Volto a ocupar um espaço do Alma Mater para, à semelhança dos antigos escritores, publicar mais uma de minhas obras literárias.
Depois do misterioso À Margem do Tempo, publico o conto, não menos misterioso, Que Assim Seja.
Estou concluindo uma história muito intrigante, chamada Memórias de um Profeta, que se passa num passado distante e que faz revelações proféticas e futuristas. Mas, a sua publicação só começará em janeiro de 2013.
Enquanto isso, fiquemos com o conto Que Assim Seja, que hoje tem publicado o seu 1º capítulo.
Vamos a ele!
Boa leitura.
Gilberto.
Que assim seja.
CAPÍTULO I
Existem verdades, que
o melhor é aceitá-las, e não tentar compreendê-las. E se nem sempre isto é fácil, pior seria a
loucura de tentar explicá-las.
Com este curto
prólogo, eu te introduzo, caro leitor, à estranha história de um homem cético,
que se envolveu numa realidade que estava além da imaginação.
Chamava-se Roque, um
nome herdado do bisavô materno, que foi conhecido por seus dons xamânicos de
cura, em terras distantes de além-mar. Perseguido sob a acusação de praticar
magia negra, o bisavô do nosso Roque foi muito amado pelos mais humildes, a
quem curava de todos os males físicos e espirituais, mas acabou queimado numa
fogueira.
O Roque da nossa
história nasceu no Brasil, filho de imigrantes portugueses, teve uma infância
difícil, sendo obrigado a trabalhar desde cedo.
Desde menino,
mostrou-se devoto de todas as Santas Maria, colecionando santinhos e se
benzendo à simples menção dos seus nomes. Era um beato, um carola, como diziam
seus pais.
À custa de muita insistência
dos pais, formou-se professor, e não padre. A Igreja perdeu uma grande vocação,
o mundo ganhou um sábio e amoroso mestre.
A sua opção pelo
magistério atribui-se a Lídia, uma moça saidinha que atravessou o seu caminho
às vésperas de se recolher ao convento.
Moderna para a sua
época, Lídia tinha um jeito atrevido de chamar a atenção, e fisgou o coração do
rapaz, com seus trejeitos sutis e envolventes. O olhar de Lídia tinha o mesmo
jeitinho oblíquo e dissimulado da Capitu, porém era bem mais audaciosa do que a
personagem de Machado de Assis. Pensando bem, ela estava mais para Lolita do
que para Capitu. Ela adorava seduzir homens mais velhos, e com Roque não foi
diferente. Ele não foi o único, mas o último de todos.
Lídia amou-o, e depois
dele mais ninguém. Aquele olhar oblíquo e dissimulado nunca mais foi dirigido a
outro homem. Lídia passou de sedutora a seduzida, e amadureceu tão bruscamente
que a diferença de idade entre eles, aos olhos mais desavisados, passava
despercebida.
Casaram-se numa cerimônia
simples, numa igreja de subúrbio, onde ele costumava assistir suas missas,
desde menino. O padre, que esperava ordená-lo sacerdote, benzeu as alianças, e teve
de se conformar com seu ato de traição à Igreja, como afirmou, mais tarde, aos
pais de Roque.
O casamento não o
afastou da Igreja, mas mudou os seus antigos hábitos de freqüentar todas as
festas e celebrações religiosas. Os parentes de Roque condenaram aquela união,
desde os primeiros dias de namoro. As amigas de Lídia não se conformavam em perdê-la
para aquele homem sério e compenetrado. Elas estavam acostumadas a recolher as
migalhas que sobravam das festas e banquetes, com que Lídia celebrava cada
conquista amorosa. Todos eram unânimes em afirmar que aquilo não ia dar certo.
Apesar de todos os
rogos e pragas, o casamento seguia de vento em popa. E, como se fosse magia, a
conversa se dava pela troca de olhar, um compartilhava dos ideais do outro,
numa harmonia perfeita.
Viviam num mar de
rosas, envolvidos no perfume das flores, e sem os espinhos que ferem os amantes
mais incautos. Os parentes e amigos, cheios de ciúmes, criticavam os excessos
de chamego, e pareciam se sentir provocados e ofendidos, por tanto amor.
Ah, meus caros
leitores, não tentem entender a alma humana! A mesma criatura que é capaz de se
sacrificar para salvar um pobre coitado que está se afogando, também pode
amaldiçoar uma gargalhada ou um simples sorriso do náufrago há pouco resgatado.
Lembro-me de minha avó, que mais fácil chorava por quem sofria, do que sorria
por quem demonstrava alegria e contentamento. Era uma boa mulher, mas cultuava
o sofrimento, tanto quanto adorava os santos no altar. Alegria, para ela, era
um ato de desrespeito aos muitos que sofriam, inclusive ela própria. Quantas pessoas
não padecem do mesmo mal!
Obrigada pela gentileza.Eu concordo que alma humana,é sem dúvida um grande segredo,e confesso que o sofrimento chama mais a minha
ResponderExcluiratenção do que a tal "felicidade".
Minha querida leitora, Andréa:
ResponderExcluirA sua assiduidade na leitura e nos comentários do À Margem do Tempo, justifica a menção ao seu nome, na apresentação desta nova obra.
Se é o sofrimento que mais a atrai, prepare-se.
Um abraço.
Gilberto.
Fantástico ritmo na narrativa, querido mestre.
ResponderExcluirGosto de textos dinamicos e libertos. Cá estou eu para acompanhar o conto de Roque (Santeiro).
Abraços.
Rute
Que bom que gostou do ritmo e da dinâmica, Rute!
ResponderExcluirO conto irá agradar-lhe, tenho certeza.
São cinco capítulos, enquanto aguardamos o término da nova história, em que vou relatar as Memórias de um Profeta.
Abraços.
Gilberto.