
Eu já vos disse, em textos passados, o quanto eu me sinto atraído pelo conteúdo desse livro, no qual o autor relata suas experiências nos contatos com seus conselheiros, que viriam orientá-lo na elaboração do livro “Ponto de Mutação”.
O “Ponto de Mutação” foi uma obra que se seguiu ao primeiro grande sucesso do autor, o “Tao da Física”, e tratou de uma perspectiva futura de quebras de paradigmas, com abo

Os psicólogos e os psicoterapeutas foram os primeiros a se aproximar de Capra, quando ele começou a ministrar palestras sobre o seu livro “Tao da Física”. Essa aproximação natural acabou facilitando os primeiros contatos que o levariam a reunir profundos conhecimentos nessa área, e a manter um relacionamento mais íntimo e estreito com o Doutor R. D. Laing, uma das mentes mais brilhantes no tratamento dos chamados loucos.
Na época, o livro de Laing “O eu dividido” era leitura obrigatória de um curso freqüentado por Capra sobre loucura e cultura, o que foi familiarizando-o com as teorias de Laing. Os conceitos de Laing sobre dois temas em especial chamaram a atenção de Capra: o questionamento da autoridade e a expansão da consciência.
Esses temas eram abordados de forma vigorosa num outro livro do Doutor La

Capra se deixou seduzir e entusiasmar com a eloqüência de Laing, que afirmava “o indivíduo que é internado e recebe o rótulo de paciente, e, de modo específico, de esquizofrênico, sofre um aviltamento de sua condição existencial e legal enquanto agente humano e pessoa responsável, e torna-se alguém não mais possuidor da sua própria definição de si, incapaz de manter aquilo que é seu e impedido de arbitrar quem irá encontrar ou o que irá fazer”.
A revolta do psiquiatra era com o tratamento dispensado a quem, após se submeter a um exame psiquiátrico, era aprisionado numa instituição fechada, reconhecida como um hospital de doentes mentais. Nesse ambiente hostil, o paciente era isolado do seu meio e rotulado como mentalmente doente e incapacitado para fazer escolhas ou tomar decisões.
O que mais chamou a atenção de Capra é que Laing não tratava a esquizofrenia e outras formas de psicose como doenças, considerando-as como estratégias inventadas para que essas pessoas estigmatizadas pela loucura simplesmente conseguissem sobreviver em situações insuportáveis. Essa concepção revolucionária reconhecia a loucura como uma reação sadia a um ambiente social insano, e que não existem

Capra aprendeu em suas consultas e conversas com especialistas que Jung procurava entender a psique humana em sua totalidade, interessando-se pelas relações de cada um com o ambiente onde vivia. A menção do inconsciente coletivo jungiano implica num elo entre o indivíduo e a humanidade, que não pode ser simplificado e reduzido a um contexto de âmbito mecanicista.
A opinião de Stan Grof, outro psiquiatra consultado por Capra, era que tudo que fugia ao padrão dito normal era erroneamente diagnosticado como desvio patológico. Segundo Grof, o erro estava em se diagnosticar com base no conteúdo dessas experiências estranhas e atitudes incomuns, quando o que importava era a maneira como a pessoa conseguia lidar com elas e integrá-las à sua vida.
Meus atentos leitores, eu me concedo o direito de fazer uma analogia entre a narrativa de Capra e um conto do grande Machado de Assis, que tratou de forma irônica e cínica essa mesma temática, quase cem anos antes de Capra escrever seu livro. O conto c

Contrariando os hábitos vigentes, ele propõe à Câmara construir uma clínica de tratamento, onde os doentes seriam tratados; os furiosos, retirados dos isolamentos de seus quartos em suas residências, e os mansos, recolhidos das ruas e praças. A um mero sinal de desvio dos padrões de comportamento considerados normais, o cidadão era recolhido à Casa Verde, o asilo de loucos com suas janelas verdes.
O Doutor Simão Bacamarte, o médico alienista que deu nome ao conto, tratava de todos com muito zelo e competência, e a cada nova atitude suspeita, recolhia mais um paciente à Casa Verde. Um dia, quando quase toda a população já se encontrava trancafiada para tratamento, Simão Bacamarte surpreendeu a todos, e mandou todos para casa. E, para maior surpresa ainda, se trancou ele mesmo no asilo.
A conclusão a que chegara o nosso doutor é que ser normal é apresentar comportamentos

Como dizia o Doutor Laing, não existem loucos, mas sociedades loucas. Os esquizofrênicos, diante de sociedades enlouquecidas e esquizofrênicas, não vêem outra saída senão criar o seu próprio mundo, e nele se recolher. Os que insistem em obrigá-los a aceitar o mundo “normal” e a reconhecer verdades inventadas pelos interesses dos padrões vigentes se consideram lúcidos, e os rotulam de loucos ou esquizofrênicos.
Os meus aprendizes e matemáticos sabem que loucuras são atribuições do número 5, quando se perde os limites e se passa por cima de tudo e de todos. Os impulsos e rompimentos dos padrões são ações do número 5, quando não se consegue canalizar suas energias para movimentos sadios de libertação e independência.
Os conflitos são as causas das loucuras humanas, quando diante de resistências, oposições e crises, perde-se o controle e agride-se a sociedade ameaçadora. A agressão pode ser ativa, com ações do número 5, ou passiva, quando é o número 4 que se impõe.
As ações atribuídas ao número 5 poderiam ser definidas psicologicamente como os atos de loucura agressiva e mais violenta, enquanto as do número 4 seriam as tipicamente esquizofrênicas, com fugas e ausências da realidade.
Como tratar esses seres psicóticos? Como um autoritário e dominador número 1 ou como um pacificador e harmonizador número 2? O padrão ainda em vigor é o opressivo e autoritário número 1. Ou, quem sabe, se já não poderíamos traduzi-lo como sua conseqüência kármica mais imediata, o número kármico 19!

Creiam-me, atentos leitores, que os esquizofrênicos podem ser rotulados e discriminados, recolhidos a clínicas cruéis e ultrapassadas, mas eles serão sempre ícones do criativo, inspirador e romântico número 3. Os esquizofrênicos fogem de uma realidade que não suportam, e buscam, em sonhos e fantasias, o seu mundo perfeito, numa perfeita ação do número 3.
Não nos importam os falsos rótulos ou os diagnósticos corretos, nem mesmo, se os tratamentos são os ideais ou não, deveremos tratar o nosso semelhante como parte da nossa existência, como um dos componentes do sistema interativo e envolvente, a que denominamos humanidade.
Se o nosso semelhante apresenta desvios de comportamento, que tal questionar se não seríamos nós que estamos fora de rumo e provocando as angústias psicóticas daquele ser? Por que motivo, uma atitude de exceção estaria errada, e as que seguem as regras gerais seriam corretas?
Quantas verdades foram desmascaradas através do tempo! O número 7 não deixa a mentira prevalecer, ele pesquisa, estuda, se isola do mundo e reaparece com uma teoria que contraria as falsas verdades e transforma as antigas verdades em comprovadas mentiras.
Ah, meus aprendizes, se todos se comportassem como o altruístico e humanitário número 9, os esquizofrênicos não existiriam, pois ninguém iria inventar um mundo melhor para se viver do que o mundo físico deste planeta sagrado chamado Terra!
Pensai bem, antes de chamar alguém de louco. Colocai a mão na consciência, antes de internar um parente ou um amigo num asilo de loucos. Não importam os nomes que se dão a essas casas, algumas com seus nomes modernos só procuram encobrir a triste realidade que sempre se fez presente nos tradicionais hospícios. Muda-se o rótulo, mas o conteúdo é o mesmo.