Meus caros leitores:
Prometo não tomar muito vosso tempo com minhas mazelas ambientais. Eu
mesmo já estou ficando cansado de tantas lamúrias, e a troco de nada.
Os governantes não estão nem aí, para as devastações de nossas
florestas e a poluição do nosso ar. O povo deve achar isto uma grande bobagem
porque o que importa é casa, comida e roupa, de preferência sempre já lavada.
Confesso-vos que, eu tenho pensado muito nos modelos de governança de
cada nação do planeta. Todos me parecem um desastre. Democracia, socialismo,
comunismo, capitalismo, monarquia, parlamentarismo, e outros estereótipos do
ato de governar.
Elegemos um governante, que vai fazer coisas que até Deus duvida. Na
eleição seguinte, o opositor a ele, pois ele sempre tenta a reeleição, é ainda
pior. A vontade é não votar, mas o nosso lado de cidadania rejeita a ideia, e
elegemos um ou outro para contrariar todos os nossos ideais nos anos seguintes.
Somos contra isto, o nosso governante é a favor, ou se deixa ser, por
interesse ou compromisso de campanha. Somos contra aquilo, que no palanque ele
também era, mas, depois de eleito, a história é outra.
Sonhamos com um mundo sem guerras, vem o governante eleito pelo povo, e
inventa uma guerra por interesses pessoais, e manda nossos filhos para a luta.
Se eles morrem são heróis, se negam o alistamento são presos e acusados de traição
à pátria.
Sonhamos com o fim das usinas nucleares, o governante, aquele que se
dizia contrário ao uso de energia nuclear, se convence que progresso pede
energia, e energia de ponta é a nuclear. Fukushima explode, a água e o ar ficam
contaminados, e o governante declara o fim da era nuclear. Aplaudido pelo povo
inocente, o culpado se faz de herói. Tempos depois, sorrateiramente, atendendo
interesses de indústrias, o programa é reativado. As águas ainda contaminadas
matam os peixes e fazem dos pescadores cúmplices do assassinato do povo que
ainda confia no governante, que garante que não há risco de contaminação.
Somos defensores das nossas matas, queremos preservar a Amazônia,
desejamos os pecuaristas e agroindustriais à distância. Eles se elegem, se
associam ao governante, e lá estão se instalando em áreas incendiadas e em
matas devastadas por motosserras. Fogo na mata, correntes no chão arrastando a vegetação,
dinheiro no bolso da justiça e do ladrão.
Somos defensores dos nossos rios, maravilhosos e caudalosos, como
aprendemos na escola, e o governante que disse amar o São Francisco, manda
fazer a transposição para irrigar as plantações das agroindústrias. Se o rio
está na Amazônia, o governante faz uma, duas e dez usinas hidrelétricas,
desviando cursos de rio e derrubando árvores.
Dizem até que árvore demais é besteira, não ajuda em nada o clima do
planeta. O que importa mesmo são as águas do oceano, e são elas que mantêm o
clima saudável. Mas, os oceanos estão repletos de porcarias, inclusive do óleo
que acabou de ser lançado por um petroleiro, uma plataforma ou uma tubulação
que se rompeu. Mas, quem se importa, a Petrobrás é orgulho nacional, é a sua
poluição é parte dos riscos de um trabalho que orgulha a nação.
Lixo, fumaça, rejeitos industriais, agrotóxicos, venenos, serras
elétricas, poluição no ar, no mar, na cidade e até no campo, tudo em nome do
progresso. E ai daquele que abrir a boca para falar mal desse pseudoprogresso!
Será perseguido pelos empresários, que são os paladinos do desenvolvimento da
nação. Será agredido pelos operários que só pensam em manter seus empregos,
ainda que à custa de doenças e mortes.
O governante que eu elejo é o meu maior inimigo. Ele faz cerca de 90%
das coisas que eu detesto, e faz mal os 10% restantes. Ele me condena por
coisas banais, e não é capaz de evitar que os malandros oficiais assaltem os
cofres públicos.
Eu escolho alguém para construir uma nação ecologicamente correta, e
elejo um governante que se cerca de predadores ambientais que ridicularizam os
meus ideais. Se me arrependo da escolha feita, eu não posso voltar atrás. Se na
eleição seguinte, resolvo fazer justiça com as próprias mãos não digitando o
número dele ou do candidato do seu partido, acabo escolhendo outro inimigo que
destruirá meus sonhos ambientalistas pelos próximos anos.
Se eu chamo a Polícia e denuncio esses crimes, acabo indo preso. Se
calo a boca, me acho omisso. Se eu quero dar exemplos de líderes estrangeiros,
eles são do mesmo time vencedor que corrompe os juízes, para anular meu gol e
assinalar o pênalti inexistente que acabará com a minha festa.
Lembro, agora, daquela música do Chico Buarque, composta na época da
ditadura – “Chame o ladrão, chame o ladrão!”.
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