sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

OS SEMEADORES DO AMANHÃ - CAPÍTULOS FINAIS

CAPÍTULO VINTE E CINCO
Gibran defendia suas ideias com entusiasmo, e, vez ou outra, era interrompido com aplausos de uma plateia atenta e participativa. Os diretores não se sentiam muito confortáveis, mas nada comparado com os incômodos das autoridades, que se mexiam nas cadeiras e retorciam as mãos, denunciando a aflição que lhes ia na alma.
A escola precisa ser aberta, livre e democrática. O professor tem que rever seus métodos, e a Secretaria precisa mudar o processo e a forma de lidar com os alunos. As autoridades não podem continuar insistindo em passar adiante matérias ultrapassadas, que não mais correspondem à realidade moderna. Os pais serão forçados a reconsiderar esta ansiedade de querer fazer de seus filhos senhores doutores, famosos e ricos, trocando-a por uma visão mais equilibrada de torná-los sábios e felizes.
A sociedade precisa parar de medir o valor pessoal pela riqueza, ou pela fama e poder. Cada qual vale pelo que é, e tem o seu próprio valor. Temos missões específicas a cumprir, que são nossas, e que só nós devemos cumpri-las.
Temos de aprender a sintonizar a mente com a Fonte inesgotável de saber e poder, como fizeram os grandes mestres, em diversas áreas distintas, como Einstein, Shakespeare, Pitágoras, Platão, Beethoven, Da Vinci, Wagner, Miguel Ângelo e tantos outros.
No final de sua fala, Gibran deixou uma pergunta no ar: “até quando vamos continuar a nos enganar, fazendo de conta que assim como está vamos atingir um estágio em que as escolas formarão cidadãos que acabarão com a miséria e a violência?” Todos nós temos o dever de buscar resposta para esta pergunta, que há de definir o futuro do nosso país.
Num último arroubo de entusiasmo, ele desafiou os pais a respeitarem as opiniões de seus filhos, e não os tratarem como mercadorias que terão um preço quando adultos. “Filhos respeitem seus pais, pois não é deles a culpa pelo vazio de suas vidas. Mestres respeitem sua missão, pois nada é mais sagrado do que mostrar o caminho a um discípulo. Governantes respeitem seus cidadãos, lembrando que eles não precisam de favores, mas de oportunidades e de senso de justiça”.
– Senhores e senhoras, agradeço a atenção de todos. Não me cobrem soluções, pois não vim aqui para trazer respostas prontas, mas para levantar problemas. Espero que se ponham a buscar respostas para os tantos problemas levantados. Que surjam não as minhas soluções, nem as suas, nem as deles, mas as nossas, que sejam ideais comuns de todos nós.
– Meditem sobre o que lhes falei, e não se desculpem e nem acusem. Nós somos a solução, mas também o problema. Nós somos a mudança, mas também a estagnação e a omissão. Nós somos o ontem, mas precisamos nos transformar no amanhã. Não somos vítimas e nem culpados, nós somos os semeadores do amanhã.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
A plateia, por alguns segundos, manteve-se em silêncio. As mentes precisavam de um tempo para se refazer do impacto sofrido pelas palavras do nosso semeador. A sensação é que o salão, de repente, ficou vazio, ainda que nele permanecesse todo aquele povo inerte.
Aos poucos, como a um sinal convencionado, começaram os aplausos, que foram crescendo até se tornarem ensurdecedores. Das alas mais jovens, vinham gritos e assovios. Os mais adultos contentavam-se em bater palmas.
As pessoas, sem cessar os aplausos, começaram a se levantar e caminhar em direção ao palco. Todos queriam falar, opinar, serem ouvidas. O palestrante foi cercado e cumprimentado, e, por muitos, abraçado.
As autoridades fizeram menção de se levantar, mas a mediadora reassumiu o comando dos trabalhos, solicitando a todos que voltassem para seus lugares e permanecessem em silêncio. Ela agradeceu ao nosso semeador pelo brilhantismo de sua fala e abriu os debates em torno das questões abordadas.
As perguntas se sucediam, e eram respondidas com esclarecimentos e sugestões. A plateia, a cada comentário, aplaudia de pé, enquanto as autoridades se entreolhavam, sem saber o que fazer.
Os pais de alunos exigiam reformas, o prefeito e seus secretários preocupavam-se com a próxima eleição. O governante e seu secretariado contavam os votos, buscando identificar o número de jovens com mais de 16 anos.
Apreciando aquela cena, os nossos semeadores sorriam, conscientes que faziam o seu papel de semear ideias em terreno fértil. As autoridades estampavam um sorriso amarelo, quase que assumindo todos os erros apontados por Gibran.
O secretário de educação, convidado a dar o seu parecer, abriu a boca, mas teria sido melhor se tivesse permanecido calado. Falou pouco, e desagradou a muitos. Ele deu voltas, rodeou os problemas e não teve coragem de apontar soluções.
O corporativismo no serviço público é tão obsessivo que, mesmo não sendo acusado, o indivíduo se defende. Tudo em nome da classe política, ou, talvez, do que se convencionou denominar ética profissional.
A ética, que tanto se alega, quando se cobra uma opinião de um governante ou político, não passa de um artifício de quem tem telhado de vidro, e que tem medo de atirar um cisco que seja no telhado do vizinho.
Assim fez o nosso Secretário. Desculpou-se como se fosse ele o acusado. Desculpou, da mesma forma, o Prefeito. E, por fim, quis tirar a culpa das autoridades responsáveis pelo ensino no país. Ora, então quem deve ser chamado às falas? Quem deve responder aos reclamos populares?
Enquanto nos ocupamos dessas divagações, o Prefeito pediu a palavra. E, naquele tom discursivo, típico de campanhas e palanques, prometeu uma reforma municipal no ensino. O povo gritou o seu nome, e ele acenou para a plateia. Os nossos semeadores sorriram, certos que no dia seguinte a promessa cairia no esquecimento.
Havia chegado a hora dos agradecimentos finais e das despedidas. A plateia aplaudiu com toda educação a todas autoridades, mas reservou um entusiasmo maior para os nossos semeadores.
Muitos saíram-lhe ao encalço, mal eles deram os primeiros passos em direção à rua. No outro canto, o prefeito e sua trupe saíam de mansinho, quase sem ser notados. Com eles, lá se foram a incompetência administrativa e as tramoias políticas.
Nossos semeadores trataram de adubar a semente que haviam acabado de plantar, indo em direção ao Prefeito, estendendo-lhe a mão e parabenizando-o pela atitude corajosa de assumir publicamente a reforma no ensino da cidade.
O Prefeito agradeceu, o Secretário de Educação se encolheu. No agradecimento de um e no silêncio do outro escondiam-se os segredos das promessas e das incompetências para cumpri-las. Muitas ações não se concretizavam por absoluta falta de vontade política, que pode ser entendida como desconhecimento ou descaso pelos interesses do cidadão.
O perfil do político é este mesmo, ele só tem olhos para sua própria imagem, que costuma projetar num espelho mental, diante do qual vive a se admirar. E quando algo não ocorre ao jeito dele, é um tal de articulações, acordos, manipulações e especulações, em busca de manter o poder a qualquer custo.
O que importava é que as sementes haviam sido lançadas em terreno fértil, levando os alunos a cercarem o casal, com ideias e propostas de mudanças. Os diretores e professores, inspirados naquelas propostas, começaram a projetar planos a serem discutidos no dia seguinte.
Os fatos se repetem, de tempos em tempos. Os governantes perdem o trem da história, só preocupados com votos, eleição e distorcidos princípios de fidelidade partidária. Enquanto isto, a sociedade traça o seu destino, e deixa para os políticos a conta a ser paga.

CAPÍTULO XXVII
No ano seguinte, um novo Prefeito foi eleito, graças a compromissos sérios, estabelecidos por pressão do eleitorado. Por trás da relação de cobranças, encontrava-se o casal de semeadores, assessorando a população e orientando todos os candidatos a assumirem compromissos que dessem novas esperanças aos seus eleitores.
Não podemos dizer que venceu o melhor, mas pode-se afirmar que os três candidatos mostraram-se conscientes dos compromissos assumidos em seus discursos, deixando para o povo a escolha de sua preferência.
Nos quatro anos seguintes, a cidade progrediu como nenhuma outra no país, tornando-se referência como padrão de administração pública. A educação municipal passou a ser seguida pelos quatro cantos do país, os novos métodos de assistência social e os elevados padrões de saúde foram copiados pelas capitais dos estados, chegando a Brasília e aos Ministérios.
As autoridades queriam saber o que acontecera com aquela pequena cidade, e quem fora responsável pelos novos métodos de administração pública. Mas, quando procuraram os semeadores, não os localizaram. Eles desapareceram, e ninguém sabia informar o destino que haviam tomado.
A história daquela cidade virou uma lenda, que inspirou as demais a seguirem seus passos. Os inspiradores dos novos métodos não foram mencionados, pois os políticos tomaram seus espaços, e se vangloriavam de suas capacidades administrativas.
Quem se importava com um casal simples, que não almejava distinção e glórias? Quem seria capaz de mencionar seus nomes, como verdadeiros responsáveis por todas as benfeitorias celebradas pelas lideranças políticas? O bom senso e os interesses políticos recomendavam o silêncio, e logo tudo caiu no esquecimento.
CAPÍTULO XXVIII
Gibran e Helga haviam cumprido a primeira parte de sua missão, no Brasil. Muito mais havia a realizar, e eles não podiam perder tempo. Assim, embarcaram no tempo.
CAPÍTULO XXIX
Quando se procura relatar a história da nação brasileira, há um vazio no preâmbulo que trata do momento exato e das razões que fizeram com que a nação desse um salto para o futuro. Milagre brasileiro, era como as nações estrangeiras tentavam justificar o ocorrido.
CAPÍTULO XXX
Nada de milagres! Nada de mistérios! Um pouco de mistério para quem não crê no poder dos Mestres, não se pode negar. A verdade, porém, para quem sabe do poder do casal, além deste narrador, e que são poucos, é que tudo foi obra dos semeadores do amanhã.
FIM






4 comentários:

  1. Chegamos ao fim de Semeadores do Amanhã e ao mesmo tempo descobrimos que ‘’ Gibran e Helga haviam cumprido a primeira parte de sua missão, no Brasil... e embarcaram no tempo’’. Acaba-se a história e a saga desses dois desbravadores, mas fala-se que essa foi a primeira parte da missão aqui no Brasil. Então, haveremos de ter outra aqui no futuro?
    O enfoque final foi no aspecto educação, mas com uma abrangência que envolvia mudanças de paradigmas na administração pública, com reflexos nas áreas de assistência social e saúde. Eles conseguiram plantar e tiveram a oportunidade de ver a germinação, o crescimento, a floração e os frutos. Depois foram-se embora, saindo, como se diz por aí, de fininho.
    Vimos nos noticiários agora no final de ano que o Governo está promovendo as modificações na Base de Formação Curricular para o Ensino Fundamental e Médio. São propostas que tentam inovar, mas distantes do que propunha Rudolf Steiner e de tudo aquilo contido no discurso de Gibran.
    E nos dias de hoje constatamos que a distância em que nos encontramos desse ideal proposto por Gibran é praticamente inatingível, uma proposta quase utópica. Nosso modelo educacional perdeu conteúdo ao longo dos anos devido a uma proposta de um ensino sem muita cobrança, não reprovando quem não foi capaz, deixando de preservar nossa língua pátria ao tolerar expressões errôneas do tipo ‘’nóis vai’’, criando alunos incapazes de ler sem compreender.
    Nós que aqui ficamos podemos fazer parte desse processo de transformação de nosso país, muito embora saibamos que há uma estrada a percorrer.
    Talvez devêssemos pedir: Volte Helga! Volte Gibran!

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  2. Meu caro, Avelino:
    Não esqueçamos que, Gibran e Helga são nossos semeadores, e não colheitadores.
    A missão deles foi cumprida, uma outra ficará por conta dos que vierem depois, e seguirem o que eles deixaram semeado.
    Agora, a próxima vez que ouviremos falar deles será num tempo muito distante, em que serão os construtores de um novo mundo.
    Nós teremos de ter paciência e aguardar novas notícias do casal.
    Até lá, eu trarei algumas histórias que falam de situações misteriosas e de outros planos.
    Aguarde.
    Abraço.
    Gilberto.

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  3. E assim as histórias, os caminhos, os novos descobrimentos se fazem. E se constrói a Educação do futuro.

    Esperemos novas histórias destes semeadores / construtores amados.

    Um abraço a todos
    Jorge Vicente

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  4. Sim, meu querido Jorge Vicente, a vida é assim mesmo, hoje, tudo parece muito claro, ontem só imaginações, amanhã, meras recordações.
    Quem aprendeu com a sua vida, está pronto para uma próxima encarnação, quem se preocupou mais com a vida alheia, vai ter de refazer muitos e infinitos caminhos.
    Gibran e Helga percorrerão muitas realidades e experiências desconhecidas, antes de voltarem a se manifestar sobre seus novos mundos.
    A paciência será nossa companheira, enquanto o futuro se materializa em nosso caminho.
    Prometo continuar a relatar-lhes a história do casal, em sua próxima e derradeira aventura.
    Enquanto isto, vamos relembrar histórias que falam de Planos bem mais sutis do que este nosso.
    Abraços.
    Gilberto.

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