Às vezes, eu me ponho a refletir sobre o desamor que as
pessoas, em sua grande maioria e sem se dar conta, é verdade, dedicam à natureza. Se forem perguntadas,
essas pessoas jurarão eterno amor pelas florestas, praças e jardins, mas, na
prática, são capazes de pôr abaixo ou, simplesmente, solicitar a derrubada de árvores, o extermínio de plantas
e de qualquer espécie nativa que atravesse o seu caminho.
Então, eu me pergunto: o que está acontecendo com a criatura humana?
Por que tamanha aversão às capoeiras e bosques que se formam próximos às suas
casas? Por que essa ânsia assassina de limpar o terreno, arrancando tudo que é
verde, e deixando o solo a descoberto?
As podas nas cidades costumam depenar as árvores, dificultando, e
muitas vezes impedindo que, muitas delas, se recuperem. As pessoas, incomodadas
pelas raízes das árvores na calçada, cobram do serviço público que as arranque
por representar uma ameaça aos transeuntes. Mas, num dia de sol quente, ninguém
dispensa a sombra amiga que protege e ameniza o calor.
A criatura humana está, cada dia, mais egoísta, pensando somente em si,
e não percebendo que existem outros interesses em jogo, quando se vive numa
sociedade. Se uma árvore suja a sua calçada de folhas, exige a poda. Se ela
estiver localizada quase em frente ao seu portão de garagem, o carro tem
prioridade, e a solução encontrada é derrubar a árvore. Se as belas ramagens de
uma frondosa árvore roçam nos fios em dias de vento, ninguém imagina passar a
fiação por uma tubulação subterrânea, a solução é pôr a árvore abaixo.
As pessoas reclamam do calor, mas não conseguem associar as altas
temperaturas com a ausência, cada vez maior, de vegetação nas grandes cidades.
E, hoje em dia, até as pequenas cidades já vêm devastando suas matas, para dar
espaços a ruas e casas.
O pior é que, nem sempre, ou quase nunca, há necessidade de sacrificar
as árvores, mas, qualquer inconveniente é motivo para atitudes extremas, que
botam as árvores no chão. E, quando se pergunta se gostam de plantas e jardins,
é quase unânime a resposta que adoram e muito. Mas, essa adoração, quase
sempre, fica restrita a flores e a umas poucas espécies de plantas decorativas.
O mato é sinônimo de sujeira, tanto que se usa o termo limpeza para
definir o ato de arrancar o mato e deixar o solo pelado. Não se consegue
associar os desbarrancamentos e transbordos de rios a essas ações absurdas de
retirar toda a vegetação e permitir que a água da chuva carregue rua abaixo
toda a lama que se forma no solo barrento e descoberto.
Confesso-te, minha amiga leitora, que a decepção pode chegar ás raias
do mais profundo desalento, neste convívio com pessoas que dizem amar a
natureza, e que traduzem todo o seu imenso amor, no cultivo de uma meia dúzia
de vasinhos de flores na varanda.
As cidades, devido a essa prática urbana de erradicar o verde das ruas
e praças, estão, a cada dia, mais feias e quentes. O povo reclama do calor,
mas, esquece que é ele o maior responsável pela ausência de uma vegetação
adequada que amenize o clima, e que faça da sua cidade um lugar que ofereça uma
qualidade de vida digna de se morar.
Os órgãos das prefeituras responsáveis pelo meio-ambiente recebem por
mês dezenas de pedidos de derrubada de árvores, por razões diversas, desde o
risco de cair sobre um telhado até o de atrair pássaros que sujam a calçada. Os
motivos alegados chegam a ser ridículos, obrigando os funcionários desses
setores a se tornar verdadeiros guardiões da natureza, bem mais do que responsáveis
pela manutenção da flora urbana.
Os jardins considerados bonitos são os que só possuem flores, e muitos
deles nem plantam essas flores no solo, elas já vêm da floricultura em vasos,
que são pousados na terra, como peças decorativas. Isto não configura o amor à
natureza, e nem mesmo um gosto por plantas, mas, uma simples e fria atitude de
fazer das flores meros objetos de decoração.
Então, fica a pergunta: o que fazer para tornar o clima de uma região
ameno e agradável aos seus habitantes? Como estimular o surgimento de fontes de
água a brotar da terra e a refrescar o solo e o ar?
A triste realidade é que quem diz amar a natureza, em sua grande
maioria, nem ama e nem sabe bem o que seja a natureza. Amar não pode ser nunca
relacionado a destruir. Quem ama não derruba, quem valoriza não arranca.
Afinal, que amor é esse?
Olá, Gilberto
ResponderExcluirQue maravilha de post!!
Bem de acordo com o espírito com que brindei o meu coração neste último mês...
Vou falar da natureza nos próximos post pois trouxe uma bagagem enorme da Região Norte do Brasil e da fronteira Boliviana...
Que amor é esse???
Terminou muito bem!!!
Tudo que vi por lá, demonstra bem que tipo de amor pode estar em nosso coração...
"Seja na grama molhada pelo orvalho
O lugar não importa
Estou a tua espera".
(Selma)
Fiquemos firmes na Teia, cultivando-a em nós, em primeiro lugar!!!
Abraços fraternos esverdeados
Minha querida Orvalho:
ResponderExcluirA natureza está em todos nós e em qualquer lugar do planeta.
Quem despreza a natureza, desconhece o que é amar a Deus.
A natureza é a presença física mais convincente da existência divina. Quem não reconhece Deus em cada espécie da natureza, não conhece Deus.
Estamos juntos no amor a Deus e à Natureza.
Abraços ecológicos.
Gilberto.
Seja num pardal,do qual as pessoas não dão
ResponderExcluirimportância,ou em alguma plantinha singela!
Todos são de um grande valor!
BASTA CADA UM DE NÓS DESCOBRIR...ABRAÇOS.
É isso mesmo, minha amiga Andréa!
ResponderExcluirUm abraço.
Gilberto.
Meu caro Mestre, não imagina o quanto as suas palavras refletem o que está a acontecer na pequena cidade onde moro. É incrível o que estão a fazer por aqui, não tanto às árvores grandes, mas a vários arbustos, plantas e árvores de pequeno porte: têm cortado de tal maneira que muitas vezes deixam apenas uns quantos troncos com meia dúzia de folhas. Não consigo entender. Esta era uma cidade com imensos espaços verdes, e agora está a tornar-se uma cidade com muitos espaços castanhos (marron?) e pouco verde, já que estão a devastar grande parte da vegetação. É curioso que ainda ontem tirei umas fotos aqui perto de minha casa, porque esse é um problema que me preocupa, bem como a outros moradores, vamos até apresentar uma reclamação na junta de freguesia (prefeitura). Sei de uma pessoa que costuma assistir às reuniões mensais, já falou lá no assunto, mas ele foi desvalorizado. Disseram que se trata de limpeza (também acho incrível usarem esse termo!)e desmatação!?!? Então agora decidimos fotografar as pequenas árvores e arbustos mutilados para apresentar lá, vamos ver a resposta que temos. Só gostava de entender o porquê de semelhantes atitudes, é que não dá mesmo para entender!
ResponderExcluirUm abraço.
Minha querida Cláudia:
ResponderExcluirDizia um famoso ambientalista brasileiro que isso é o medo ancestral das florestas, que, até hoje, ainda sobrevive no homem da cidade.
Ele trata as árvores, arbustos e tudo que é verde como inimigos, e sonha em substituí-los por asfalto e concreto.
Essa raça está prestes a ser substituída por uma outra mais evoluída. As crianças que vêm nascendo vão mudar a face da Terra nos próximos cem anos. Mas, por enquanto, vamos fazendo a nossa parte.
Um abraço.
Gilberto.