segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

TEIA AMBIENTAL - NÃO É PRECISO SER PAPA PARA CONDENAR A ECONOMIA DOS RICOS



Meus caros leitores:
não se pode mais falar de ecologia e ambientalismo, sem mencionar a economia criminosa e suicida que se pratica no mundo capitalista. Quem decidiu tratar do assunto foi, simplesmente, o Papa Francisco, que o fez muito mais como um cidadão comum, do que na sua condição de líder católico. Afinal de contas, não é preciso ser Papa para condenar a economia dos ricos.
 “Em sua última Encíclica, o Papa denuncia a ‘dívida ecológica’, ou seja, o fato de que, extraindo hoje da natureza mais do que ela é capaz de nos dar, acumulamos uma dívida muito maior do que todos os bilhões que os países pobres estão devendo aos Bancos Internacionais e às nações do chamado Primeiro Mundo.
 De acordo com o Professor de Economia Gäel Giraud “O ser humano é, antes de tudo, um ser em contínuo relacionamento. Com Deus, com outrem, com a natureza. E quando danifica uma dessas três relações, ele danifica automaticamente as duas outras. O verdadeiro progresso é a cura do que está ferido nessas relações, é a regeneração de uma maneira santa de nos relacionarmos uns com os outros, com Deus e com a natureza”, complementa o pesquisador. De acordo com o economista, a finança é o principal empecilho para o progresso da humanidade.
 Frente a tal cenário, Gaël reforça o discurso de Francisco e argumenta que as alternativas para o momento de crise estão com a potência criadora dos pobres. “São os pobres que inventarão formas humanas e dignas de vida. A economia solidária, a partilha, as cooperativas, a economia circular são exemplos dessas invenções”.
 Conforme palavras do cientista francês, a Encíclica do Papa Francisco privilegia a manutenção das condições de vida decente para todos no planeta. A racionalidade econômica dominante, essa que se expressa através da dita economia neoclássica, parte da hipótese de que a maximização do lucro pelas empresas e a concorrência são o segredo da prosperidade. O Papa Francisco diz simplesmente que isso é uma mentira. Mas, insisto que, não é preciso ser Papa, e nem mesmo um religioso, para chegar a esta triste conclusão.
 Alegar que o lucro privado e a concorrência vão garantir a prosperidade e, em particular, garantir condições de vida digna para todos num planeta que é finito é uma mentira. E isto está comprovado na situação em que se encontram muitos povos na face da Terra, num estado de pobreza absoluta. Enquanto isto, algumas nações gozam da riqueza total, quase em sua maioria, explorando as nações mais pobres.  
 Na opinião do Professor Gäel, a palavra do Papa Francisco confirma a denúncia feita pelo teólogo protestante Jacques Ellul, de que é uma grande ilusão acreditar que a técnica nos salvará do desastre climático e ecológico. Ou se muda radicalmente o modo de vida, ou não se pode esperar salvação numa possível, mas improvável, tecnologia que vencerá o desafio ecológico.
O desajuste climático surge, de repente, como a injustiça social em mais alto grau. De fato, ele afetará muito mais rápido e de forma muito mais duradoura os mais pobres. Tanto os países do Sul mais pobres como, em cada país, as populações mais pobres. Aliás, essa é uma das razões pelas quais as elites econômicas de um grande número de países não levam a sério o desajuste climático e a destruição da biodiversidade. Elas estão convencidas de que terão riqueza suficiente para se salvarem disso, enquanto os pobres morrerão. Que conclusão tão triste, covarde e desumana!

Ora, a economia neoclássica dominante alega que as questões de justiça não contam: a divisão da riqueza não é ditada, nesse pensamento econômico, por uma lógica política, tampouco, portanto, por considerações éticas, sendo puramente ditada por uma lógica interna de mercado. Pelo menos, é o que alega a economia neoclássica. Porém, isso não é verdadeiro: a economia neoclássica fracassou completamente em seu idealismo ao excluir a justiça social do campo da economia.
 Na realidade, tornou-se um puro instrumento ideológico de defesa dos interesses dos mais ricos. Da mesma maneira que o marxismo-leninismo se tornou, na União Soviética, um puro instrumento ideológico de defesa dos interesses dos caciques do Partido. Assim, a adoção da economia neoclássica como paradigma dominante na formação das elites, dos economistas, dos funcionários públicos, gerou aquilo a que essa economia visa: a apropriação, por uma minoria cada vez menor, da riqueza produzida; a explosão das desigualdades, à custa dos mais pobres. Isso é também denunciado pela Encíclica Laudato Si.
 Como já havia declarado a estudiosa e sábia pesquisadora econômica Hazel Henderson, numa conversa com Fritjof Capra, que antecedeu a publicação do livro Ponto de Mutação, o crescimento do PIB é acompanhado por um crescimento proporcional das devastações ecológicas e do consumo de energia, fóssil na maioria das vezes. Enquanto nossas economias não conseguirem desvincular a prosperidade do consumo de energia fóssil, continuaremos destruindo o planeta, fazendo de conta que estamos trabalhando pelo bem de todos, ao passo que essa destruição beneficia tão somente um pequeno grupo.
 Os argumentos dos neoliberais é mentirosa, porque nunca aconteceu, e não tem a menor chance de vir a acontecer. A de que o enriquecimento dos mais ricos traria a garantia de prosperidade aos mais pobres. Assim, as desigualdades significam simplesmente que os mais ricos conseguem captar uma parte crescente da riqueza produzida por todos para o seu benefício pessoal. E essa acumulação de riqueza os leva a adotar modos de vida predadores em relação ao planeta, logo, em relação às gerações vindouras. É por essa razão que se faz necessário reduzir as desigualdades para salvar o clima.
 Portanto, o primeiro ponto muito concreto da Encíclica recomenda neutralizar o poder dos banqueiros. O segundo ponto: a Encíclica evoca também muito claramente a necessidade de os países do Norte aceitarem “certo decrescimento”. É preciso romper com o produtivismo, a loucura da concorrência de todos contra todos, do crescimento do PIB a qualquer custo.
Quem diz isto é um homem que, por sinal, está exercendo a função de chefe da Igreja Católica. Qualquer criatura religiosa, não importando de qual religião, repetiria os mesmos conceitos. Cientistas honestos que não estivessem vendidos ao capitalismo explorador reconheceriam estes conceitos como verdadeiros.
O futuro do planeta está nas mãos de uns poucos que podem acabar com a vida na Terra, a qualquer momento. Seja pelo dinheiro que escraviza ou pelas armas que matam. Precisou vir de um religioso um alerta que mais deveria caber à ciência do que à religião.
Mas, caros leitores, reconheçam que só existe a ditadura do dinheiro, por existir escravos que se submetem aos donos do dinheiro, por ambição materialista ou interesses de poder. Ninguém pode se tornar um feitor de escravos, se não houver aqueles que se submeterão à ordem do feitor.
E, por fim, deixo um recado para os que se dizem católicos, para que ouçam o líder de sua Igreja, e não façam de conta que não entenderam o recado. Ele foi dirigido para toda a humanidade, mas, principalmente, para os que são católicos, ou que se dizem tais.
Juízo, muito juízo, humanidade insensata! O dinheiro vai acabar matando o que ainda resta de vida. E, não é preciso ser um Papa, para afirmar esta verdade.

















2 comentários:

  1. É Gilberto, seu poder de síntese me faz refletir o que normalmente me questiono, como possível futura economista, mas com uma carga mais pontual e já sintetizada.
    Temo pelo meu planeta tão quanto temo pela minha Terra, o meu Brasil. Temo estarmos fadados a um Kharma de maus líderes e temo ainda mais não achar uma solução pelo menos para parte do problema com a qual lutarei, me sinto incomodada.
    Estou comentando neste post pois hoje você me veio a cabeça, e resolvi fazer uma visita, e como faz-se bem o tempo que passo lendo os teus textos..
    Sinto-me diretamente ligada com o viver e sofrer da natureza, e a qual num mundo selvagem de falsas ideologias estou tentando ao máximo descobrir como renascer de tudo isso, e conseguir salvar á todos que conseguir, arvores que choram, pessoas que passam fome, eliminando as corporações que cada vez mais nos envenenam e envenenam nossa Terra.
    Só não sei como ainda.. rs
    Como pode perceber estou num turbilhão de pensamentos.. afinal passei o dia lendo e refletindo sobre todos seus textos da sequencia de Teia Ambiental a qual nesse resolvi escrever.
    Sinto realmente no meu Ser a necessidade de viver a mudança.. como puder.. e não deixar o Ego corromper mais um dos que adentram ao mundo da "ciência "econômica".
    E claro, alegro-me de ter encontrado a tí e seus textos, crescendo a cada reflexão e acreditando no poder da atração, e nossa, precisava disso tudo..
    Obrigada por fazer meu dia grande Gilberto!
    abraço e até a próxima.
    Victoria

    ResponderExcluir
  2. Minha querida leitora, Victoria:
    Agradeço suas palavras gentis e carinhosas. O alto nível dos meus leitores é que me faz cuidadoso e coerente em cada uma das postagens.
    Sou irmão de economista, e sei o que, de fato, representa a Economia, na vida de um país.
    Como afirma a sábia estudiosa do mundo econômico, Hazel Henderson, a Economia não é uma ciência, ela é política.
    Caso não tenha lido, recomendo-lhe dois livros do cientista quântico Fritjof Capra, que tratam do desenvolvimento sustentável - Ponto de Mutação e Sabedoria Incomum.
    Sabedoria Incomum é mais fácil de leitura, por ser uma narrativa das conversas e entrevistas que antecederam a preparação do Ponto de Mutação.
    Em ambos, o autor trata de questões econômicas, mas a Hazel é a especialista mais clara e objetiva sobre as questões econômicas. E ela não é formada em Economia.
    São dois livros imperdíveis, para quem gosta de aprofundar sua visão sobre os problemas relacionados ao futuro dos recursos energéticos do planeta.
    E, para seu conhecimento, dia 24 deste mês está programado o lançamento do meu livro NUMEROLOGIA DA ALMA.
    Aguarde um COMUNICADO da Editora sobre o lançamento.
    Abraço.
    Gilberto.


    ResponderExcluir