domingo, 21 de outubro de 2012

QUE ASSIM SEJA - CAPÍTULO II



CAPÍTULO II
            A alegria e a felicidade de Roque, ainda que alheias à inveja que despertavam, tinham os seus dias contados. Lídia contraiu uma rara doença, que passou a exigir cuidados especiais, deixando Roque muito preocupado. Por isso, reduziram-se as saídas, rarearam-se os passeios. Lá fora, faltava o antigo entusiasmo por desvendar juntos os mistérios do mundo. Dentro de casa, faltavam o sorriso e os gritos de crianças.
            Lídia não podia ter filhos, e eles preferiram não contrariar a vontade divina, como justificava Roque, afastando a idéia da adoção. Mas, se não havia filhos, não lhes faltavam crianças para cuidar.
            O professor Roque, com seu jeitão sério e rigoroso, sabia como lidar com os alunos, dispensando-lhes atenção e respeito, sem discriminar os menos estudiosos e os desobedientes. Dizia ele que, o aluno comportado e estudioso quase nunca é o mais sábio e criativo.  Por pensar assim, ele buscava motivá-los, incutindo-lhes idéias que serviam para despertar os poderes criativos da turma. As crianças o adoravam, e ele se acostumou a transferir para os alunos, os sentimentos paternos de amor e carinho, que não podia dedicar a um filho.
            Lídia era uma terapeuta infantil, e vivia cercada de crianças. Muitas delas chegavam doentes e apáticas, e logo se tornavam sadias e cheias de entusiasmo. As mães se faziam suas amigas, as crianças, as filhas que ela não poderia gerar.
            Era impossível conviver com Lídia e não incorporar aquela irradiante energia, de uma vitalidade inesgotável. Tanto ela se doou, tanta energia ela passou para os outros que, um dia, a fonte secou. Mas, nem ela se lastimou com a doença, nem permitiu que Roque se abatesse.
            Eles tornaram-se ainda mais unidos, e continuaram a se amar como dois adolescentes apaixonados. Com a maior permanência em casa, eles se acostumaram a manter uma relação mais próxima com a filha dos vizinhos, uma menina de 12 anos chamada Lívia. A semelhança dos nomes aproximou as duas, e a confusão provocada propositalmente por Roque, quando chamava uma ou outra, causava muito riso e brincadeiras, fortalecendo a amizade.
            Lídia e Lívia criaram vínculos, como se fossem irmãs, apesar da diferença de idade entre as duas, de quase 20 anos.
            Roque achava muita graça ao vê-las brincando às gargalhadas como duas crianças. Elas cochichavam, trocavam segredos e adormeciam juntas. Esse convívio amoroso estendeu-se por não mais de 3 anos, quando a saúde de Lídia deu sinais de estar perdendo a batalha.
            Internações, repouso absoluto, tratamentos e acompanhamentos médicos diários acabaram por afastá-las, e seus encontros já não eram mais do que visitas formais, daquelas com horário marcado de chegada e de partida.
            Numa bela manhã de sol, Lídia se foi, não sem antes mandar chamar Lívia, e trocar com ela um abraço que parecia não ter mais fim.

6 comentários:

  1. Manter a "chama" da vida não é facil!
    Pior é vê-la se apagando...E ter que entender o sentido.

    ResponderExcluir
  2. Acontece, minha querida Andréa, que o destino tem soluções que fogem à nossa compreensão.
    Aguardemos os próximos acontecimentos.
    Um abraço.
    Gilberto.

    ResponderExcluir
  3. Meu amigo,
    Já estou ansiosa pela publicaçao que mencionou: Memórias de um Profeta.
    Deve ser realmente muito interessante.

    Abraços,
    Carla Passos

    ResponderExcluir
  4. Sem ansiedade, Carla. Por enquanto, vá curtindo o conto...e que assim seja.
    Um abraço.
    Gilberto.

    ResponderExcluir
  5. Aqui estou eu, também seguindo este «Que assim seja», e já esperando o próximo capítulo.
    Aproveitei esta tarde para ler algumas das suas postagens, e quando dei por mim já tinham passado horas.
    Achei muito interessante o texto «Holismo ou remédio não cura». Retive algumas frases, das quais destaco: "a cura só ocorre quando são eliminadas as causas que deram origem à doença". Tudo seria tão mais fácil se os médicos partilhassem destas ideias! Acho horrível que grande parte dos médicos se limite a ouvir o doente durante 5 minutos, e logo "resolva o problema" prescrevendo uns quantos químicos... Bem, li muita coisa, fiquei a conhecer o local maravilhoso onde o Mestre mora (um lugar abençoado!), imprimi algumas coisas ("Ganhando para perder...", por exemplo), e ainda descobri os blogs da Cacau! :)
    Em resumo: foi uma tarde muito proveitosa, e por isso tenho que lhe agradecer.
    Abraços
    Cláudia

    ResponderExcluir
  6. Minha querida aprendiz, Claudia:
    Como pode ver, nem só de aulas o aprendiz pode se instruir e aprender.
    O Alma Mater possui postagens que são verdadeiras aulas, e que são ainda mais bem entendidas se os leitores tiverem feito o curso.
    Estou muito feliz por ter aproveitado a sua tarde se deleitando com a leitura do blog.
    E ainda achou o blog da minha filha e sua xará!
    Isto é bom demais!
    Um abraço.
    Gilberto.

    ResponderExcluir