CAPÍTULO II
A alegria e a felicidade
de Roque, ainda que alheias à inveja que despertavam, tinham os seus dias
contados. Lídia contraiu uma rara doença, que passou a exigir cuidados
especiais, deixando Roque muito preocupado. Por isso, reduziram-se as saídas,
rarearam-se os passeios. Lá fora, faltava o antigo entusiasmo por desvendar
juntos os mistérios do mundo. Dentro de casa, faltavam o sorriso e os gritos de
crianças.
Lídia não podia ter
filhos, e eles preferiram não contrariar a vontade divina, como justificava
Roque, afastando a idéia da adoção. Mas, se não havia filhos, não lhes faltavam
crianças para cuidar.
O professor Roque, com
seu jeitão sério e rigoroso, sabia como lidar com os alunos, dispensando-lhes
atenção e respeito, sem discriminar os menos estudiosos e os desobedientes.
Dizia ele que, o aluno comportado e estudioso quase nunca é o mais sábio e
criativo. Por pensar assim, ele buscava
motivá-los, incutindo-lhes idéias que serviam para despertar os poderes
criativos da turma. As crianças o adoravam, e ele se acostumou a transferir
para os alunos, os sentimentos paternos de amor e carinho, que não podia
dedicar a um filho.
Lídia era uma
terapeuta infantil, e vivia cercada de crianças. Muitas delas chegavam doentes
e apáticas, e logo se tornavam sadias e cheias de entusiasmo. As mães se faziam
suas amigas, as crianças, as filhas que ela não poderia gerar.
Era impossível
conviver com Lídia e não incorporar aquela irradiante energia, de uma
vitalidade inesgotável. Tanto ela se doou, tanta energia ela passou para os
outros que, um dia, a fonte secou. Mas, nem ela se lastimou com a doença, nem
permitiu que Roque se abatesse.
Eles tornaram-se ainda
mais unidos, e continuaram a se amar como dois adolescentes apaixonados. Com a
maior permanência em casa, eles se acostumaram a manter uma relação mais
próxima com a filha dos vizinhos, uma menina de 12 anos chamada Lívia. A
semelhança dos nomes aproximou as duas, e a confusão provocada propositalmente
por Roque, quando chamava uma ou outra, causava muito riso e brincadeiras,
fortalecendo a amizade.
Lídia e Lívia criaram
vínculos, como se fossem irmãs, apesar da diferença de idade entre as duas, de
quase 20 anos.
Roque achava muita
graça ao vê-las brincando às gargalhadas como duas crianças. Elas cochichavam, trocavam
segredos e adormeciam juntas. Esse convívio amoroso estendeu-se por não mais de
3 anos, quando a saúde de Lídia deu sinais de estar perdendo a batalha.
Internações, repouso
absoluto, tratamentos e acompanhamentos médicos diários acabaram por
afastá-las, e seus encontros já não eram mais do que visitas formais, daquelas
com horário marcado de chegada e de partida.
Numa bela manhã de
sol, Lídia se foi, não sem antes mandar chamar Lívia, e trocar com ela um
abraço que parecia não ter mais fim.
Manter a "chama" da vida não é facil!
ResponderExcluirPior é vê-la se apagando...E ter que entender o sentido.
Acontece, minha querida Andréa, que o destino tem soluções que fogem à nossa compreensão.
ResponderExcluirAguardemos os próximos acontecimentos.
Um abraço.
Gilberto.
Meu amigo,
ResponderExcluirJá estou ansiosa pela publicaçao que mencionou: Memórias de um Profeta.
Deve ser realmente muito interessante.
Abraços,
Carla Passos
Sem ansiedade, Carla. Por enquanto, vá curtindo o conto...e que assim seja.
ResponderExcluirUm abraço.
Gilberto.
Aqui estou eu, também seguindo este «Que assim seja», e já esperando o próximo capítulo.
ResponderExcluirAproveitei esta tarde para ler algumas das suas postagens, e quando dei por mim já tinham passado horas.
Achei muito interessante o texto «Holismo ou remédio não cura». Retive algumas frases, das quais destaco: "a cura só ocorre quando são eliminadas as causas que deram origem à doença". Tudo seria tão mais fácil se os médicos partilhassem destas ideias! Acho horrível que grande parte dos médicos se limite a ouvir o doente durante 5 minutos, e logo "resolva o problema" prescrevendo uns quantos químicos... Bem, li muita coisa, fiquei a conhecer o local maravilhoso onde o Mestre mora (um lugar abençoado!), imprimi algumas coisas ("Ganhando para perder...", por exemplo), e ainda descobri os blogs da Cacau! :)
Em resumo: foi uma tarde muito proveitosa, e por isso tenho que lhe agradecer.
Abraços
Cláudia
Minha querida aprendiz, Claudia:
ResponderExcluirComo pode ver, nem só de aulas o aprendiz pode se instruir e aprender.
O Alma Mater possui postagens que são verdadeiras aulas, e que são ainda mais bem entendidas se os leitores tiverem feito o curso.
Estou muito feliz por ter aproveitado a sua tarde se deleitando com a leitura do blog.
E ainda achou o blog da minha filha e sua xará!
Isto é bom demais!
Um abraço.
Gilberto.