Meus ecológicos leitores:
Quando o assunto é lixo, o chique é falar em reciclar. Nas embalagens
de alguns produtos aparece a afirmação “reciclável”. Alguns produtos se
promovem por sua condição de “reciclado”. Mas, o que ninguém se dá conta, pois
poucos falam disso, é que reciclar consome energia, e, às vezes, muita energia.
A solução para a redução do lixo nunca foi reciclagem, e sim a redução.
A sociedade continua consumindo de forma exagerada, mesmo depois de muito se
falar do risco de não se ter onde botar tanto lixo. Mas, reduzir o lixo quer
dizer consumir menos, comprando menos supérfluos.
As fábricas, na ânsia de vender cada vez mais, lançam marcas e produtos
diferentes todo mês. E o que existia antes logo fica fora de moda. E o povo
consumista não aceita usar produtos fora de moda. A cada lançamento, nova
remessa de produtos antigos vai para o lixo.
Se eu estivesse falando somente de produtos de beleza, vestuário e
alimentícios dava-se um jeito, afinal são de pequeno porte. Mas, eu estou
falando de computadores, televisores, geladeiras, fogões, linha branca, linha
cinza e linha negra. Lixo, tudo para o lixo, abrindo espaço para o moderno.
As margens dos rios que cortam as cidades ganham móveis velhos,
poltronas e televisores. E nem se fala nas chuvas que inundam áreas urbanas, e
carregam, na correnteza, eletrodomésticos e mobílias. Que excelente desculpa
para um novo crediário, e toma um computador de última geração, a geladeira com
desconto, o televisor sem desconto e o ar refrigerado, que no inverno é mais
barato.
O carnê ficou pesado, será que dá para pagar? Se não der, deixa-se de
pagar, e depois se recupera o crédito. Se tudo correr bem, aproveita-se o
décimo terceiro e troca-se o que ainda restou do velho, para deixar tudo novinho. E para
onde vai o mobiliário rejeitado? Vai tudo para o lixo que é o destino do que é
velho.
E o vovô e a vovó são tão velhinhos, o que fazer com eles? Não, não dá
para jogar no lixo, apesar de estarem em condições bem piores do que a maioria
dos eletrodomésticos descartados. Dá-se um jeitinho, e empurra os dois para o
fundo do quarto, senão a nova TV de tela plana e de tamanho descomunal não tem
espaço para fazer a festa da família.
A geladeira nova não pode ficar vazia, tem de comprar iogurte, sorvete,
cremes e pudins, pacotinhos disto e potinhos daquilo. Agora sim, abre-se a
porta e aquele colorido de potinhos e tacinhas é uma festa. Amanhã, uma sacola
de embalagens plásticas vai para o lixo. Afinal de contas, lixo é para ir para
o lixo, ou não é?
Onde fica o lixo da sua cidade? Ora, o lixo fica onde o caminhão
despeja o que não presta. O que é feito com esse lixo? Isto não é problema meu.
Eu pago imposto para poder produzir lixo, e deixar que a prefeitura se
encarregue de eliminar o que eu não quero mais.
Alguém deixou um carro velho e caindo aos pedaços num canto da rua, o
que fazer com ele? Deixa lá, não está na garagem da gente, é velho demais para
ser usado e ninguém dá muito por ele. Se alguém estiver incomodado que mande
atirar o carro velho no lixo.
Eu era da classe D e agora subi para a C. Meu vizinho era da B e agora
passou para a A. O patrão dele era da A e agora está vivendo em Miami, onde
assumiu a classe B norte-americana. Um dia, eu chego lá! Em Miami? Não, calma
lá, na classe A do Brasil.
E a redução do consumo, a diminuição do lixo? Está louco, agora que eu
estou podendo comprar! Que os antigos ricos reduzam as compras e o lixo. Eu
quero tudo novo, e exijo um lixão para atirar o velho que não quero mais.
Dizem que as cidades não terão mais espaço para receber o lixo. Isso é
problema dos prefeitos. Os ministros estimulam a produção, as fábricas produzem
e eu compro, é assim que se faz o progresso de uma nação.
E as doenças provocadas pelos lixões? E os ratos, moscas e baratas
entrando pelos quintais e janelas, isto não incomoda. Para que serve o
inseticida lançado no mercado, com embalagem gigante, que mata tudo com dois
esguichos. E o mal que o tóxico causa à sua família? Eu tenho dinheiro para
pagar plano de saúde para poder conviver com os venenos sem correr riscos.
Eu queria recomendar a diminuição do lixo, com a redução do consumo. E
acabo o texto mais ameaçado ainda do que antes, pelo aumento do consumo e pela
saturação do nosso lixão.
Será que serei ouvido se recomendar a reutilização? Claro que não! Como
aproveitar coisa velha, se eu posso comprar uma nova, sem ficar quebrando o
galho. Lixo é problema dos lixeiros, e quem tem de saber onde atirar esse lixo
é o prefeito. O meu caso é com os gerentes de lojas e com as promoções do mês.
E com o patrão para que não me mande embora. Mas, se isto acontecer, para que
serve o salário desemprego?
Meu fiel leitor, que dureza essa tal de consciência ecológica! Eu vou
ao quintal enterrar o meu lixo orgânico, e depois deixo no ferro-velho o
reciclável. Vou forrar o sofá e levar o computador para formatar. Ele está
velhinho, mas funciona tão bem!
REDUZIR – REAPROVEITAR E RECICLAR. Eu faço as três, mas eu sou tão
pouco. O lixo cresce, o lixão transborda, as promoções são sedutoras e os
caminhões entregam encomendas sem parar.
Ainda bem que moramos num país rico, que permite essa produção
alucinante de lixo, pois o que é velho tem mesmo de ser trocado. E o que se
troca, atira-se no LIXO.Não é isto em que todos acreditam? Será que eu é que estou errado!!!
Olá! Tanto tempo...Éisso aí,reformar, dar utilidade as coisas!
ResponderExcluirMesmo que façamos parte da minoria,falar a verdade e dar sentido aquilo que compramos ou utilidade é um ato de responsabilidade.Não esqueço do blog,sempre que posso,passo aqui.
Abraços!
Oi, Andréa:
ResponderExcluirApareça sempre que puder que será muito bem recebida.
Todos nós precisamos discursar menos, e agir mais.
Conheço muitos ambientalistas que falam, mas não fazem.
Poucos estão dispostos a reduzir as compras, a comprar menos supérfluos, a não trocar equipamentos a cada ano e não consumir produtos descartáveis.
O planeta continua sendo um grande lixão, e nós humanos os eternos catadores de lixo.
Todo dia 7, um novo texto.
Abraços.
Gilberto.