Meus
caros leitores:
Já
não se pode mais falar de ecologia e ambientalismo, sem mencionar a
economia criminosa e suicida que se pratica no mundo capitalista.
Quem decidiu tratar do assunto foi, simplesmente, o Papa Francisco,
que o fez muito mais como um cidadão comum, do que na sua condição
de líder católico. Afinal de contas, não é preciso ser Papa para
condenar a economia dos ricos.
“Em
sua última
Encíclica,
o Papa denuncia a ‘dívida ecológica’, ou seja, o fato de que,
extraindo hoje da natureza mais do que ela é capaz de nos dar,
acumulamos uma dívida muito maior do que todos
os bilhões
que os
países
pobres
estão devendo aos Bancos Internacionais e às
nações
do chamado Primeiro
Mundo.
De
acordo com o Professor de Economia Gäel Giraud “O ser humano é,
antes de tudo, um ser em contínuo relacionamento. Com Deus, com
outrem, com a natureza. E quando danifica uma dessas três relações,
ele danifica automaticamente as duas outras. O verdadeiro progresso é
a cura do que está ferido nessas relações, é a regeneração de
uma maneira santa de nos relacionarmos uns com os outros, com Deus e
com a natureza”, complementa o pesquisador. De acordo com o
economista, a finança é o principal empecilho para o progresso da
humanidade.
Frente
a tal cenário, Gaël reforça o discurso de Francisco e argumenta
que as alternativas para o momento de crise estão com a potência
criadora dos pobres. “São os pobres que inventarão formas humanas
e dignas de vida. A economia solidária, a partilha, as cooperativas,
a economia circular são exemplos dessas invenções”.
Conforme
palavras do cientista francês, a Encíclica do Papa Francisco
privilegia a manutenção das condições de vida decente para todos
no planeta. A racionalidade econômica dominante, essa que se
expressa através da dita economia neoclássica, parte da hipótese
de que a maximização do lucro pelas empresas e a concorrência são
o segredo da prosperidade. O Papa Francisco diz simplesmente que isso
é uma mentira. Mas, insisto que, não é preciso ser Papa, e nem
mesmo um religioso, para chegar a esta triste conclusão.
Alegar
que o lucro privado e a concorrência vão garantir a prosperidade e,
em particular, garantir condições de vida digna para todos num
planeta que é finito é uma mentira. E isto está comprovado na
situação em que se encontram muitos povos na face da Terra, num
estado de pobreza absoluta. Enquanto isto, algumas nações gozam da
riqueza total, quase em sua maioria, explorando as nações mais
pobres.
Na
opinião do Professor Gäel, a palavra do Papa Francisco confirma a
denúncia feita pelo teólogo protestante Jacques Ellul, de que é
uma grande ilusão acreditar que a técnica nos salvará do desastre
climático e ecológico. Ou se muda radicalmente o modo de vida, ou
não se pode esperar salvação numa possível, mas improvável,
tecnologia que vencerá o desafio ecológico.
O
desajuste climático surge, de repente, como a injustiça social em
mais alto grau. De fato, ele afetará muito mais rápido e de forma
muito mais duradoura os mais pobres. Tanto os países do Sul mais
pobres como, em cada país, as populações mais pobres. Aliás, essa
é uma das razões pelas quais as elites econômicas de um grande
número de países não levam a sério o desajuste climático e a
destruição da biodiversidade. Elas estão convencidas de que terão
riqueza suficiente para se salvarem disso, enquanto os pobres
morrerão. Que conclusão tão triste, covarde e desumana!
Ora,
a economia neoclássica dominante alega que as questões de justiça
não contam: a divisão da riqueza não é ditada, nesse pensamento
econômico, por uma lógica política, tampouco, portanto, por
considerações éticas, sendo puramente ditada por uma lógica
interna de mercado. Pelo menos, é o que alega a economia
neoclássica. Porém, isso não é verdadeiro: a economia neoclássica
fracassou completamente em seu idealismo ao excluir a justiça social
do campo da economia.
Na
realidade, tornou-se um puro instrumento ideológico de defesa dos
interesses dos mais ricos. Da mesma maneira que o marxismo-leninismo
se tornou, na União Soviética, um puro instrumento ideológico de
defesa dos interesses dos caciques do Partido. Assim, a adoção da
economia neoclássica como paradigma dominante na formação das
elites, dos economistas, dos funcionários públicos, gerou aquilo a
que essa economia visa: a apropriação, por uma minoria cada vez
menor, da riqueza produzida; a explosão das desigualdades, à custa
dos mais pobres. Isso é também denunciado pela Encíclica Laudato
Si.
Como
já havia declarado a estudiosa e sábia pesquisadora econômica
Hazel Henderson, numa conversa com Fritjof Capra, que antecedeu a
publicação do livro Ponto de Mutação, o crescimento do PIB é
acompanhado por um crescimento proporcional das devastações
ecológicas e do consumo de energia, fóssil na maioria das vezes.
Enquanto nossas economias não conseguirem desvincular a prosperidade
do consumo de energia fóssil, continuaremos destruindo o planeta,
fazendo de conta que estamos trabalhando pelo bem de todos, ao passo
que essa destruição beneficia tão somente um pequeno grupo.

Os
argumentos dos neoliberais é mentirosa, porque nunca aconteceu, e
não tem a menor chance de vir a acontecer. A de que o enriquecimento
dos mais ricos traria a garantia de prosperidade aos mais pobres.
Assim, as desigualdades significam simplesmente que os mais ricos
conseguem captar uma parte crescente da riqueza produzida por todos
para o seu benefício pessoal. E essa acumulação de riqueza os leva
a adotar modos de vida predadores em relação ao planeta, logo, em
relação às gerações vindouras. É por essa razão que se faz
necessário reduzir as desigualdades para salvar o clima.
Portanto,
o primeiro ponto muito concreto da Encíclica recomenda neutralizar o
poder dos banqueiros. O segundo ponto: a Encíclica evoca também
muito claramente a necessidade de os países do Norte aceitarem
“certo decrescimento”. É preciso romper com o produtivismo, a
loucura da concorrência de todos contra todos, do crescimento do PIB
a qualquer custo.
Quem
diz isto é um homem que, por sinal, está exercendo a função de
chefe da Igreja Católica. Qualquer criatura religiosa, não
importando de qual religião, repetiria os mesmos conceitos.
Cientistas honestos que não estivessem vendidos ao capitalismo
explorador reconheceriam estes conceitos como verdadeiros.
O
futuro do planeta está nas mãos de uns poucos que podem acabar com
a vida na Terra, a qualquer momento. Seja pelo dinheiro que escraviza
ou pelas armas que matam. Precisou vir de um religioso um alerta que
mais deveria caber à ciência do que à religião.
Mas,
caros leitores, reconheçam que só existe a ditadura do dinheiro,
por existir escravos que se submetem aos donos do dinheiro, por
ambição materialista ou interesses de poder. Ninguém pode se
tornar um feitor de escravos, se não houver aqueles que se
submeterão à ordem do feitor.
E,
por fim, deixo um recado para os que se dizem católicos, para que
ouçam o líder de sua Igreja, e não façam de conta que não
entenderam o recado. Ele foi dirigido para toda a humanidade, mas,
principalmente, para os que são católicos, ou que se dizem tais.
Juízo,
muito juízo, humanidade insensata! O dinheiro vai acabar matando o
que ainda resta de vida. E, não é preciso ser um Papa, para afirmar
esta verdade.