmente cheguei para iniciar leitura das memorias de um profeta. Nossa!! Já tem muito para ler.
    Abraço transatlântico.
    Rute

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  3. Bela interpretação, João Sérgio, do que se chama os desígnios divinos ou, apenas, destino.
    O Arquiteto convoca os operários, e mostra-lhes a planta da obra, e espera que, cada um, aplique nela as suas habilidades.
    Quem não estiver à altura, será substituído.
    A obra, porém, tem de seguir adiante, conforme foi projetada.
    Abraço.
    Gilberto.

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  4. Seja bem-vinda, querida Rute!
    Gibran deixou-nos muitos ensinamentos, por isto, as suas memórias são longas.
    Boa leitura.
    Abraço.
    Gilberto.

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  5. Gilbran conversava com seu mestre Saint Germain sobre um tempo que lhe era presente e muito sobre outro, um tanto assustador pelas previsões antecipadas, que lhe representava o futuro. Para nós, vivendo nosso presente, tudo se passava em um passado. Alguns desses acontecimentos, de acordo com nossas idades, também tivemos possibilidades de vivencia-los em um presente, hoje já distante em um passado.
    Na semana que passou surge uma novidade, pois as comunicações entre os dois ultrapassam nosso momento presente e passa a falar sobre um tempo que também para nós se localiza no futuro.
    Depois de uma crise mundial o mundo começa a se organizar em torno de outros valores, buscando cooperação, preocupação com meio ambiente, alimentação mais sadia e no aspecto humano, a valorização crescente da mulher.
    São tempos que parecem distantes dos previstos por Aldous Huxley em ‘’Admirável Mundo Novo’’ ou por George Orwell em ‘’1984’’.
    É um futuro que talvez possamos começar a ver parte do início dele, mas esperamos que as próximas gerações possam de fato presenciar todas essas previsões.
    No entanto o que mais chamou a atenção e motivou fazer um exercício estimulando os sentidos visuais, olfativos e gustativos, foi nos imaginarmos na companhia de Gilbran e Helga saboreando a massa temperada com as diversas erves aromáticas, colhidas no quintal. Helga bem que poderia ter fornecido a receita.


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  6. Estas viagens entre o passado e o futuro têm as suas estações de parada, no tempo presente.
    Por isto, Avelino, não se lastime de não ter ao seu dispor as receitas de Helga, pois, ela pode surgir no tempo presente, trazendo de um passado distante, não as receitas, mas, massas prontas e temperadas com ervas aromáticas.
    Vale a pena acreditar em tudo, quando uma alma não é pequena.
    Abraços.
    Gilberto.

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  7. Meu querido Mestre,

    Este seu texto me está trazendo uma grande esperança na humanidade. Se bem que muitas dificuldades têm surgido, a energia que as novas gerações vão entregar ao planeta é de uma força enorme. Muitas vezes, essa força é tremendamente subtil e só uns poucos poderão notar, mas elas estão aí, prontas a se revelar.

    Nos anos 60, a geração hippie tentou, através das drogas, chegar a essa experiência culminante. O engano foi tal que muitos de desiludiram e optaram por abdicar dessa espiritualidade. Mas a nova geração hippie, que nasceu nos anos 80, 90, 2000 já tem esse conhecimento e essa sabedoria incorporada, já sabe que não precisamos roubar de fora aquilo que temos cá dentro e está optando por uma via mais digna e espiritualmente mais elevada.

    Serão esses que, junto connosco, irão tornar a Terra (Gaia - Urantia) um paraíso para viver.

    Muitos beijos a todos
    Jorge

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  8. Meu querido, Jorge Vicente:
    Não há nenhum motivo para descrer do futuro da humanidade.
    A geração que assumirá o progresso espiritual do planeta está nascendo hoje, e transformará o dia de amanhã.
    Atualmente, ocorre um imenso resgate kármico, que purificará a humanidade do futuro.
    Abraço.
    Gilberto.

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  9. Sim, é verdade, querido Mestre.

    O que acontece, porém, é que existem poucos textos verdadeiramente espiritualizados que consigam incutir nas pessoas essa força de esperança e amor que todos nós precisamos. E, por isso, a imensa alegria de ler um texto como o seu, em especial, capítulos tão especiais como estes.

    Muitos abraços
    Jorge

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